quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

BC prevê queda da inflação a 3%

A afirmação do presidente do BC, Ilan Goldfajn, de que o Brasil poderá ter, a longo prazo, meta de inflação de 3% foi vista por analistas como estratégia para dar credibilidade à política de juros. Mas, para economistas, isso só será possível quando as reformas forem aprovadas e o país voltar a crescer.

Presidente do BC vê meta de inflação de 3% a longo prazo

• Declarações de Ilan sobre ‘swap’ cambial levam dólar a R$ 3,152

João Sorima Neto, Ana Paula Ribeiro | O Globo

SÃO PAULO- O Brasil poderá ter, a longo prazo, uma meta de inflação de 3%, semelhante à de outros países emergentes. A afirmação foi feita ontem pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, durante a 2017 Latin America Investment Conference, em São Paulo, evento com investidores nacionais e estrangeiros promovido pelo banco de investimentos Credit Suisse. Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que isso é possível, mas apontam um obstáculo: o histórico de indexação da economia brasileira.

Ilan disse que a instituição já trabalha com uma inflação de 4,4% este ano e 4,5% em 2018, ou seja, dentro do centro da meta. O presidente Michel Temer, que fez o discurso de abertura do evento, também afirmou que a inflação deste ano já poderá ficar abaixo de 4,5%. Essas projeções são mais otimistas que as do mercado financeiro. O último boletim Focus, compilado pelo BC com bancos e consultorias, aponta uma expectativa de inflação para este ano de 4,80%.

BOLSA DE SP TEM ALTA DE 0,57%
Segundo Ilan, com a ancoragem das expectativas para uma inflação no centro da meta nos próximos anos, a autoridade monetária poderá intensificar o ritmo de queda de juros. Ele afirmou que, em junho, o BC vai estabelecer a meta de inflação para 2019. Ilan não revelou se o centro da meta permanecerá nos atuais 4,5%, mas disse que, a longo prazo, a tendência é reduzir esse patamar:

— No longo prazo, devemos caminhar para uma meta de 3%. Por enquanto, buscamos os 4,5%. Mas será bom tomar a decisão do centro da meta para 2019 com as expectativas ancoradas — disse o presidente do BC a uma plateia de investidores.

José Milton Dallari, sócio da consultoria Decisão e especialista em preços, afirma que, se a inflação fechar 2017 no centro da meta (4,5%), em quatro ou cinco anos será possível reduzi-la a 3%. Dallari, que ficou conhecido como o “xerife dos preços” no governo Fernando Henrique Cardoso, avalia que a indexação da economia brasileira ainda atrapalha e que será preciso conter a chamada “inflação inercial” para tornar factível uma meta menor.

— É preciso discutir a indexação de contratos a índices de inflação ou ao salário mínimo. O aluguel, por exemplo, poderia ser ajustado de acordo com as condições do mercado, seguindo a lei de oferta e procura — disse Dallari.

Ilan afirmou que a queda de juros abre espaço para uma recuperação econômica, mas ponderou que essa retomada também depende de outras medidas, entre elas reformas que já estão em andamento, como a fiscal e a da Previdência. Ele citou ainda as reformas trabalhista e tributária, que estão na pauta do governo, como medidas importantes para fazer a economia voltar a crescer.

— Essas reformas elevam a produtividade do país e ajudam na recuperação econômica — disse o presidente do BC, lembrando que essas mudanças também ajudam a melhorar o ambiente de negócios.

Ilan sinalizou ainda que o BC pode voltar a reduzir os estoques de swaps cambiais (operações que equivalem a uma venda de moeda no mercado futuro), o que fez o dólar ganhar força ontem — o mercado interpretou os comentários do presidente da autoridade monetária como a avaliação de que a valorização do real foi além do esperado. Na mínima, a moeda americana chegou a R$ 3,103, um recuo de 0,83%, mas, depois que os investidores digeriram os comentários de Ilan, o dólar encerrou o dia a R$ 3,152, uma alta de 0,73%. No mês, porém, a divisa acumulou queda de 3,1%.

O presidente do BC ressaltou que há um volume de US$ 7 bilhões em contratos de swap que vencem em 1º de março e que eles poderiam ser renovados parcialmente, ou mesmo nem haver rolagem. A exposição do BC a esse tipo de contrato passou de US$ 108 bilhões para cerca de US$ 26 bilhões.

— Mas isso não significa que não possamos reduzir esse estoque no futuro — disse Ilan, o que bastou para colocar o dólar em trajetória de alta.

No início de janeiro, o BC anunciou a rolagem de pouco mais de US$ 6 bilhões, que venciam hoje. Na ocasião, temia-se que a posse de Donald Trump nos Estados Unidos pudesse levar volatilidade aos mercados — o objetivo da rolagem era manter a liquidez. Mas essa estratégia, somada à captação de empresas no exterior, empurrou o dólar para baixo.

— O BC anunciou a rolagem dos contratos que venciam em 1º de fevereiro temendo os efeitos da posse de Trump. Mas, mesmo com essa incerteza, o fluxo de recursos foi positivo para o país e deve continuar assim em fevereiro, então é oportuna a estratégia de voltar a reduzir os estoques de swap cambial — disse Italo Abucater, gerente de câmbio da Icap do Brasil Corretora.

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou 0,57%, aos 64.670 pontos, acumulando alta de 7,4% no mês. O desempenho da Petrobras contribuiu: as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) subiram 1,21%, a R$ 15,02, e as ordinárias (ON, com voto), 0,30%, a R$ 16,19.

Nenhum comentário: