Dois aspectos levaram o governo a acender a luz amarela em relação ao PMDB. O primeiro é a certeza de que haverá dificuldades em votar hoje a Medida Provisória 595, aquela que institui o novo marco regulatório dos portos. A segunda são os palanques estaduais que o aliado prepara em vários estados. Em 16 unidades da federação, os peemedebistas estão praticamente decididos a lançar candidato próprio. E nesse rol, são poucos em que PMDB e PT estarão juntos. E, quando é assim, reza a lenda, alguém termina migrando para a oposição.
Um caso emblemático hoje nessa relação é a Bahia. Lá, os peemedebistas estão em conversas com o Democratas, partido do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto. Em Mato Grosso do Sul, os peemedebistas estiveram recentemente com Dilma Rousseff, mas os acordos eleitorais, por enquanto, se voltam para o PSDB e não para os petistas.
No Rio Grande do Sul, o vice-presidente da República, Michel Temer, bem que trabalhou uma aproximação da bancada com o Planalto, mesmo depois da saída de Mendes Ribeiro do Ministério da Agricultura. Mas, nem de longe, essa boa convivência federal servirá de trampolim para que os peemedebistas gaúchos mergulhem na campanha pela reeleição do governador do estado, Tarso Genro, do PT.
No Amazonas, não será surpresa se o atual líder do governo, Eduardo Braga, deixar o cargo para concorrer ao governo estadual, uma vez que sua mulher é a primeira suplente. Ou seja, além de um mandato de governador continuaria com o de senador. Tudo em família. Em Pernambuco, além de Jarbas Vasconcelos apoiar o governador Eduardo Campos, os peemedebistas acenam com um candidato próprio ao governo estadual. Também bem longe do PT.
Hoje, o único peemedebista mais alinhado com o Planalto no estado é o prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio. Ele não se cansa de repetir que é um "soldado do partido". Leia-se, pronto para concorrer ao governo do estado, se Michel Temer assim quiser. "Sou eleitor de Michel", diz ele, que ontem esteve em Brasília junto com o presidente do PMDB pernambucano, Dorani Sampaio, justamente para levar essa mensagem de que deseja concorrer.
De um modo geral, tudo o que une PT e PMDB no plano federal, dificilmente se repetirá nos estados no ano que vem. E, cientes dissos, os peemedebistas preparam seu jogo para tentar angariar mais algum espaço de poder. Daí as desconfianças do Planalto de que os interesses em derrotar o governo na MP dos Portos vai além das questões de mérito, conforme dissemos aqui em várias oportunidades.
Ontem, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff bem que tentou reunir líderes para conversar sobra a MP dos Portos. Ao serem informados, entretanto, de que ela não iria ceder a todos os pontos que eles desejavam no mérito, fizeram chegar a ela que melhor seria não haver uma reunião. Afinal, reunião com presidente da República geralmente é para decidir e não ficar negociando um pontinho aqui, outro ali, sem uma definição clara do que é possível ceder.
Enquanto isso, no plenário...
A sensação que se tem quando se conversa com os políticos é a de que as dificuldades permanecerão até o momento em que a presidente abrir as nomeações de segundo escalão aos partidos da base aliada. Esses cargos são, atualmente, ocupados em sua maioria por técnicos ligados ao PT, que servem mais ao partido e não costumam atender os aliados. Se continuar assim, na hora da eleição, todos esses candidatos peemedebistas listados acima ficarão a ver navios, enquanto os petistas terão acesso direto aos interessados em financiar aqueles que detêm o poder. É isso o que mais "pega" hoje na relação entre os dois principais partidos da base com o Planalto. Há uma forte sensação no ar de que o governo joga apenas para o seu partido. Da parte de Dilma, entretanto, a visão é inversa. Há a clara sensação de que, se eles quisessem mesmo participar do governo e fossem parceiros de fato, não derrotariam seus projetos nem criariam tantas dificuldades.
Pelo visto, o que falta mesmo entre esses personagens é um diálogo franco. Ficam nos meandros da política e, na hora dos "vamos ver", ou seja, nas votações, vêm os desentendimentos e as brigas. Hoje, no plenário da Câmara, não será diferente. Pode apostar.
Fonte: Correio Braziliense
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