O Estado de S. Paulo.
Sérgio Moro e o ex-presidente Lula esperam vencer o julgamento moral
O ex-juiz Sérgio Moro e o ex-presidente
Lula estão prontinhos para se enfrentar num segundo turno das eleições. Já se
tratam como adversários prováveis e sugerem um duelo clássico: quem terá maior
competência política para fazer prevalecer a própria narrativa e bloquear a do
adversário, a essência da política.
Grosso modo ambos brigam por assumir os
mesmos atributos aos olhos do eleitorado. Consideram-se vítimas de injustiças
praticadas por poderosos que ousaram desafiar. Admitem que erros políticos ou
de conduta pessoal no passado empalidecem diante dos objetivos que queriam
alcançar.
A Lula sobra o cinismo que o surrado animal político consolidou em mais de meio século de atividade política, numa riquíssima trajetória na qual trafegou da defesa de convicções rumo à busca de oportunidades (de todo tipo). A Moro falta a importante ferramenta política da arte da dissimulação, mas sobra a convicção (pois entendeu bem Maquiavel) que em política é impossível realizar princípios, mesmo os do Direito.
O que cada um apregoa como mérito e virtude
é exatamente o que o outro afirma ser vileza e vício. Ambos pedem que o eleitor
faça um julgamento moral.
Fala a “verdade” quem diz “eu prendi os
facínoras e fui traído” (Moro) ou quem afirma “os facínoras não me deixaram
ganhar as últimas eleições” (Lula)? Isto nada tem a ver com qual dos dois é o
detentor da veracidade objetiva dos fatos recentes.
Na política fatos são a percepção que as
pessoas têm dos acontecimentos, algo que nem sempre combina com o que se
poderia considerar “elementos objetivos irrefutáveis”. O ambiente caótico das
redes sociais tornou essa lição ainda mais importante – aliás, adversários
políticos hoje sequer se entendem sobre o que seriam os fatos a serem
discutidos.
O hipotético confronto Lula-moro num
segundo turno por enquanto fascina apenas a ínfima parcela de quem acompanha
profissionalmente a política. Para quem duvida, na mais recente lista de buscas
frequentes no Brasil em 2021 divulgada pelo Google (um confiável indicador de
interesse do público) não figura nas principais categorias qualquer
acontecimento ou nome ligado diretamente à política.
Estão lá no alto o medo da covid-19, a
emoção com mortes súbitas de figuras queridas e o horror ligado a crimes. Além
de como arranjar um emprego e ser feliz na relação. “Justiceiro” (Moro) e
“Injustiçado” (Lula) talvez só fizessem sucesso se estivessem num dos vários
reality shows que dominam totalmente a lista dos programas favoritos na TV.
Julgamentos morais são mesmo coisa rara em
eleições.
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