Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - A atuação mais efetiva do vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB licenciado, nas negociações de alianças eleitorais do partido nos Estados pode acirrar os ânimos de pemedebistas que resistem a se coligar com o PT. De acordo com avaliação de dirigentes estaduais do PMDB, Temer pode estar dando um tiro no pé ao negociar diretamente com o PT nacional.
O vice-presidente rebate as críticas. Por sua orientação, o presidente nacional do PMDB em exercício, senador Valdir Raupp (RO), começou a reunir em Brasília dirigentes estaduais do partido para discutir o cenário eleitoral de 2014, local e nacional. As executivas de todos os Estados estão sendo convocadas. Um dos objetivos é estimular alianças com o PT.
A orientação da cúpula é que o PMDB lance candidatura própria a governador onde for possível. A meta é ter candidato em pelo menos 18 Estados. Na eleição nacional, a direção recomenda apoio à manutenção da aliança com o PT, preservando Temer na vice-presidência da chapa da presidente Dilma Rousseff à reeleição.
Ontem, a reunião foi com dirigentes do PMDB de Pernambuco, que tende a lançar candidato a governador - o nome mais forte é o do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio-, mas ainda não definiu posição em relação à eleição presidencial. Nesta quarta-feira, será a vez da executiva da Paraíba. Na semana passada, a conversa foi com o PMDB do Espírito Santo e do Acre.
"Temos uma presidente que nunca foi nem vereadora, mas é muito voluntariosa. Ela pode ter a caneta, mas quem decide nosso destino é a gente. Ela precisa mais do PMDB do que o PMDB dela", disse o presidente do PMDB estadual de Pernambuco, Dorany Sampaio.
Para ele, é cedo tomar posição tanto na eleição para governador quanto para a de presidente, principalmente por que há dúvidas quanto à viabilidade da candidatura do governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), para presidente. A hipótese menos provável é de apoio ao senador Aécio Neves (PSDB), já que houve rompimento do senador Jarbas Vasconcelos com o deputado Sérgio Guerra, presidente do PSDB.
Dissidente da orientação nacional, Jarbas foi aliado da oposição nas últimas eleições presidenciais, se reaproximou do governador e é um dos articuladores de sua provável candidatura a presidente. Após a reunião, Raupp disse que o PMDB de Pernambuco está "unidíssimo" e pode lançar candidato a governador, mas, no cenário nacional, analisa que caminho tomar, com base em dois cenários: com e sem Eduardo candidato.
Para alguns pemedebistas, Temer coloca sua própria candidatura acima de interesses estaduais do partido, o que poderia até submeter a risco a aprovação da aliança nacional com Dilma para 2014, na convenção nacional do partido. Críticas são principalmente de políticos de Estados nos quais o partido enfrenta problemas com PT, como Rio de Janeiro, Ceará e Bahia.
"Michel está discutindo tudo numa redoma, sem consultar os Estados", afirma o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), presidente do PMDB da Bahia. Segundo avaliação feita reservadamente por parlamentar de um desses Estados, Temer acomodou aliados em ministérios importantes e está definindo com o ministro Aloizio Mercadante (Educação), cotado para coordenador a campanha de Dilma à reeleição, e o presidente do PT, Rui Falcão, as prioridades dos Estados. Mas não pode esquecer que precisa dos votos da convenção para manter a vice.
Pemedebistas de Ceará e Rio, que querem lançar candidato a governador mas enfrentam problemas principalmente com o PT, dizem que podem ameaçar a aprovação da aliança nacional com o PT. De acordo com eles, na convenção há 90 votos de maioria pró Dilma. Os dois Estados têm 120 votos. Se votassem votar contra a aliança com o PT, o apoio à permanência de Temer na vice teria 30 votos a menos e a tese seria derrotada.
Temer, por meio da assessoria, afirmou que as críticas são baseadas em "má informação ou má fé". Confirma as conversas com Mercadante e Rui Falcão e, onde for possível, a manutenção da aliança com o PT. Mas diz que apoiará o lançamento de candidato próprio a governador e buscará apoio do PT. É o caso do Rio, com o vice-governador Luiz Fernando Pezão, e do Ceará, com o senador Eunício Oliveira. Mas o PT mantém a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias no Rio. E no Ceará, o PT está dividido e o problema maior é com o PSB do governador Cid Gomes.
Fonte: Valor Econômico
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