Folha de S. Paulo
Os quatro anos de massacre, sabotagem ou
asfixia podem ter chegado ao fim
Começou, sem exagero, um minuto depois do
fim da apuração e dos primeiros fogos: uma explosão coletiva, comparável à
notícia do fim de uma guerra — e foi mesmo uma guerra. Os telefones dispararam,
e não apenas para a troca de gritos eufóricos, suspiros de alívio e desabafos
comovidos.
As vozes do outro lado já falavam de projetos reprimidos, sabotados ou asfixiados e que talvez possam agora se materializar. Palavras como edital, concorrência, bilheteria, elenco, ensaio, estreia, que se temia extintas da língua, reapareceram nas frases empolgadas de pessoas loucas para trabalhar. Era o teatro, o cinema, a música, as artes plásticas, a literatura, a poesia e tantas formas de expressão voltando à vida.
Graças a um simples ponto percentual,
talvez se esteja na iminência de uma renascença criativa no Brasil. Ideias
engavetadas têm uma chance de saírem do sonho para os salões, palcos, telas,
vídeos e livrarias. É hora de saber quem não desistiu e continuou a criar em
imaginação, mesmo diante de uma realidade tão boçal.
Depois de quatro anos de massacre, será
preciso ver o que sobrou da centenária UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), com seus cinco campi, 65 mil estudantes, nove hospitais e mais de mil
laboratórios, condenada pelo governo federal a não ter sequer papel higiênico
nos banheiros. De templos como a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, o Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Fundação Casa de
Rui Barbosa, a Fundação Palmares, museus, conservatórios, institutos de
pesquisa, muitos mais.
Os executores do desmonte ou prostituição
da educação e da cultura nunca poderão nos pagar pelos livros, filmes, peças,
exposições e canções que não vieram à luz porque seus criadores tiveram de
abandoná-los. Mas aí estará a vingança desses criadores: botar tudo que puderem
para fora e dizer "Chupem!".
2 comentários:
Os principais ou maiores cantores sertanejos não pareciam estar tão incomodados ou "asfixiados"... Não vi algum reclamando na propaganda política do GENOCIDA. Todos estavam bem felizes e contentes, propondo a continuidade e a reeleição do Minto... Inclusive nosso craque e artista do futebol Neymar...
Aleluia,eu nem acredito!
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