Em apenas 25 dias úteis, a entrada líquida de moeda estrangeira no Brasil atingiu US$ 15,2 bilhões, dos quais US$ 3,8 bilhões apenas nos três primeiros dias de fevereiro (veja o gráfico).
É o que mostram as estatísticas sobre o movimento de câmbio divulgadas nesta quarta-feira pelo Banco Central. Apenas o afluxo líquido em janeiro (US$ 7,3 bilhões) é o maior desde setembro passado. Essa enxurrada de capitais tem duas classes de explicações: as externas e as internas.
Antes de tudo, há essa forte revoada de dólares em direção ao Brasil porque sobram recursos no mercado internacional, especialmente depois que o Banco Central Europeu injetou meio trilhão de euros em empréstimos de longo prazo para os bancos. Graças à fartura de liquidez, grande número de empresas nacionais (a começar pela Petrobrás, que fechou há uma semana lançamento de títulos de US$ 7 bilhões) está elevando a captação de recursos no mercado internacional (veja o Confira).
Em segundo lugar, parte desse volume toma o rumo do Brasil porque a economia global, sobretudo a dos países ricos, continua prostrada pela forte crise global. É o que explica a importante entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (de US$ 66,6 bilhões apenas em 2011).
Há outras razões pelas quais o Brasil passou a atrair recursos externos. A primeira delas é que a economia brasileira, quando comparada com outras do Grupo dos 20 (G-20), tem um dos melhores prontuários. Deve crescer em 2012 algo em torno dos 3,0%; apresenta nível historicamente baixo de desemprego, de apenas 4,7%; e, ainda, reservas externas de US$ 355 bilhões.
Alentado grupo de economistas entende que o principal motivo da entrada de dólares são os juros básicos altos demais, que favorecem operações de arbitragem com juros – que nada mais é do que a tomada de empréstimos lá fora, a juros pouco acima de 2,0% ao ano, trazidos ao Brasil para ganhar, no mole, com os juros básicos aqui praticados, hoje de 10,5% ao ano.
Não dá para negar a existência desse jogo especulativo. Mas ele não é relevante. Se o fosse, o afluxo de dólares teria sido mais alto antes de agosto de 2011, quando os juros básicos eram mais de 11,0%.
Mais apropriado dizer que juros mais baixos, com inflação sob relativo controle, deixam uma economia bem mais previsível. Isso significa que a derrubada consistente dos juros deve, a longo prazo, atrair mais capitais do que afastá-los.
Para evitar a excessiva valorização do real, que sobrevém com a forte entrada de moeda estrangeira, o Banco Central tem comprado dólares nos mercados a termo e à vista. Mas não dá para ignorar que o aumento das reservas externas, por si só, atrai moeda estrangeira, porque reforça a percepção de solidez da economia.
Nessas condições, duas providências que o Banco Central vem tomando para evitar a disparada do dólar no câmbio interno – a baixa dos juros e o aumento das reservas – a longo prazo tendem a concorrer para que entrem mais dólares e, portanto, para intensificar a valorização do real (baixa do dólar).
CONFIRA
O momento certo. Não é sempre que dá para levantar financiamento internacional (lançamento de títulos ou bônus). Sempre que os mercados de crédito estiverem travados e que prevalece a fuga do risco, não há o que convença o investidor estrangeiro a comprar títulos do Brasil, mesmo com a boa fase da economia. No entanto, quando um mercado favorável – como agora – estimula captações de recursos, fica inevitável a forte entrada de dólares no Brasil – também como agora –, para aflição do ministro Guido Mantega, que prefere um câmbio acima de R$ 1,80 por dólar.
Este pode, aquele não. Alguns economistas recomendam controle dessa entrada de capitais, o que exigiria atitude discriminatória do governo. Mas por que recursos levantados pela Petrobrás teriam sinal verde e dos bancos nem tanto? Por que o financiamento de uma Petrobrás seria mais importante do que o de pequenas e médias empresas necessitadas de capital de giro barato? Pior que tudo, a hora boa pode passar e tão cedo não voltar...
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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