Por Daniela Fernandes e Assis Moreira | Valor Econômico
PARIS E GENEBRA - O centrista Emmanuel Macron e a candidata Marine Le Pen, de extrema direita, vão disputar o 2º turno da eleição presidencial na França. Resultados preliminares mostravam o social-liberal com quase 24% dos votos, contra pouco mais de 22% da rival. Apesar do resultado inédito obtido pela Frente Nacional com o desempenho de Le Pen, as primeiras pesquisas divulgadas após o encerramento do 1º turno indicam que Macron vencerá a disputa por larga margem no dia 7 de maio, com 62% a 64% dos votos.
Os mercados financeiros e as autoridades da Europa respiraram aliviados. Oito dos 11 candidatos tinham propostas que, na prática, empurrariam a França para fora da União Europeia.
Macron vence 1º turno e é favorito para a Presidência da França
No primeiro turno da eleição presidencial mais disputada na França nos últimos 50 anos, os eleitores escolheram ontem dois candidatos com visões e programas opostos: o centrista Emmanuel Macron, pró-europeu, e Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), da extrema direita, que quer o "Frexit", a saída da França da União Europeia (UE) e da zona do euro. Os dois disputarão o segundo turno em 7 de maio.
Segundo projeções, Macron, ex-ministro da Economia do atual presidente, o socialista François Hollande, venceu o primeiro turno com quase 24% dos votos. Le Pen, que liderou a corrida presidencial por vários meses, acabou ficando em segundo, com quase 21,42%. A taxa de comparecimento (na França o voto não é obrigatório) ficou em 78,3%, pouco abaixo das duas últimas eleições presidenciais.
Le Pen, de 48 anos, obteve mais de 7,6 milhões de votos, com quase todos os apurados, batendo o recorde de votos da FN desde que o partido foi fundado, em 1972, por seu pai, Jean-Marie Le Pen. Em 2012, ela havia conquistado 6,4 milhões de votos. O recorde da FN até agora tinha sido nas eleições regionais de 2015, quando teve 6,8 milhões de votos.
Em discurso após as primeiras projeções, Le Pen disse que a votação ontem foi "histórica" e afirmou que o que está em jogo nesta eleição presidencial "é a globalização selvagem, que põe em perigo nossa civilização", repetindo um de seus temas de campanha.
Para a líder da FN, que tem como slogan "Em nome do Povo", os franceses têm uma escolha simples: "Ou continuar no caminho da desregulação total, sem fronteiras e sem proteção, que leva a uma concorrência internacional desleal e à imigração em massa, ou escolher a alternância, que implementará uma outra política."
Macron, de 39 anos, o mais jovem candidato a chegar ao segundo turno de uma eleição presidencial na França, disse que quer ser "o presidente dos patriotas frente à ameaça nacionalista". "Em um ano, nós mudamos a cara da vida política francesa", afirmou ele, acrescentando que quer unir os franceses. "O desafio é romper totalmente com o sistema que foi incapaz de responder aos desafios do nosso país em mais de 30 anos", afirmou o líder do movimento político En Marche! (Em Marcha!).
As primeiras pesquisas divulgadas ontem após o primeiro turno indicam que Macron, um ex-banqueiro de investimento, vencerá amplamente Le Pen no segundo turno, com 62% a 64% dos votos.
A votação ontem também foi marcada pela derrota dos dois grandes partidos franceses, virando uma página da história política da França. Pela primeira vez Os Republicanos, da direita tradicional, e o Partido Socialista (PS), da esquerda, ficaram simultaneamente fora do segundo turno de uma eleição presidencial.
O conservador François Fillon - considerado favorito na disputa até o início do ano, quando teve sua campanha abalada pelo escândalo de empregos fantasmas de sua família - ficou em terceiro lugar, com quase 20%, pouco acima do candidato da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, do movimento França Insubmissa, que obteve 19,54%, segundo a apuração na noite de ontem, confirmando as pesquisas de boca-de-urna.
O socialista Benoît Hamon, que representa a ala antiliberal do PS, obteve o pior resultado de seu partido desde 1969 em uma eleição presidencial, com apenas 6,3%.
Fillon e Hamon pediram ontem mesmo aos seus eleitores para votar em Macron no segundo turno, para barrar a extrema direita. Já Mélenchon não deu uma indicação clara de voto.
A liderança de Macron no primeiro turno é algo inédito na vida política francesa. Desconhecido até três anos atrás, quando se tornou ministro da Economia, ele conseguiu um feito inédito: até agora nenhum candidato de um partido independente havia conseguido avançar ao segundo turno. O En Marche! foi criado por Macron há apenas um ano.
Durante a campanha que antecedeu o primeiro turno, ele recebeu os apoios mais variados: de comunistas a ultraliberais, unindo vários nomes de peso da política francesa, como o ex-primeiro socialista Manuel Valls e o ex-primeiro-ministro conservador Dominique de Villepin.
No evento organizado por Macron ontem, em Paris, para reunir seus partidários, havia eleitores de todas as idades, mas principalmente jovens. O candidato corresponde, para parte do eleitorado, ao desejo de novidade e mudança.
"Macron não é um político profissional. Não é como Fillon que está há 40 anos na política", diz o professor de economia Pierre Picard, da renomada Escola Politécnica, acrescentando querer uma "renovação e pessoas honestas". O casal de aposentados Lucette e Guy Vidammont, também presente no evento, declarou ter votado em Macron por sua "juventude e suas ideias sobre a Europa", além do fato de ele representar algo novo.
Os programas de governo de Macron e Le Pen têm grandes diferenças, mas também algumas convergências. Macron quer cortar 120 mil cargos de servidores e cortar € 60 bilhões de gastos públicos. Le Pen prevê reduzir o déficit público, mas não aprofundou o assunto. Ambos também defendem a redução dos encargos sociais das empresas. Le Pen defende o protecionismo econômico e a reaproximação com a Rússia, diferentemente de Macron.
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