Cenário de caos político e social causa incerteza na disputa; além do PMDB, outras siglas estão implicadas na Lava Jato no plano nacional
Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo
RIO - O caos político, econômico e social do Rio já causa incertezas no cenário eleitoral de 2018. Com um ex-governador preso, parte dos principais nomes da política local citados na Lava Jato e atuais mandatários que não despertam grandes paixões no eleitorado, partidos estão à procura de um novo nome, uma surpresa”, para a disputa do próximo ano.
O Estado mostrou neste domingo, 23, que, de acordo com projeções da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), mesmo com o plano de recuperação fiscal, o Rio só voltará a arrecadar mais do que gasta em 2029. Além disso, falta dinheiro para pagar salários dos servidores, para a distribuição de remédios e até para o abastecimento de viaturas da polícia.
Diante desse cenário, é quase consenso que o PMDB, legenda do atual governador, Luiz Fernando Pezão, do ex-governador Sérgio Cabral, preso pela Operação Lava Jato, e do ex-prefeito Eduardo Paes, estaria “derretendo” no Estado – e que isso abriria o campo para outros partidos crescerem. Já outras siglas representativas, como PT, DEM e PSDB, estão, em nível nacional, implicadas na Lava Jato.
Segundo o presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, o foco será a eleição nacional e o apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em um cenário em que a Lava Jato não inviabilize o projeto do partido – Lula é réu em cinco ações. “Nossa prioridade vai ser montar um palanque nacional. Localmente, talvez, lançar uma candidatura ao Senado e discutir caminhos com partidos de esquerda, como PCdoB e PDT.”
Para o governo estadual, Quaquá afirma que o partido pode “abrir um diálogo para fora da política”. Embora não fale em nomes, diz que a legenda deve buscar alguém com o perfil “intelectual-artista”, que dialogue com a sociedade. “Somos contra a criminalização da política, mas devemos abrir esse diálogo.”
Quando se fala em um nome “fora da política”, a mais recente referência que vem à cabeça do eleitorado é a do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que se elegeu ainda no primeiro turno com o discurso da não política. O deputado estadual Luiz Paulo (PSDB-RJ) fala abertamente que o candidato da legenda ao governo do Rio tem de ser “alguém da sociedade, com ficha limpa e capacidade gerencial”, no perfil do colega paulista.
Para o tucano, “um político tradicional não vai colar e a crise pode abrir espaço para os extremos, tanto no campo da direita como na esquerda”.
César Maia, ex-prefeito e atual vereador, homem forte do DEM no Rio, considera que a “intelligentsia carioca” vai impedir que um aventureiro se sobressaia nas próximas eleições. “Não tem ambiente no Rio de Janeiro para um populismo descarado de direita ou esquerda.”
Ao ser questionado a dizer um nome da “intelligentsia”, Maia cita Arminio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso. “Se Arminio Fraga for convencido e meter a cara sem olhar pra frente acho que o eleitor vai pensar: ‘salvemos o Estado, ele tem boia, sabe nadar é competente’”, afirma.
Presidente do PMDB e presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Jorge Picciani diz que no Rio “é impossível saber o que vai acontecer na semana que vem, quanto mais no ano que vem”. Ainda assim, ele afirma acreditar que a eleição terá grande influência do cenário nacional e que o seu partido não estará fora das disputas. “Quem deve vai pagar. As investigações estão aí e vida que segue.”
Já Tarcísio Motta, vereador do PSOL e potencial candidato a governador pelo partido, espera que o eleitorado procure alternativas diferentes, “fora do esquema viciado de poder”.
Ciclo. O cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael afirma que o ciclo do PMDB acabou no Rio. “O Eduardo Paes pode até se descolar de todos esses problemas, mas vai depender das investigações. Ele comeu muito tempo com essas pessoas, os adversários vão usar muitas imagens dele com Cabral e outros”, afirma.
Ismael não vê a possibilidade de que prevaleça um candidato populista. Já para o professor de Direito da PUC-Rio Manoel Messias Peixinho, o ambiente de caos político pode, sim, abrir um caminho para líderes carismáticos. “A desconfiança em relação à política pode abrir essa porta. Vai depender muito do que ainda está para acontecer no cenário nacional.”
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