quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estancar a sangria:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O tom mais agressivo da candidata oficial Dilma Rousseff no primeiro debate do segundo turno e nas entrevistas que vem dando pode ser explicado pela constatação de que ela vem perdendo votos desde as últimas semanas de campanha e continuava perdendo no início do segundo turno

O empresário e consultor Paulo Milet utilizou três conjuntos de informações das pesquisas Datafolha para chegar a essa conclusão: a última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado, dia 9, uma semana depois do primeiro turno; uma pesquisa anterior, divulgada no sábado, dia 2, véspera das eleições, sobre o segundo turno, além do resultado oficial apurado.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior do primeiro turno, em votos totais, com os votos de Marina Silva indo para um dos dois candidatos ou para os indecisos, temos o seguinte resultado: a candidata petista cresce 1 ponto, de 47% para 48%, e o candidato Serra cresce 12 pontos, de 29% para 41%.

Dos 16% de Marina, portanto, 3 pontos vão para os indecisos. Por regiões, a situação fica a seguinte: no Sudeste, Dilma permanece igual, com 41%, e Serra cresce 13 pontos, de 31% para 44%, indo 6 pontos de Marina para os indecisos.

Na região Sul, Dilma cresceu 3 pontos, indo de 40% para 43%, e Serra cresce 10 pontos, de 38% para 48%, com os 13% de Marina na região distribuídos para os dois candidatos.

No Nordeste, Dilma cresceu 1 ponto, de 61% para 62%, e Serra cresceu 12 pontos, de 19% para 31%, com os 12% de Marina indo para os dois candidatos, e 1 ponto dos indecisos indo para um dos dois.

No Norte/Centro-Oeste, Dilma permaneceu no mesmo, com 41% dos votos, e Serra cresceu 13 pontos, de 31% para 44%. A candidata Marina Silva teve nessa região 18% dos votos, o que significa que 5% foram para os indecisos.

Sua conclusão é lógica: se pelo Datafolha Serra recebeu 51% dos 16% dos votos totais de Marina (pouco mais de 8%) e cresceu mais do que isso, quer dizer que Serra continuou tirando efetivamente votos de Dilma ou dos indecisos nessa primeira semana pós-eleições, inclusive na Região Nordeste.

Nos votos válidos, Serra cresceu 15 pontos, e Dilma, 4 pontos, perfazendo o total de 19% de Marina Silva.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior para o segundo turno, vemos o que mudou em uma semana. Dos votos totais, Dilma caiu 4 pontos, de 52% para 48%, e Serra cresceu 1 ponto, indo de 40 para 41%.

Já nos votos válidos, Dilma caiu 2,5% — de 56,5% para 54% — , e Serra cresceu 2,5%, de 43,5% para 46%. Pelos votos válidos, 2,5 milhões de eleitores que estavam dispostos a votar em Dilma no segundo turno viraram para Serra em uma semana.

Comparando a pesquisa atual com os resultados oficiais, chega-se à conclusão de que nos votos totais Dilma cresceu 5,2 pontos, de 42, 8 % para 48%, e Serra, 11,2 pontos, indo de 29,8% para 41%.

Como Marina obteve 18,6% dos votos totais, quer dizer que 2,2 pontos foram para os indecisos.

Já nos votos válidos, Dilma cresceu 7 pontos, de 47% para 54%, e Serra, 13 pontos, indo de 33% para 46%. Marina teve 20% de votos válidos, que foram divididos entre os dois candidatos finalistas.

Tudo indica, portanto, que a queda progressiva de Dilma nas duas semanas anteriores à eleição continuou na semana pós-eleição.

A diferença de Dilma para Serra está encurtando, e por isso a candidata oficial tentou estancar suas perdas com a atitude mais agressiva no debate da TV Bandeirantes.

Existem indecisos e ausentes que podem decidir a eleição. A equipe da PUC do Rio, coordenada pelo cientista político Cesar Romero Jacob, chegou à conclusão de que “uma das principais causas que levaram as eleições para o segundo turno” foi o alto grau de abstenção, votos em branco e nulos, nas Regiões Norte, Nordeste e norte de Minas, áreas onde a candidata Dilma Roussef obteve suas mais altas votações.

Pelo mapa da distribuição dos votos pelo país, que os especialistas da PUC finalizaram neste fim de semana, pode-se observar que o “não voto” chegou mesmo a representar 45% do total de eleitores em algumas microrregiões do Amazonas, do Maranhão, do Ceará e de Minas Gerais.

Em outras regiões, os números variaram entre 14,8% e 36,8%, sendo que as regiões Sul e Sudeste foram as que tiveram os índices mais baixos.

A análise registrada aqui do cientista político Cesar Romero Jacob sobre a falta de estrutura política de Marina Silva para firmarse como uma líder nacional com vistas a futuras eleições foi contestada por vários leitores, entre os quais destaco dois.

O cientista político Nelson Paes Leme acha que a agenda ambiental da candidata verde tende a se aprofundar nas próximas eleições.

Lembrando o filósofo contemporâneo inglês John Gray, ele destaca o caráter ilusório daquilo que consideramos “progresso”.

Paes Leme diz que esse é “o tema do século que apenas desponta. Quem sabe do Milênio. Ainda em 2012 teremos no Rio a Rio Mais Vinte, em cima das eleições municipais”.

Para ele, o eleitorado de Marina nos grandes centros, escolarizado e mais bem informado do que nos rincões onde ela teve inexpressiva votação, certamente levou essa agenda e essas perplexidades em consideração ao sufragar seu nome com quase 20 milhões de votos. “E a tendência é ela voltar muito mais forte nas próximas eleições.” Já o leitor Marcelo Paes de Oliveira discorda do paralelo feito pelo deputado federal eleito do Partido Verde Alfredo Sirkis entre a fraca votação do PV nesta eleição e a do PT na eleição de 1989, argumentando que os votos dela (Marina) “foram muito além das fronteiras deste partido”.

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