Frustrou-se a grande reforma ministerial prometida pela presidente Dilma Rousseff, que configuraria o que chegou a ser previsto como um “novo começo” ou “o primeiro ano” do seu governo. Cujo primeiro escalão seria bem menor e composto por nomes da escolha pessoal dela, inclusive os representativos das legendas não de esquerda da base aliada, inclusive o PMDB, que apenas os chancelariam. E tal reforma seria facilitada pelo desgaste dos partidos com as demissões de ministros em face das denúncias de irregularidades ou “mal feitos”. Mas o “novo começo”, mesmo com o crescimento da popularidade de Dilma – favorecido pela soma dos indicadores econômicos do dia a dia com a competente instrumentalização das referidas demissões – defrontou-se com um obstáculo poderoso, tão logo emitiram-se sinais de tentativas de implementação. O ex-presidente Lula, às advertências feitas à sucessora sobre os riscos de desmonte da base parlamentar governista, adicionou a recomendação de que pequenas mudanças ou “ajustes” operacionais teriam de respeitar as alianças montadas para a eleição dela e sobretudo os limites de um governo de continuidade.
É imaginável que Dilma Rousseff – juntando o voluntarismo que em grande medida mantém ao empenho de afirmar a imagem de gestora que buscar afirmar – tenha pensado em confrontar o antecessor e padrinho. Logo se deu conta, porém, da inviabilidade disso. Por um conjunto de fatores – da indisputável (por ela) liderança de Lula no PT até a enorme dependência que tem em relação a ele para seu relacionamento no Congresso. Assim, o possível seria, adiando ou descartando de vez a ideia de “novo começo” do governo, forçar uma ampliação do controle do Executivo além dos limites definidos por Lula, em troca do pleno reconhecimento do comando dele sobre as questões e as relações político-partidárias e eleitorais.
Há fortes evidências do acerto em torno dessa troca. Quanto à cota de Dilma, ao invés da reforma do Ministério prometida, a persistência dos 38 titulares e da mesma representação partidária, mas com o aumento do poder de decisão de secretários-executivos de confiança da presidente e vinculados diretamente ao Palácio do Planalto. Acerto (entre os dois comandantes) que começa a gerar e pode desdobrar sérios conflitos com as direções dos partidos. E a centralização dilmista, bem referenciada pelo salto de Maria das Graças Foster à presidência da Petrobras, vai envolvendo outros cargos diretivos em diversos ministérios e nas estatais. E sendo justificada por “critérios técnicos”, que via de regra privilegiam quadros do PT, reduzindo o peso dos outros partidos aliados.
Na outra ponta do acerto, consagra-se – com o completo respaldo da presidente – o papel de Lula no comando da definição e do encaminhamento de candidatos e de alianças para as eleições municipais de 2012, estreitamente vinculadas as mais importantes aos objetivos do lulopetismo no pleito presidencial de 2014. Emblemático desse respaldo foi o deslocamento de Dilma para evento realizado no Rio em louvor do ministro da Educação Fernando Haddad, que deixava o cargo, num ato promovido para a projeção da candidatura dele a prefeito de São Paulo. Esse comando, que se estende a decisões sobre a composição do Ministério, é incontrastável também no PT. No qual, até o mensalão Lula tinha de dividi-lo com José Dirceu, mas que agora é exercido com tal força que ele está conseguindo encaminhar com sucesso uma aliança com o “reacionário” Gilberto Kassab em favor de Haddad, empurrada pela goela abaixo dos petistas paulistanos.
Jarbas de Holanda é jornalista
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