Fundamental é fortalecer o SUS e garantir informação com transparência à população.
“Vacinação é feita principalmente a partir
de campanha, a partir de informação da população. O que é necessário é passar
uma mensagem clara e direta para população de que a vacina salva vida, é
importante, é segura. Então, é isso que precisa ser feito. A obrigatoriedade
sempre existiu. A gente não imagina se vai haver uma fiscalização em torno da
obrigatoriedade da vacina. Não é por aí que a vacinação se faz e não foi por aí
que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) se tornou um programa exemplar no
mundo todo.” A explicação é do advogado e médico sanitarista Daniel Dourado, em
entrevista ao G1.
Pois bem. Até que enfim começou a vacinação
contra Covid-19 para as nossas crianças com idade entre cinco e 11 anos de
idade, em meio a grandes debates negacionistas promovidos pelo presidente da
República e seu ministro da Saúde, mesmo considerando que, a vacinação para
crianças já teve início, com segurança, em outros países há alguns meses.
Direito da criança e dever do Estado. Está
registrado no Estatuto da Criança, Lei n 8.069 de 13 de julho de 1990, Art. 14
parágrafo único.
Esqueceram? É o que parece. Ou nunca
tomaram conhecimento.
Da ação do presidente, não adianta falar. É
uma questão que só será resolvida no período eleitoral deste ano, tomara,
quando cessarão os insultos diários à população brasileira. Mas o ministro tem
insistido em manter uma postura caricatural do seu chefe.
O que um médico ganha com isso, já no fim da carreira? Como diria o presidente, o que está por trás? Ninguém sabe. Cidadãos de bem enxergam melhor com atitudes transparentes.
A decisão da ANVISA foi questionada e os
nomes dos técnicos que aprovaram o uso da vacina foram solicitados em público,
através de live, numa ameaça
semelhante àquelas que aconteciam nos tempos da guerra fria, como se a
aprovação pela ANVISA e o dever de fazer fosse um crime a ser desvendado.
O ministro, que é médico cardiologista,
negou o juramento a Hipócrates e logo tratou de organizar as ações do
Ministério da Saúde numa quase perfeita artimanha para impedir o processo de
vacinação.
Seria preciso apresentar prescrição médica
após visita ao clínico geral ou pediatra. Onde encontrar médicos, clínicos e
especialmente pediatras para todas as crianças aptas à vacinação contra
Covid-19 autorizada pela ANVISA?
No Brasil, segundo dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios existem 35,5 milhões de crianças (pessoas de
até 12 anos de idade), o que corresponde a 17,1% da população estimada no ano,
de cerca de 207 milhões”. (Dados referentes a 2019)
A Sociedade Brasileira de Pediatria diz que
há 20 milhões de crianças entre cinco e 11 anos de idade no país.
Imaginemos a sandice do ministro, ardiloso
na execução das ideias estapafúrdias de seu chefe, trabalhando na construção de
uma audiência pública.
No Brasil, àquela altura, já havia sido
registrado o falecimento de 558 crianças de cinco a 11 anos falecidas por
Covid-19, sendo notificadas 297 mortes em 2020 e 261 em 2021. (Dados do Sistema
de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) até 29/11,
coleta/Poder360).
No entanto, as mortes podem ter chegado a
800 crianças, número bem mais alto do que o oficial, indicado por levantamento
realizado pela consultoria Vital Strategies, a pedido da BBC News Brasil, com
base em dados também do (SIVEP-Gripe). Esse levantamento foi coordenado pela
médica Fátima Marinho, epidemiologista e consultora da referida empresa.
Durante este final de semana a vacinação
teve início em alguns estados para crianças com comorbidades. Famílias já
acostumadas a fazer a vacinação de seus filhos manifestaram o sentimento de
alívio nas telinhas de todo o país ao conduzi-los para tomar a vacina, que é
proteção já comprovada em outros países contra o vírus.
Cadernetas ou cartões de vacinação dos
filhos são guardados pelas famílias brasileiras como verdadeiras relíquias. É
documento valioso para a garantia de vaga nas escolas e para a contratação do
trabalho formal pelas empresas. O Brasil é considerado como referência mundial
em vacinação, com vacinas garantidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para
toda a população brasileira, num amplo processo de prevenção desenvolvido
através de campanhas informativas, evitando a proliferação de determinadas
doenças e mantendo o controle de muitas delas.
Para o infectologista Jamal Suleiman, o
governo perdeu tempo precioso aguardando o resultado da consulta pública.
Ontem recebi em minha casa uma pessoa que
queria saber se eu autorizaria a vacinação dos meus dois netos. Fiquei perplexa
com a pergunta. A pessoa havia cumprido um extenso calendário de vacinas
proposto pelo SUS para sua filha, quando pequena.
Me lembrei de Ariano Suassuna e suas histórias
contadas no Youtube: “Uma vez veio uma pessoa na minha casa e disse: ‘eu vim
aqui dizer um bocado de coisa que você não vai gostar… então eu disse, não diga
kkk.” (Youtube visita chata). Mas, logo identifiquei no olhar da criatura a
angustia que é imposta a parte da população através de insultos e mentiras
(fake News) pelo governo, neste tempo de pandemia.
Então fui mais longe e me lembrei da época
da varíola, no Ceará, quando eu tinha 12 anos na década de 1950.0 A minha
família e quase toda população da cidade inteira (Ipu) foi acometida pela
doença que fazia grande número de vítimas, e para muitos era mortal.
Havia um médico na cidade, Dr. Tomaz de
Araújo Correia, falecido aos 100 anos de idade, em 2020, de Covid-19. Ele
visitava as casas dos doentes, distribuía medicação para febre e materiais de
higiene. Mais curioso, distribuía folhas de bananeiras para que as pessoas
doentes, evitando que as feridas produzidas pela varíola fizessem aderência aos
tecidos dos lençóis.
O efeito dessa doença no Brasil e no mundo
foi devastador, fazendo mais de 300 milhões de vítimas no período de 80 anos em
que esteve ativa e somente foi considerada erradicada no dia 8 de maio de 1980
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar da primeira vacina ter sido
criada no século XVIII, em 1796, pelo médico britânico Edward Jenner, também
conhecido como o pai da imunologia.
No entanto, a vacina contra a varíola
somente chegou ao Brasil em 1804, trazida pelo Marquês de Barbacena,
tornando-se obrigatória efetivamente em 1904, por influência do médico
sanitarista Osvaldo Cruz. (Instituto Butantan)
Portanto, não há o que temer, muito menos
querer protagonizar nova revolta da vacina, como ocorreu no início do século
passado, no Rio de Janeiro.
O direito a saúde é garantido pelo SUS e
está escrito na nossa Constituição. Além disso, a população brasileira sabe por
experiência própria que a vacinação faz parte fundamental do processo de
prevenção às doenças.
Fundamental é fortalecer o SUS e garantir
informação com transparência à população.
Viva o SUS!
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário