Valor Econômico
Emendas orçamentárias e confiança dos cidadãos elevam chances de reeleição de prefeitos
O ano de 2016 foi um ano difícil para os
prefeitos. A tempestade perfeita que desabou sobre a política brasileira, numa
conjunção de ventos desfavoráveis que começaram a soprar com as jornadas de
junho de 2013, ganharam impulso com a Lava Jato e haviam feito de Dilma
Rousseff sua primeira vítima, finalmente tinha chegado nas cidades de todo o
país.
Como meteorologistas, institutos de pesquisa
captam as condições de temperatura e pressão para indicar a situação de momento
da política, mas o acúmulo dos dados ao longo dos anos nos permite verificar os
eventos climáticos que afetam uma dada região.
O instituto Ipec, desde os tempos que a equipe comandada por Márcia Cavallari estava abrigada no extinto Ibope, afere o Índice de Confiança Social, pesquisa quantitativa que mede a confiança da população em duas dezenas de instituições públicas e privadas - de partidos políticos ao corpo de bombeiros, passando por Forças Armadas, bancos e meios de comunicação.
A Presidência da República, então ocupada por
Dilma Rousseff, sofreu seu primeiro revés em 2013. Em meio à onda de protestos
de rua, a confiança da população caiu de 63 pontos no ano anterior (numa escala
de 0 a 100) para 42. Dois anos depois, durante o processo de impeachment, foi a
22. Houve uma pequena recuperação em 2016, quando subiu para 30, mas despencou
de novo com Temer e o Joesley Day, chegando a míseros 13 pontos em 2018, ano de
eleição de Jair Bolsonaro.
Movimentos similares foram captados pelo Ipec
em relação a outras instituições políticas nacionais, como os partidos
políticos, o Congresso Nacional e o sistema eleitoral.
No caso dos prefeitos, que haviam passado
relativamente incólumes no vendaval das manifestações (seu índice de confiança
caiu de 45 para apenas 41 em 2013), a onda negativa chegou com força mesmo em
2016. Naquele momento, sua credibilidade bateu no fundo do poço, marcando o
mínimo de 32 pontos na série histórica iniciada em 2009.
Àquela altura, todo o sistema político
brasileiro já se encontrava em frangalhos. Além da destituição de Dilma,
dezenas de políticos de diferentes matizes partidários haviam sido presos ou
estavam sendo processados pela operação Lava Jato. Para piorar, o Supremo
Tribunal Federal proibiu as doações de campanha feitas por empresas, a
principal fonte de dinheiro que candidatos bem relacionados com a elite
econômica contava para se reeleger.
Com conexões políticas abaladas e sem a grana
dos empresários, os prefeitos da época se viram diante de muitas turbulências.
Não surpreende, portanto, que aquele ano registrou a menor a taxa de reeleição
para o cargo: 47,5%. Não é coincidência que nessa eleição colou o discurso de
que “não precisamos de políticos, mas sim de bons gestores”, levando ao poder
velhas novidades como o empresário João Doria em São Paulo e o cartola de
futebol Alexandre Kalil em Belo Horizonte.
Como se pode ver no gráfico, existe uma alta
correlação entre o índice de confiança nos prefeitos, calculado pelo Idec, e a
taxa de reeleição dos governantes municipais. A onda dos “gestores” passou, e
quatro anos depois, com a população premida entre a pandemia e a crise
econômica, de um lado, e um presidente negacionista de outro, os
administradores locais foram revalorizados. Nas eleições passadas, com o índice
de confiança nos prefeitos de volta ao patamar de 46 pontos, o percentual de
prefeitos que conseguiram um novo mandato chegou a 63,1% - o mais elevado desde
2008.
Daqui a dois meses iremos às urnas para
escolher os dirigentes das nossas cidades num novo ciclo de quatro anos. Nas
últimas semanas, com a realização das convenções partidárias, intensificaram-se
as negociações para as formações das chapas e as redes sociais já estão
inundadas de postagens de pré-candidatos. Aos poucos, os nomes dos candidatos
começam a ser citados com maior frequência nas conversas cotidianas.
A se contar pelo índice de confiança do Idec,
o cenário é favorável para a reeleição dos prefeitos. Na edição deste ano da
pesquisa, o indicador alcançou a marca de 55 pontos, a mais alta desde que o
instituto começou a fazer essa enquete. E não se trata de dado isolado: durante
o atual quadriênio, a medida sempre ficou acima dos 50 pontos e a marca atual
dos prefeitos é superior à avaliação do governo federal (51), do presidente da
República (47), do Congresso Nacional (40) e dos partidos políticos (33).
Além disso, dinheiro não é mais um problema
para os governantes municipais. Além dos R$ 4,9 bilhões do fundão eleitoral
(que costuma privilegiar políticos que já têm cargo), as prefeituras foram
abastecidas com outras dezenas de bilhões das emendas parlamentares nos últimos
anos.
Com os cofres cheios e a confiança em alta,
quem tenta um novo mandato sai na frente na corrida eleitoral deste ano.
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