O Estado de S. Paulo
Ao ‘adiar’ operações militares, governo Lula adia na prática as relações com os Estados Unidos
Por mais que as Forças Armadas e o Itamaraty
tentem manter frieza e minimizar o envio de navios dos EUA à costa da Venezuela
e de um avião branco, sem bandeira e com agentes da CIA, ao sul do Brasil, é
claro que os movimentos de Donald Trump em direção ao mundo, à América Latina e
diretamente à América do Sul e ao Brasil não são naturais nem tradicionais.
A última operação militar americana na região foi o Plano Colômbia, contra os cartéis colombianos, um quarto de século atrás. Com uma diferença crucial: foi uma ação combinada entre os governos dos EUA e da Colômbia, com apoio internacional, não de um governo contra o outro, como agora, o que afeta todos os países da região.
O avião no Brasil, vá lá, até porque não é novidade
e tinha autorização da Defesa. Mas destróieres e três navios de guerra? Sob o
pretexto do combate ao crime organizado? Nos bastidores, as falas do governo
brasileiro tentam passar tranquilidade, com cuidado para não aumentar a tensão.
Na prática, porém, as ações e recados de Trump são sequenciais e a cada dia
mais ameaçadores. Não é possível naturalizá-los.
Trump usa o combate ao crime organizado para
mandar os navios e recorre às falsas alegações de “caça às bruxas”, “censura” e
“ditadura do Judiciário” para atacar o Brasil. Agora, Lula, Itamaraty e Forças
Armadas usam pretextos para “adiar” (leia-se: cancelar) operações militares com
os EUA: das duas Marinhas em Formosa (GO), em setembro, e a Core, dos dois
Exércitos em Petrolina (PE), em outubro. De quebra, também estão suspensas as
operações Arandu, com a Argentina, e Minuano, com o Uruguai.
Em nota de três linhas para os três
comandantes, o ministro da Defesa, José Múcio, pediu que estudem “a
possibilidade de adiamento das atividades”. A explicação oficial, posterior,
foi orçamento apertado e concentração de recursos na COP-30, em Belém, e... na
Operação Atlas, de Exército, Marinha e FAB, em outubro. Adivinha onde? Na
fronteira da Venezuela.
Mesmo quando os EUA grampearam o telefone da
então presidente Dilma Rousseff, em 2015, a reação foi política e diplomática,
sem interrupção dos acordos de cooperação, inclusive na área militar. Logo, o
recado agora é claro. Com tanta tensão, meia palavra (ou meia linha) basta para
deixar claro que não há clima, nem vontade de qualquer operação militar com os
EUA.
As três Forças mantêm centenas de militares
nos EUA, cem deles só do Exército, inclusive para compras governamentais, mas
as relações Brasil-EUA, que têm 200 anos, estão “adiadas”, ao menos até o
desfecho do avanço de Trump sobre a Venezuela e do julgamento de Bolsonaro e
sabe-se lá até quando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário