O Estado de S. Paulo
Elites dirigentes da economia discutem como se livrar de Bolsonaro
Diante dos olhos das principais elites da
economia brasileira Jair Bolsonaro repete uma conhecida trajetória. De mal
menor, está virando aos olhos dessas elites o pior dos males. O mesmo aconteceu
com Fernando Collor e Dilma Rousseff.
Há importantes diferenças no comportamento
dessas elites que, em parte, espelham a perda de coesão institucional e o
esgarçamento do tecido social brasileiro, além da forte regionalização da nossa
política. Refletem também a alteração dos “pesos relativos” no PIB e na
política entre indústria, agroindústria, setor financeiro e varejo. E
diferentes mentalidades, que impedem o surgimento de lideranças e ações comuns.
Ninguém mais fala pelo “todo” das elites econômicas.
Quando se examina as posturas políticas desses grupos de dirigentes essas diferenças separam a grosso modo os segmentos que são mais “abertos” daqueles “mais fechados” em relação ao mundo lá fora. Os mais dependentes ou integrados nas grandes cadeias produtivas globais, de capital intensivo, orientados para inovação tecnológica e atrelados ao comércio exterior e aos grandes fluxos de investimento foram, por exemplo, os que abateram os ministros bolsonaristas das Relações Exteriores e Meio Ambiente.
É importante notar que nesses grupos a
oposição ao governo não se deu simplesmente por ser considerado “ruim para os
negócios” (caso claro do moderno setor do agro). A forte rejeição a Jair
Bolsonaro facilmente detectável nesses segmentos vem de uma visão de mundo –
portanto, ideológica – para a qual o presidente simboliza o contrário dos
princípios fundamentais de uma sociedade aberta, tolerante e liberal no sentido
europeu da palavra. Foi nessas áreas que mais rápido Bolsonaro trafegou da
condição de personagem político “tolerável” à de “insuportável”.
Ele foi salvo até aqui de um destino
parecido ao de seus ministros defenestrados por uma característica comum ao
empresariado (desculpem a generalização, sempre perigosa): o profundo temor de
se meter em política. Quando isso acontece (meter-se em política) a causa
costuma ser a defesa dos próprios interesses setoriais e negócios, e só em
casos excepcionais é o resultado de uma ação coletiva em torno de princípios
gerais ou projetos nacionais. “Política” é vista, não sem motivos, como coisa
suja por definição.
O perigo para Bolsonaro é quando a
excepcionalidade da ação por motivação “ideológica” se junta à noção no
empresariado de que está tudo muito ruim para os negócios, as perspectivas não
parecem que vão melhorar, os problemas aumentam, diminuem esperanças de dias
melhores a curto prazo, vão subir inflação, juros e os impostos, fora os custos
e as despesas. E a imprevisibilidade do triste ambiente de insegurança jurídica
se agrava com pandemia, crise hídrica e, para culminar, instabilidade política
trazida pela incessante crise institucional.
O “tipping point” (ou palha que quebra o
lombo do burro) é o momento em que o receio da severa turbulência causada por
um processo de impeachment é menor do que a certeza de que com Bolsonaro vai
tudo só ficar pior, e que não dá para aguentar até as distantes eleições do ano
que vem, pois a velocidade e profundidade da crise encurtaram drasticamente os
horizontes de tempo. É o momento no qual a crise brasileira se encontra.
As forças do centrão já dão demonstrações
de que consideram Bolsonaro intragável, prejudicial aos próprios interesses
(políticos e econômicos) o que não significa abraçar-se ao “outro lado”, ou
seja, Lula. É um volátil processo político no qual os caciques do centrão
confabulam com setores dirigentes da economia e vice-versa. Não surgiu ainda
dessas conversas, que estão se intensificando, se o melhor caminho para sanar a
maluquice que emana do Planalto é acelerar um impeachment ou articular uma
terceira via – à qual a turma do dinheiro está, sim, se dedicando.
Com o 7 de setembro Bolsonaro está se
esforçando para ver quanto o burro aguenta.
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