O Estado de S. Paulo
Para parte do mercado, um ciclo mais duro
de alta de juros poderá levar a economia a uma recessão no ano que vem
Depois da leve queda no PIB do
terceiro trimestre e um recuo da produção industrial em outubro, enquanto o
mercado esperava aumento, uma parcela de analistas e investidores passou a
criticar com mais veemência o ritmo do aperto monetário do Banco Central.
O argumento dessa corrente do mercado é de
que um ciclo mais duro de alta de juros poderá levar a economia a uma recessão
no ano que vem. Mais ainda: que a desaceleração da atividade econômica já conseguiria
fazer parte do trabalho da política monetária para
arrefecer a inflação.
Só para lembrar: o PIB do terceiro
trimestre caiu 0,1% ante o segundo trimestre, jogando a economia em recessão
técnica. Isso seria já suficiente para o BC rever a magnitude do aperto
monetário em curso?
A resposta é não. Apesar do resultado negativo, a composição do PIB do terceiro trimestre ainda mostra fontes de pressão à inflação, com o crescimento forte dos setores de consumo, de serviços e de gastos do governo em julho, agosto e setembro.
Um exemplo foram os chamados “outros
serviços”, que englobam atividades como bares, restaurantes, hotéis, educação
privada, saúde e serviços de beleza, e tiveram alta de 4,4% no terceiro
trimestre em comparação com os três meses anteriores.
São os setores mais sensíveis à política
monetária. E o esforço que o BC deveria estar fazendo é evitar que os preços
dos bens não comercializáveis, como os do setor de serviços, subam tanto em
2022 para acomodar uma desaceleração dos preços que sofreram um choque com a
pandemia.
Na mais recente pesquisa Focus, do
BC, o mercado projeta
inflação de 10,18% neste ano e de 5,02% em 2022, um estouro
do teto da meta por dois anos consecutivos. Para a decisão do Copom hoje,
a esmagadora maioria
dos analistas espera alta de 1,5 ponto porcentual da taxa Selic, para 9,25%.
Mesmo com a economia desacelerando, a
inflação acumulada em 12 meses seguirá em dois dígitos até, ao menos, março do
ano que vem. Isso porque ainda ocorrem repasses da inflação passada ao redor de
8%, 9%, como mostram os dissídios salariais monitorados pela Fipe.
Ou seja, a velocidade de queda da inflação devido à inércia poderá ser lenta.
Uma das maneiras que o BC poderá quebrar esse processo seria tentar valorizar o câmbio via diferencial de juros maior, pois, com a Selic a 7,75%, o dólar segue ao redor de R$ 5,60. O ruído político e a piora na percepção do risco fiscal tornam esse trabalho mais difícil. Mas, infelizmente, não há como trazer a inflação para baixo sem desacelerar a economia.
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