• Trabalho. 2016 fechou com a maior taxa da série iniciada em 2012 e com número recorde de desempregados, 12,342 milhões; IBGE, porém, vê sinal positivo, pois aumentou o contingente de pessoas procurando ocupação, o que revela certo otimismo com o mercado
Daniela Amorim | O Estado de S. Paulo
RIO - O mercado de trabalho no País encerrou o ano de 2016 com novo recorde na taxa de desemprego: 12%, o patamar mais alto já registrado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O último trimestre do ano coleciona ainda outras duas piores estatísticas já apuradas: o total de desempregados bateu 12,342 milhões, enquanto o montante de trabalhadores com carteira assinada diminuiu em 1,398 milhão.
A situação ainda deve se agravar nas próximas leituras, segundo especialistas. Analistas preveem novas elevações na taxa de desemprego, mas enxergaram alguns sinais positivos nos dados divulgados ontem pelo IBGE. O mercado de trabalho reagiu ao movimento sazonal de geração de vagas temporárias no fim do ano, com a criação de 427 mil novos postos de trabalho no último trimestre de 2016 em relação ao trimestre imediatamente anterior, fenômeno que não tinha ocorrido em 2015.
Até mesmo o aumento de 320 mil pessoas na fila por uma vaga foi considerado positivo pelo IBGE, porque seria um sinal de redução no desalento, fenômeno que ocorre quando pessoas que gostariam de trabalhar deixam de procurar emprego por acreditarem que não conseguiriam uma vaga.
“Sem dúvida é um alento (o aumento no número de ocupados ante o terceiro trimestre). Não teve redução na taxa de desocupação porque aumentou também a população que está pressionando o mercado de trabalho. Essa pressão é ruim? Não, porque essas pessoas estão percebendo um mercado melhor”, justificou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Otimismo. Apesar da crise no emprego, o maior otimismo na perspectiva da população em encontrar uma vaga fez a força de trabalho ganhar 747 mil pessoas na passagem do terceiro para o quarto trimestre. Como consequência, a população inativa encolheu 98 mil pessoas.
“Sinal que a população está saindo do desalento”, avaliou Azeredo. “É muito cedo para dizer que é um sinal positivo. A grande interrogação é esse se processo vai se consolidar.”
Segundo o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria Integrada, entretanto, ainda não há sinais de estabilidade no processo de deterioração do mercado de trabalho. A recuperação será lenta, acompanhando a melhora gradual da atividade econômica em 2017. A projeção da Tendências é que o desemprego atinja seu ápice apenas ao final do primeiro trimestre deste ano, com a taxa de desocupação a 14% e 14 milhões de pessoas desempregadas.
“Nossa projeção está subsidiada pela perspectiva de uma atividade melhor neste ano, com a ajuda do afrouxamento monetário que está sendo promovido pelo BC, mas, como a retomada da economia será lenta, a recuperação do mercado de trabalho, que tem efeito defasado, também deve ser devagar”, disse Xavier, que espera um desemprego médio de 13% em 2017 ante 11,5% em 2016.
O economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, acredita que o nível de desemprego possa chegar a 13,8% no fim do ano, dado o impacto tardio da recessão econômica. Mas ele considera uma boa notícia o aumento recente na força de trabalho, porque sugere que as pessoas estão voltando a ficar confiantes a buscar emprego. “O aumento do desemprego já era algo esperado, mas não um crescimento tão forte da força de trabalho”, apontou Donato, que também comemorou a pequena geração de vagas entre os últimos trimestres do ano passado.
Segundo Cimar Azeredo, os postos de trabalhos criados recentemente ainda estão concentrados na informalidade. / Colaboraram Maria Regina Silva e Thaís Barcellos
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