O Estado de S. Paulo.
Posição de Lula e PT sobre teto de gastos e reforma trabalhista serviu para outros candidatos comparecerem à cena
É inegável o fato de que Lula e o PT terem
suscitado um debate sobre o teto de gastos e a reforma trabalhista produziu um
efeito benéfico. Não tanto pelo que disseram, por se tratar do mesmo anacrônico
receituário que levou o País à breca no governo Dilma, mas por terem obrigado
os outros partidos e contendores a comparecerem à cena. De repente, a discussão
foi deslocada para o governo Temer e as suas reformas, tendo o ex-presidente
comparecido como ponto de referência daquilo a ser ou não feito. Ao visar às
reformas necessárias para o País, seguindo a demagogia do “neoliberalismo”,
quando não do “imperialismo” orientando a Lava Jato contra as empresas
brasileiras, o PT escolheu como alvo um governo orientado por reformas
sensatas, voltadas para o bem do País, independentemente de sua popularidade.
Imediatamente, os candidatos Sérgio Moro e João Doria, em atitudes responsáveis, mostrando que estão preparados para dirigirem o País, saíram em defesa destas reformas. Naquele então, o MDB e a Fundação Ulysses Guimarães ofereceram as bases reformistas graças ao documento “Ponte para o futuro”, destacando também a posição do antigo líder do partido na condução desta reformas, deputado Baleia Rossi, hoje presidente do partido e coordenador eleitoral da campanha da senadora Simone Tebet. Eis as ideias que estão colocadas para um espaço de centro, capazes de viabilizar uma candidatura unificada politicamente neste campo.
Assinale-se que a defesa do teto de gastos
possui a maior importância não apenas do ponto de vista da responsabilidade
fiscal, mas igualmente política. A lei deveria obrigar o governo a abrir espaço
no Orçamento a novos projetos, avaliando os existentes, mudando-os ou
anulando-os, reduzindo os privilégios do funcionalismo público em todos os
Poderes, desengessando destinações obrigatórias. Os partidos, por sua vez,
deveriam ser obrigados a disputar projetos e recursos dentro do próprio
Orçamento, e não fora dele, como é o caso agora.
Tudo é feito, porém, para burlar a lei, em
nome de uma tal Justiça Social que é nada mais do que uma máscara para ocultar
a realização de interesses particulares. Toda saída deste limite, salvo em
situações de catástrofe ou calamidade pública, significa ingressar no perigoso
pântano do populismo econômico, quando não de sua derivação autoritária.
Lula, em seu primeiro mandato, foi
bem-sucedido por ter conservado o legado “bendito” do governo Fernando
Henrique, apesar de ideologicamente ter sido dito “maldito”. Seguiu os seus
pilares econômicos e sociais, tendo escolhido para a Fazenda e o Banco Central
dois “liberais”, Antonio Palocci e Henrique Meirelles. Foi graças a eles que o
seu primeiro governo deu certo, antes de caminhar para a irresponsabilidade da
segunda metade do segundo mandato e ao ungir Dilma como sua sucessora. O Lula
“liberal” chegou a festejar o Brasil ter ganho grau de investimento por
agências internacionais de risco. Será que comemorou que o País o perdeu no
governo Dilma?
Neste contexto, Lula e lideranças petistas,
acompanhados de uma forma orquestrada por ex-ministros da Fazenda por meio de
artigos, atacaram as reformas do governo Temer, além de terem canhestramente
procurado resgatar o governo Dilma. Ou seja, estariam resgatando a
contabilidade criativa, a irresponsabilidade fiscal, a inflação e a recessão.
Pretendem ainda reintroduzir a tutela estatal nas relações de trabalho e o
poder, inclusive financeiro, dos sindicatos atrelados ao partido, apagando os
valores da livre negociação entre empregadores e empregados, considerados como
maiores de idade e capazes de decidirem por si mesmos o que é melhor para eles.
E tudo isto sem que nenhum direito tenha sido suprimido, em um processo
conduzido pelo ex-ministro Ronaldo Nogueira.
Não há nada de acidental nisto, mas uma
franca apresentação do que Lula pretende fazer, caso vença a disputa
presidencial. Tratando-se, porém, de um Macunaíma, não se pode descartar a sua
adoção de uma outra máscara, caso isto seja necessário do ponto de vista
eleitoral e governamental. Não procede, senão do ponto de vista estratégico, as
alegações de simpatizantes empresariais e jornalísticos do PT, segundo os quais
Lula ainda não teria ainda porta-vozes econômicos ou políticas definidas a este
respeito.
Não poderia evidentemente faltar o desgastado discurso contra as privatizações, como se essas tivessem sido feitas pelo governo Bolsonaro. Confundem, intencionalmente, as ideias abandonadas do ministro Guedes com a realidade do governo atual que nada privatizou, apenas tendo seguido o projeto de concessões do governo anterior. Mais preocupante ainda, Lula chegou a dizer que “fortaleceria” a Petrobras. Como assim? Foi nos governos petistas que a Petrobras foi na verdade privatizada pelo partido e por seus asseclas e empresas de compadrio, cuja expressão mais nítida é o Petrolão, escancarando a corrupção generalizada. É a volta disto que está sendo proposto?
*Professor de filosofia na UFGRS
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