A simples presença, se é que se pode qualificá-la com tão pequena dimensão, do ex-ministro Antonio Palocci numa reunião da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, em um hotel em São Paulo, e o registro aqui feito de sua participação, com a ressalva de que às palestras que profere para empresários e banqueiros não corresponde retorno em arrecadação de campanha para o PT, levaram diferentes tipos de interessados a abarrotar a antessala do escritório privado de Palocci. Abarrotar de políticos.
A reunião de que ele participou foi dirigida pelo comandante do projeto da reeleição e chefe supremo da campanha, Lula; teve a participação de João Santana, responsável pela propaganda da reeleição e do partido; contou com a candidata e presidente Dilma; que levou seu braço direito eleitoral, Aloizio Mercadante, um dos principais integrantes do núcleo que vai coordenar o dia a dia da disputa e mediar a formação dos palanques regionais.
Palocci estava lá. Mas, ressalva o ex-ministro, foi a primeira reunião de que participou com essa configuração e não tem estado no centro das definições de campanha. Deixa claro que não se ofendeu com a explicitação de uma possível função na área de financiamento eleitoral, mas gostaria de repor a verdade em perspectiva.
O mundo mudou muito, está congelado
"As pessoas tomam como real esse nível de articulação minha e direcionam energia para cá, buscando solução de problemas, e eu acabo não podendo atender porque não estou tão envolvido assim", afirma.
No nível de atividade subentendido na informação aqui publicada, Palocci diz que não está. Afirma crer, inclusive, que não exista, pelo menos ao que saiba, o circuito mencionado, nem no aspecto político nem no aspecto financeiro da reeleição.
"Minha participação política tem sido pequena. Este ano, Lula e Dilma tiveram uns seis, sete encontros. Fui a apenas um".
O que Palocci vai fazer na política, este ano e o ano que vem? "Não sei ainda, estou querendo pular o ano que vem, na política". E o que mesmo foi fazer na reunião do Lula com a Dilma e o marqueteiro?
"Comentei algumas coisas da situação da economia". Cauteloso para não ferir antigas e novas suscetibilidades, o ex-ministro da Fazenda esclarece também que não está trabalhando para o governo na questão econômica, nem procurando saídas. "Quando eu vou ao encontro do Lula, quando fui falar com a Dilma, comentei um pouco minhas opiniões, só".
E quais são elas, sobretudo sobre o crescimento encruado e a resistente rebarba de inflação que levou a presidente Dilma a perder parte de sua principal bandeira de campanha na área econômica, a redução drástica dos juros?
"Não acho que o governo está cometendo nenhum erro importante. O problema é que o mundo está muito parado, mesmo. O mundo mudou muito". Para Palocci, no último período, muito recentemente, houve um ciclo que foi bom, agora ingressamos num período que define como "mais apertado" e acredita que será necessário haver um esforço de alguns anos para retomar o nível de crescimento mais forte que se desenhou na rápida boa fase.
O governo, a seu ver, terá que intensificar os esforços e criar caminhos para retomar um ciclo mais forte na economia.
"O mundo, que estava aquecido, deu uma congelada. São muitas forças contra o crescimento no mundo todo, é navegar contra a maré, agora, é fazer um esforço grande aí". Logo depois de 2008, houve uma queda internacional, retomada em 2009/10, numa recuperação que não se mostrou consistente. Quando acreditava-se que o ritmo havia voltado, "caiu tudo de novo, sobretudo na Europa, e ainda não levantou".
O esforço do governo brasileiro, nas reflexões do ex-ministro da Fazenda, deve se concentrar em melhorar o ambiente de negócios, melhorar os investimentos em infraestrutura. "Mas não tem mágica, não é uma coisa de curto prazo. É um esforço longo que é preciso fazer".
Para quem não compreendeu a entrada no governo federal de Guilherme Afif, vice-governador de São Paulo pelo PSD (ex-DEM/ex-PFL/ex-PL) em coligação com o PSDB, e ainda assim numa operação camuflada que não admite estar representando o partido, mas a si próprio, ministra-se por aqui uma lição explicativa em três atos, para o papel do novo ministro:
1- Trata-se de segurar um naco maior de poder, desta vez federal, onde ele jamais chegou em sua carreira política.
2- Afif não se perdoa não ter sido Presidente da República. Acha que quase chegou lá quando disputou o cargo, em 1989.
3- Crê-se investido da tradução da mística de São Paulo. Até hoje Afif presenteia seus visitantes com as cartas de Anchieta em que, na sua visão do mundo, está tudo previsto.
Quanto ao papel do PT, a lição tem um ato só: Afif é, no xadrez presidencial de Lula para 2014, o que foi Maluf no xadrez municipal de 2012. É abertura de apoio para a campanha de Dilma Rousseff e para o candidato do partido ao governo de São Paulo. Afif no governo federal é Lula exercendo o comando da campanha do PT.
Difícil encontrar algo em que o bom senso de Fernando Henrique Cardoso claudique, mas a defesa da reeleição, na gênese, ao longo dos anos e hoje, se sobressai. Não é verdade que não haja massa crítica para comprovar o desacerto do instituto nas eleições para as prefeituras, Estados e Presidência. A cada dois anos os exemplos agridem o eleitorado.
Temos agora uma evidência gritante. O primeiro mandato de Dilma Rousseff foi de dois anos, pouco produtivos em resultados por causa do monta-desmonta governo. Este ano, o terceiro, e o próximo, quarto, são de campanha. Tudo gira em torno do projeto de reeleição. Ou seja, foi inventado o mandato de dois anos. Se houver êxito na campanha, terá mais dois anos, no início do segundo mandato, e nos outros dois saem todos à procura de um sucessor que mantenha o poder.
Um mandato só, de cinco ou seis anos no máximo, é o mais adequado ao modelo Brasil de fazer política. O dirigente governa quatro, ou cinco anos, e no último cuida da campanha.
Fonte: Valor Econômico
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