DEU NO VALOR ECONÔMICO
A campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff, fez uma inflexão radical: a troca de posições entre a criatura e o criador. Dilma sai do canto e tenta dominar o centro do palco; o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa para ela o papel protagonista e vai exercitar sua veemência no bastidor. O estilo do presidente, depois de dar à candidata todos os 47% de votos válidos que recebeu no primeiro turno, perdeu a dose do limite e passou a levar risco ao projeto. O estilo Dilma estava subdimensionado, deixando-a com a imagem de alguém que continuaria a auxiliar o presidente, e não ser a presidente.
Mas a mudança não significa que Lula está fora da campanha, como pareceu nesta primeira semana do segundo turno. Foi bem estruturado para ele outro papel. Será usado onde ainda pode render muito tanto novos votos como manter os já recebidos: comícios no Nordeste, na periferia das grandes cidades, aparições no programa eleitoral gratuito de uma maneira subalterna a Dilma - como na cena em que a entrevistou e a ouviu como aluno bem aplicado - e não o contrário, além de continuar com discursos e inaugurações.
O presidente, com o susto de não ter ganho a eleição do primeiro turno, teve que, primeiro, dar uma reanimada no governo, porque passou a temer a derrota e depois não ter mais tempo, bem como seus ministros, para concluir iniciativas. Deu uma chamada geral e vários ministérios estão acordando aos poucos do sonho. Depois, está trabalhando intensamente ao telefone, em articulações políticas nos Estados tendo em mãos as planilhas de votação no primeiro turno.
Noite dessas, na semana passada, ficou até a meia-noite cobrando a ação dos aliados e falou com vários políticos no Mato Grosso, onde Serra foi bem votado.
Exigiu mais trabalho também do Rio e de Brasília, locais onde a candidata Marina Silva teve uma votação expressiva. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já foi aos templos evangélicos explicar as posições da candidata sobre o aborto, o governador reeleito Sérgio Cabral fez gravações para o programa de televisão falando diretamente ao eleitorado do Rio.
Nos Estados onde o adversário ainda disputa o segundo turno, o que torna o engajamento dos cabos eleitorais mais efetivo, Lula irá pessoalmente para manter acesa a fusão da sua imagem à da candidata e continuar dando sua palavra de que Dilma tem capacidade para ser presidente.
O comando da campanha introduziu a ideia do elemento surpresa, tanto no comportamento de Dilma quanto no de Lula, para surpreender o adversário do PSDB, José Serra.
A assertividade do debate de segunda-feira foi resultado disso. Dilma foi instada a assumir a titularidade da candidatura, para o bem e para o mal. Enfrentará a discussão dos temas espinhosos diretamente, sem ter Lula como escudo.
O presidente está no comando dessa mudança, acha que foram todos arrogantes no primeiro turno e vestiram a faixa antes da hora mas, principalmente, a avaliação do Planalto coincide 100% com análise do instituto Datafolha, publicada também na segunda-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo", segundo a qual o caso Erenice - a mais próxima auxiliar de Dilma Rousseff em todos os cargos que ocupou no governo, indicando-a sua substituta como ministra chefe da Casa Civil -, tirou mais votos da candidata do PT do que qualquer outro escândalo descoberto no período da campanha.
Nem mesmo a quebra de sigilo fiscal de autoridades do PSDB pela Receita Federal ou a tentativa de contratar espionagem para elaboração de dossiês contra o adversário, tiveram o efeito do caso Erenice. A ação da Receita poderia ser jogada mais para a responsabilidade do governo do que do PT ou da candidata. No caso do dossiê de espionagem, a candidata poderia utilizar o argumento de que uma campanha trabalha com milhares de pessoas e ela não pode ter o controle de tudo. Na avaliação do governo, o dossiê serviu mais para afetar as relações de Dilma com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT-MG) que seria o responsável pelo grupo de profissionais que articulava a espionagem, do que para qualquer outro efeito.
Nos dois casos, ela poderia dizer que não tinha nada com isso, embora tivesse ficado mais difícil, sendo a responsável legal e chefe da sua própria campanha perante a lei, dizer que não sabia de algumas iniciativas do grupo de apoio administrativo.
Na avaliação que foi feita nas assessorias próximas ao presidente, porém, o caso Erenice foi campeão da perda de votos. Dilma, segundo esta análise, subestimou o caso Erenice em todos os ângulos pelos quais foi analisado. Tanto nas irregularidades e atos de corrupção, em si, como da rede por ela montada com familiares e amigos, tendo como epicentro a Casa Civil, onde despachava Dilma e novamente muito perto de onde despacha o presidente Lula, como foi o mensalão.
Não poderia ter sido pior, também, porque não há ninguém mais próximo dos problemas vividos por Dilma no governo do que Erenice, uma parceria que sobreviveu a inúmeros avisos: houve o dossiê do cartão corporativo contra Ruth Cardoso, a mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e as convocações a Lina Vieira ex-secretária da Receita, para dar explicações na Casa Civil sobre investigações do fisco, para falar de dois em que Erenice apareceu como agente da ministra-chefe da Casa Civil.
Lula, primeiro, ouviu da sua candidata que o caso Erenice não tinha a dimensão que a campanha adversária queria demonstrar. Depois, veio a nota oficial em que a então ministra Erenice ultrapassou o tom para alguém que sabia a extensão das denúncias que ainda poderiam surgir. Os dias foram se sucedendo e com eles novas denúncias, novas descobertas. Aquilo que, no Palácio, se chamou de "parentada da Erenice", teria sido o que mais sensibilizou o eleitorado.
Lula acha que agiu certo, a demissão de Erenice foi a decisão mais rápida que tomou em todos os casos ocorridos no governo ao longo dos oito anos, mas não o suficiente para evitar que Dilma se enrolasse como gestora. Só se aquilo não tivesse acontecido.
Marina Silva já tem ponto de partida para a disputa eleitoral de 2014, em que deve concorrer novamente à Presidência da República. Em janeiro sua base passa a ser o Instituto de Desenvolvimento Sustentável que criou discretamente, com sede em São Paulo. Cidade onde passará a morar e trabalhar.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
A campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff, fez uma inflexão radical: a troca de posições entre a criatura e o criador. Dilma sai do canto e tenta dominar o centro do palco; o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa para ela o papel protagonista e vai exercitar sua veemência no bastidor. O estilo do presidente, depois de dar à candidata todos os 47% de votos válidos que recebeu no primeiro turno, perdeu a dose do limite e passou a levar risco ao projeto. O estilo Dilma estava subdimensionado, deixando-a com a imagem de alguém que continuaria a auxiliar o presidente, e não ser a presidente.
Mas a mudança não significa que Lula está fora da campanha, como pareceu nesta primeira semana do segundo turno. Foi bem estruturado para ele outro papel. Será usado onde ainda pode render muito tanto novos votos como manter os já recebidos: comícios no Nordeste, na periferia das grandes cidades, aparições no programa eleitoral gratuito de uma maneira subalterna a Dilma - como na cena em que a entrevistou e a ouviu como aluno bem aplicado - e não o contrário, além de continuar com discursos e inaugurações.
O presidente, com o susto de não ter ganho a eleição do primeiro turno, teve que, primeiro, dar uma reanimada no governo, porque passou a temer a derrota e depois não ter mais tempo, bem como seus ministros, para concluir iniciativas. Deu uma chamada geral e vários ministérios estão acordando aos poucos do sonho. Depois, está trabalhando intensamente ao telefone, em articulações políticas nos Estados tendo em mãos as planilhas de votação no primeiro turno.
Noite dessas, na semana passada, ficou até a meia-noite cobrando a ação dos aliados e falou com vários políticos no Mato Grosso, onde Serra foi bem votado.
Exigiu mais trabalho também do Rio e de Brasília, locais onde a candidata Marina Silva teve uma votação expressiva. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já foi aos templos evangélicos explicar as posições da candidata sobre o aborto, o governador reeleito Sérgio Cabral fez gravações para o programa de televisão falando diretamente ao eleitorado do Rio.
Nos Estados onde o adversário ainda disputa o segundo turno, o que torna o engajamento dos cabos eleitorais mais efetivo, Lula irá pessoalmente para manter acesa a fusão da sua imagem à da candidata e continuar dando sua palavra de que Dilma tem capacidade para ser presidente.
O comando da campanha introduziu a ideia do elemento surpresa, tanto no comportamento de Dilma quanto no de Lula, para surpreender o adversário do PSDB, José Serra.
A assertividade do debate de segunda-feira foi resultado disso. Dilma foi instada a assumir a titularidade da candidatura, para o bem e para o mal. Enfrentará a discussão dos temas espinhosos diretamente, sem ter Lula como escudo.
O presidente está no comando dessa mudança, acha que foram todos arrogantes no primeiro turno e vestiram a faixa antes da hora mas, principalmente, a avaliação do Planalto coincide 100% com análise do instituto Datafolha, publicada também na segunda-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo", segundo a qual o caso Erenice - a mais próxima auxiliar de Dilma Rousseff em todos os cargos que ocupou no governo, indicando-a sua substituta como ministra chefe da Casa Civil -, tirou mais votos da candidata do PT do que qualquer outro escândalo descoberto no período da campanha.
Nem mesmo a quebra de sigilo fiscal de autoridades do PSDB pela Receita Federal ou a tentativa de contratar espionagem para elaboração de dossiês contra o adversário, tiveram o efeito do caso Erenice. A ação da Receita poderia ser jogada mais para a responsabilidade do governo do que do PT ou da candidata. No caso do dossiê de espionagem, a candidata poderia utilizar o argumento de que uma campanha trabalha com milhares de pessoas e ela não pode ter o controle de tudo. Na avaliação do governo, o dossiê serviu mais para afetar as relações de Dilma com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT-MG) que seria o responsável pelo grupo de profissionais que articulava a espionagem, do que para qualquer outro efeito.
Nos dois casos, ela poderia dizer que não tinha nada com isso, embora tivesse ficado mais difícil, sendo a responsável legal e chefe da sua própria campanha perante a lei, dizer que não sabia de algumas iniciativas do grupo de apoio administrativo.
Na avaliação que foi feita nas assessorias próximas ao presidente, porém, o caso Erenice foi campeão da perda de votos. Dilma, segundo esta análise, subestimou o caso Erenice em todos os ângulos pelos quais foi analisado. Tanto nas irregularidades e atos de corrupção, em si, como da rede por ela montada com familiares e amigos, tendo como epicentro a Casa Civil, onde despachava Dilma e novamente muito perto de onde despacha o presidente Lula, como foi o mensalão.
Não poderia ter sido pior, também, porque não há ninguém mais próximo dos problemas vividos por Dilma no governo do que Erenice, uma parceria que sobreviveu a inúmeros avisos: houve o dossiê do cartão corporativo contra Ruth Cardoso, a mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e as convocações a Lina Vieira ex-secretária da Receita, para dar explicações na Casa Civil sobre investigações do fisco, para falar de dois em que Erenice apareceu como agente da ministra-chefe da Casa Civil.
Lula, primeiro, ouviu da sua candidata que o caso Erenice não tinha a dimensão que a campanha adversária queria demonstrar. Depois, veio a nota oficial em que a então ministra Erenice ultrapassou o tom para alguém que sabia a extensão das denúncias que ainda poderiam surgir. Os dias foram se sucedendo e com eles novas denúncias, novas descobertas. Aquilo que, no Palácio, se chamou de "parentada da Erenice", teria sido o que mais sensibilizou o eleitorado.
Lula acha que agiu certo, a demissão de Erenice foi a decisão mais rápida que tomou em todos os casos ocorridos no governo ao longo dos oito anos, mas não o suficiente para evitar que Dilma se enrolasse como gestora. Só se aquilo não tivesse acontecido.
Marina Silva já tem ponto de partida para a disputa eleitoral de 2014, em que deve concorrer novamente à Presidência da República. Em janeiro sua base passa a ser o Instituto de Desenvolvimento Sustentável que criou discretamente, com sede em São Paulo. Cidade onde passará a morar e trabalhar.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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