Folha de S. Paulo
Resultado do segundo trimestre diz nada
sobre o futuro, que depende de política, chuva e EUA
O que dizem os números do PIB do segundo
trimestre? Básica e francamente, nada. Nada de novo, apesar da espuma do
noticiário: a economia despiora, deve crescer uns 5% neste 2021, embora metade
do povo deva ficar para trás, em parte na fome. A fim de tentar saber um pouco
do que será da economia, em particular em 2022, temos de olhar para outra
parte:
1) arranjos e mutretas que Jair Bolsonaro
vai conseguir aprontar com Orçamento
de 2022 e outras medidas eleitoreiras;
2) o tamanho da baderna que resultará da
campanha golpista, mais e mais estimulada pelo enrolamento progressivo da
família Bolsonaro com a polícia e a Justiça;
3) a
falta d’água e de eletricidade, problema que de um modo ou de outro vai
durar até pelo menos março de 2022, afora dilúvios;
4) a economia internacional;
5) o efeito disso tudo na taxa de câmbio (no “preço do dólar”) e, por tabela, na inflação.
Bolsonaro precisa arrumar uma folga de pelo
menos R$ 50 bilhões no Orçamento de 2022, a fim de pagar a engorda
do Bolsa Família e emendas parlamentares. Para tanto, pretende dar um
calote provisório nos precatórios. Até agora, conta
com a ajuda de Luiz Fux, ministro e presidente do Supremo, que apresentou a
ideia de moratória legalizada a fórceps. Pode não acontecer, pelo tamanho do
descaramento e porque o Supremo pode modular sua boa vontade de acordo com o
teor dos comícios golpistas do 7 de Setembro.
Mas a mumunha orçamentária e seus impactos
no ritmo de endividamento do governo vão muito além disso. Na síntese que
consta de uma nota dos economistas do Bradesco, é o seguinte. “Os riscos
fiscais voltaram a interromper a melhora nas perspectivas para a economia e
para os preços de ativos [dólar, ações, títulos da dívida pública]”.
Quais “riscos”? “A lista de temas fiscais é
extensa: precatórios, reajuste do bolsa família, perda de arrecadação com a
reforma tributária, desoneração de PIS e Cofins para combustíveis, dentre
outros. Além desses, o espaço orçamentário previsto [dinheiro para gastar] no
teto de gastos de 2022 vem se reduzindo conforme avançam as expectativas de
inflação para 2021 [pois mais inflação eleva a despesa com a Previdência]. O
que está em jogo, em última análise, é a manutenção do atual arcabouço fiscal
[o teto, em particular]”, diz o pessoal do Bradesco. O que vai entre colchetes
é observação deste jornalista.
Na noite desta quarta-feira estava
para ser votada a reforma do IR, a mixórdia apresentada por Paulo Guedes
que virou uma salsicha com recheio ainda desconhecido da Câmara. Pode tirar
receita do governo, fora outras implicações (a reforma é ruim). A coisa pode
cair no Senado, que também na quarta-feira jogou
no lixo a reforma trabalhista à matroca proposta por Guedes e aprovada
pela Câmara dominada pelo centrão bolsonarista de Arthur Lira. Ou seja, a
receita e a despesa federais estarão ainda mais sujeitas ao salseiro político.
A partir de novembro, o Banco Central dos
EUA, o Fed, pode diminuir o total de dinheiro que coloca na praça (na prática,
subsidia taxas de juros privadas e para o governo); quem sabe indique quando
começa a elevar juros. Pode ser um salseiro, como em situação parecida 2013,
que bateu pesado na finança e da economia daqui. Além do mais, a depender do
ritmo de crescimento de EUA e China e do preço das commodities, o crescimento
deve ficar um tanto mais prejudicado por aqui também.
Quanto mais zorra fiscal, mais baderna
golpista, mais risco de apagão e mais tensão financeira mundial, pela ordem,
mais desvalorizado o real ficará, mais difícil será conter a inflação, mais
aperto financeiro haverá.
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