Valor Econômico*
O presidente Jair Bolsonaro cumpriu ontem
sua última etapa da viagem pelo leste europeu com uma visita à Hungria do
primeiro-ministro Viktor Orbán, político populista de extrema-direita que está
em campanha eleitoral para tentar se reeleger para um quarto mandato
consecutivo.
Um dia depois de ter se reunido em Moscou
com o presidente russo, Vladimir Putin, Bolsonaro desembarcou na Hungria para
uma agenda de apenas algumas horas na capital Budapeste.
Para Bolsonaro, a visita pode ter o efeito
de reforçar sua imagem de líder da direita alinhado com um dos nomes que
personificam essa corrente na Europa.
"Considero o seu país nosso pequeno grande irmão. Pequeno se levarmos em conta as diferenças nas respectivas extensões territoriais. E grande pelos valores que representamos e que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade", afirmou Bolsonaro, na abertura de seu discurso na sede do governo húngaro. "O prezado Orbán eu trato praticamente como um irmão, dadas as afinidades que temos na defesa dos nossos povos e integração dos mesmos".
Bolsonaro tornou-se o primeiro presidente
do Brasil a fazer uma visita oficial ao país.
O encontro ocorreu num momento de piora do
quadro que há semanas domina as atenções na região: uma possível operação
militar da Rússia na Ucrânia. Putin havia anunciado esta semana que as tropas
russas recuariam, mas o que se viu na sequência foi que isso não se confirmou -
colocando novamente no horizonte a possibilidade de uma guerra.
Bolsonaro disse que trocou com o líder
húngaro “algumas impressões” sobre a possibilidade de um conflito e que este
não interessaria a ninguém. "A guerra não interessa a ninguém, não
interessa o mundo que dois países entrem em guerra porque todo mundo perde com
isso, em especial a vizinhança".
Na avaliação de Oliver Stuenkel,
pesquisador e professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas
(FGV), a viagem à Hungria não tem justificativa sólida do ponto de vista
econômico.
Um comunicado divulgado pelo Itamaraty
afimou, sem detalhes, que foram assimados “memorandos de entendimento sobre
gestão de recursos hídricos e saneamento, ajuda humanitária a cristãos
perseguidos e cooperação em matéria de defesa.”
Na leitura de Stuenkel, a visita de
Bolsonaro serve ainda a outro contexto: a produção pró-Orbán que vem
borbulhando nas redes sociais americanas mais ligadas ao ex-presidente Donald
Trump, numa espécie de aliança informal entre integrantes de movimentos de
direita.
A visita a Orbán, portanto, disse o
pesquisador, serve a Bolsonaro para que ele acene para esse eleitorado mais à
direita.
Antes da reunião com o premiê húngaro, o
brasileiro foi recebido pelo presidente da Hungria, János Áder, que mencionou a
questão da preservação da Amazônia. Bolsonaro reagiu como se o desmatamento não
fosse um problema real.
"Muitas vezes as informações sobre
esta região chegam para fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se
nós fôssemos os grandes vilões na preservação da floresta e sua destruição,
coisa que não existe”, disse Bolsonaro. “Preservamos 63% do nosso território e
não se encontra isso em praticamente nenhum outro país do mundo. Nós nos
preocupamos até mesmo com reflorestamento, coisa que não vejo nos países da
Europa como um todo", atribuindo supostos interesses estrangeiros em prejudicar
o agronegócio brasileiro.
O desmatamento na Amazônia vem tendo
sucessivas altas. E a gestão Bolsonaro tem sido marcada desde o início por uma
série de declarações e medidas consideradas contrárias à preservação ambiental.
Monitoramento do próprio governo mostra que
o desmatamento na Amazônia em 2021 foi o maior dos últimos 10 anos.
O primeiro compromisso de Bolsonaro no
Brasil será uma visita à cidade de Petrópolis (RJ), devastada pelas
chuvas.
*(Colaboraram Jussara Soares,
de Moscou; Matheus Schuch, de Brasília; e Marta Watanabe, de São Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário