Valor Econômico
Protestos contra aumento de tarifas do
transporte público voltam a ganhar protagonismo
Força motriz dos protestos que convulsionaram
o Brasil em 2013, o Movimento Passe Livre (MPL) voltou aos holofotes na
quarta-feira (10), quando reuniu centenas de pessoas no centro de São Paulo
para protestar contra o aumento da tarifa do metrô e do trem que subiu para R$
5,00.
Difícil não evocar, a partir do reajuste de
60 centavos, uma das palavras de ordem das manifestações de 11 anos atrás: “não
é só pelos 20 centavos”. Naquele ano, a indignação coletiva pelo preço da
passagem cresceu, e voltou-se para os gastos com a Copa do Mundo de 2014, a
qualidade dos serviços públicos e a corrupção na política.
É prematuro avaliar se os protestos deste ano, ainda tímidos, ganharão tração para se alastrar país afora. Mas é possível assegurar que o passe livre e a mobilidade urbana estarão entre os principais temas das eleições municipais, ao lado de segurança pública, saúde e educação.
Faixas estendidas diante do Teatro Municipal
cobravam: “Passe livre para o povo já”. O MPL quer a gratuidade do transporte
em todos os municípios; que o benefício seja assegurado no dia das eleições; e
comemoram a tarifa zero implantada na capital paulista aos domingos.
A iniciativa do prefeito Ricardo Nunes (MDB),
pré-candidato à reeleição, de implantar a tarifa zero aos domingos e
determinados feriados, como Natal, Ano Novo e aniversário da capital (25 de
janeiro), irritou adversários, que o chamaram de “oportunista”. O benefício
começou a vigorar em dezembro, a menos de um ano da eleição.
Os cães ladram, a caravana passa, e Nunes
farejou o potencial eleitoral do movimento que ganhou corpo na última década e
espalhou-se pelo país, ao ponto de quase 100 municípios - cerca de 2% das
cidades brasileiras - oferecem tarifa zero plena ou parcial para a população.
Nunes atribuiu o investimento ao aumento de
receita: a prefeitura deixará de arrecadar cerca de R$ 280 milhões por ano. Em
contrapartida, estima-se que 2 milhões de paulistanos sejam favorecidos. A
medida alcançará a população de baixa renda que aproveitará para visitar
parentes ou amigos que moram longe; jovens da periferia que buscam cultura e
lazer em outros pontos da cidade; ambulantes.
A medida não favorece, contudo, desempregados
sem recursos para se deslocar em busca de emprego. Mesmo assim, aliados do
prefeito dizem que o resultado superou as expectativas. Pesquisas que circulam
no MDB mostram que 80% dos paulistanos tiveram conhecimento da iniciativa, e
90% a aprovaram.
“Os adversários com dor de cotovelo dizem que
o Ricardo Nunes foi oportunista, mas ele aproveitou a oportunidade pra atender
os mais pobres, e tem muita entrega para quem mais precisa, é a marca da
administração”, disse à coluna o presidente do MDB e coordenador da
pré-campanha do prefeito, Baleia Rossi.
Ele acrescentou que a Fundação Ulysses
Guimarães tem técnicos debruçados sobre o tema para ampliar o alcance da medida
em São Paulo, e implantá-la em outras cidades governadas pelo partido. “A
tarifa zero será bandeira do MDB”, afirmou.
Em outra frente, a equipe de Guilherme Boulos
(Psol), principal adversário de Nunes, estuda como reagir. O PT - que terá a
vice na chapa, com a ex-prefeita Marta Suplicy - não tem precedentes dessa
dimensão nas vezes em que administrou a capital. Em 1991, na gestão de Luiza
Erundina (hoje no Psol), a tarifa zero valeu exclusivamente para um bairro.
Marta criou o bilhete único, cujos créditos valem para o ônibus e metrô.
Entre os poucos municípios que oferecem
tarifa zero para a população, Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza
(CE), é a cidade mais populosa, com cerca de 400 mil habitantes.
O prefeito Vitor Valim (PSB) que assumiu em
2021 disse à coluna que a preocupação em movimentar a economia na pandemia
acelerou o lançamento do programa, que já estava em estudo na campanha.
A iniciativa é mantida com recursos da
prefeitura: cerca de 3% ao mês do orçamento anual de cerca de R$ 1,4 bilhão.
Segundo Valim, a medida contribuiu para aquecer o comércio, aumentar a
arrecadação municipal e integrar as três regiões da cidade, que equivale, em
extensão territorial, a “três Fortalezas” - sertão, litoral e zona central.
“Tem morador de Caucaia que vivia no sertão,
a 70 quilômetros do litoral, e com o ônibus gratuito, viu o mar pela primeira
vez”, diz o prefeito. No plano econômico, dados da Câmara de Dirigentes
Lojistas (CDL) mostraram que no primeiro ano de vigência da tarifa zero, houve
um incremento no comércio de 30% (2021 para 2022).
O próximo passo é viabilizar uma
transferência de renda - a partir da economia das empresas com vale-transportes
- para trabalhadores com carteira assinada - ideia já avançada com sindicatos e
a CUT local. Valim diz que com “vontade política”, é possível viabilizar a
gratuidade.
O programa de Caucaia inspirou o VaiVem
criado pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), que beneficia
estudantes. Em maio, começará a atender desempregados e pessoas de baixa renda,
e ele estuda ampliar o benefício para o metrô. Medida que passa longe dos
planos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para
irritação de Nunes.
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