sábado, 6 de dezembro de 2025

Ungido pelo pai, Flávio Bolsonaro anuncia pré-candidatura, por Vinicius Doria

Correio Braziliense

O filho de Jair Bolsonaro, preso na Polícia Federal, anuncia candidatura à Presidência da República e diz que conta com a bênção do ex-presidente. Mercado, que torce por Tarcísio, reage, com Bolsa caindo 4,31% e dólar subindo a R$ 5,43

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou, nesta sexta-feira (5), que será o nome da família na disputa à Presidência da República, no ano que vem. Ele assegurou a aliados que a decisão foi tomada pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o orientou a viajar pelo país para consolidar a pré-candidatura. A escolha foi definida na última terça-feira, após Flávio visitar o pai na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos de prisão por liderar uma conspiração golpista.

"É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação. Eu não posso, e não vou, me conformar ao ver o nosso país caminhar por um tempo de instabilidade, insegurança e desânimo. Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto vejo a esperança das famílias sendo apagada e nossa democracia sucumbindo", anunciou Flávio, em uma rede social.

No texto, em que cita Deus seis vezes, Flávio Bolsonaro dá indicações sobre temas prioritários que devem mobilizar sua pré-campanha, ao dizer que "aposentados são roubados pelo próprio governo, narcoterroristas dominam cidades e exploram trabalhadores, estatais voltaram a ser saqueadas, novos impostos não param de ser criados ou aumentados, e nossas crianças não têm expectativas de futuro".

O senador deve coordenar, em nome do bolsonarismo, as negociações para a montagem dos palanques estaduais com outras forças políticas. A escolha de seu sucessor era esperada há meses por aliados de Jair Bolsonaro, desde que ele ficou inelegível por decisão da Justiça Eleitoral em processo de abuso do poder político e econômico. Agora, é da prisão — e por meio de quem o visita — que o ex-presidente acompanha a disputa intrafamiliar pelo espólio político dele e dispara comandos para seus seguidores.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também era apontada como nome possível da ala bolsonarista no pleito presidencial. Ela e Flávio chegaram a divergir publicamente, na semana passada, por causa da aliança que o PL negociava no Ceará com o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) — com apoio dos quatro filhos do ex-presidente — para enfrentar o governador Elmano de Freitas (PT), favorito à reeleição em 2026 segundo todas as pesquisas de intenção de votos até agora. Prevaleceu a posição de Michelle, contrária ao apoio a Ciro.

De acordo com colegas de partido, Jair Bolsonaro pediu que Flávio, ao percorrer o país, assuma postura mais combativa em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve disputar a reeleição. O objetivo é reavivar a polarização entre direita e esquerda que conduziu Jair à Presidência, em 2018, quando Lula estava preso em Curitiba, sem condições legais para disputar a eleição.

O deputado Eduardo Bolsonaro, que se mudou para os Estados Unidos para sair do alcance da Justiça, elogiou a escolha do pai e defendeu a pré-candidatura do irmão mais velho. "Meu irmão erguerá a bandeira dos ideais do nosso pai, será o rosto da esperança em meio ao medo; da liberdade em meio à opressão, representará todos aqueles que se recusam a se ajoelhar diante da tirania", escreveu.

Michelle Bolsonaro, por sua vez, limitou-se a repostar no Instagram a nota oficial do partido acrescida de uma pequena mensagem de boa sorte ao enteado mais velho. "Que Deus te abençoe, Flávio, nesta nova missão pelo nosso amado Brasil", escreveu ela. Michelle e Flávio foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes a visitar Jair Bolsonaro na próxima terça-feira, separadamente, por meia hora.

Falou, tá falado

Nas hostes do PL, dividido entre o carisma de Michelle e a liderança de Jair, a escolha do nome do primogênito para suceder o pai nas urnas foi bem recebida e aclamada imediatamente. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, postou em sua conta no Instagram que "se Bolsonaro falou, está falado".

"Como presidente do PL, informo que o senador Flávio Bolsonaro é o nome indicado por Jair Bolsonaro para representar o partido na disputa presidencial. Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua candidatura. Seguiremos juntos, trabalhando com responsabilidade e compromisso com o Brasil", postou o cacique do PL. 

 “Beijo da morte”

No Centrão, a reação foi comedida.  Sem citar o nome do senador,  o  copresidente da federação partidária União Brasil-Progressistas, Antônio Rueda, declarou que o caminho do bloco “não é o do confronto estéril, mas o da construção”, demonstrando desconforto com expectativa de uma repetição da polarização política nas próximas eleições.

“Os últimos acontecimentos apenas reforçam o que sempre defendemos: em 2026, não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério, responsável e voltado para os reais interesses do povo brasileiro”, comentou Rueda.

Para a base governista, segundo apuração do Correio, o anúncio da família Bolsonaro fragiliza uma possível candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), e aumenta o potencial de vitória de Lula no ano que vem.

Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), a decisão de Jair Bolsonaro ungir o filho 01 para a corrida presidencial já era esperada. O deputado avalia que o nome de Tarcísio não seria aceito pela ala mais ideológica do bolsonarismo. “O nome do Tarcísio seria o beijo da morte para a família Bolsonaro. Os marqueteiros do Tarcísio e do Centrão iriam trabalhar para esconder e construir uma política de apagamento do Bolsonaro. Ele seria esquecido na prisão. Para nós, o nome do candidato é indiferente”, declarou o líder em uma postagem.

A aposta, entre os governistas, continua sendo a de que Tarcísio disputará a reeleição para o governo paulista, hipótese que ganhou força com a entrada de Flávio na corrida pelo Palácio do Planalto.

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