Folha de S. Paulo
O princípio da cautela exige que nos
preparemos mesmo é para uma nova onda
A ciência é uma ferramenta poderosa não
porque nos mune com certezas, mas porque nos obriga a medir e confrontar nossa
própria ignorância. E não há melhor exemplo de quão incertas podem ser as
coisas do que as dúvidas que temos agora diante
da variante ômicron do Sars-CoV-2.
A maioria dos cientistas recomenda que nos preparemos para uma nova onda de Covid-19, reforçando a vacinação e medidas de contenção e distanciamento. Alguns especialistas, entretanto, dizem que a chegada da variante poderá ser positiva, acelerando o fim da pandemia. Como entender essa disparidade?
Pelos dados até aqui disponíveis,
a nova cepa parece ser bem mais transmissível que as anteriores. Há motivos
também para acreditar que ela apresente algum escape a vacinas e à imunidade
conferida por infecções prévias. A boa notícia é que, na África do Sul, onde a
ômicron já se tornou prevalente, não se viu, até agora, alta nas mortes e nem
nas internações hospitalares, o que constitui um indício de que a nova variante
seja menos patogênica.
Vale lembrar que a Covid existe para
humilhar os epidemiologistas e suas previsões. O fato de a
nova cepa ter se tornado prevalente no sul da África não significa
necessariamente que fará o mesmo no resto do mundo. A beta foi um fenômeno
essencialmente africano. A gama, sul-americano. Já a delta venceu todas as
outras cepas. A ômicron será local ou global? Ainda não sabemos.
Também não sabemos se a baixa letalidade
verificada na África do Sul vai perdurar e se valerá para todas as faixas
etárias e para outras populações. Mas, se tudo isso de fato ocorrer, aí
poderemos vislumbrar o cenário em que uma variante benigna se multiplique tanto
que desaloje as mais letais, transformando a Covid no resfriadinho de que
Bolsonaro falava. Podemos desejar isso (o Natal, afinal, está chegando), mas o
princípio da cautela exige que nos preparemos mesmo é para uma nova onda.
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