Valor Econômico
Duas questões exigirão atenção máxima dos
governistas: o risco de vitimização de Bolsonaro e a CPMI do INSS
Com a política em chamas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tripudiou ontem, no interior paulista: “Um mandato do Lula
incomodou muita gente, dois mandatos incomodaram muito mais, três mandatos
muito, muito mais, imagina se tiver o quarto mandato”.
Lula faz graça quando todos estão doidos por uma certeza inapelável e fatal do destino do país após as eleições de 2026. Voltando no tempo, quando a Europa era um barril de pólvora em meados dos anos 30, a apreensão era tamanha que o então vice-cônsul em Hamburgo, Guimarães Rosa, decidiu consultar-se com Frau Heelst, a famosa horocopista de Hitler. Perguntou à astróloga se haveria guerra. Conto a resposta no final da coluna.
De volta ao presente, e ao nosso cenário de
incertezas, a percepção de interlocutores do governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), é que duas variáveis envolvem sua eventual
candidatura presidencial.
A primeira delas é a instabilidade da família
Bolsonaro. Nessa quinta-feira (21), a coluna ouviu de um empresário
bem-informado que espera ver o governador na corrida sucessória, que “se
Bolsonaro não atrapalhar, Tarcísio será candidato [a presidente]”.
Publicamente, o mandatário tem reiterado que disputará a reeleição.
Nessa semana, a turbulência na cúpula do
bolsonarismo, que contamina a direita, ficou ainda mais evidente na troca de
mensagens em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), xingou o pai de “Ingrato
do c...” Em outro trecho, sugeriu que Tarcísio não seria um aliado confiável
porque não atuaria pela anistia: “Se o sistema enxergar no Tarcísio uma
possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer”.
No fim de semana, os tiros partiram do
vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que chamou de “ratos” os governadores que
miram o capital político do ex-presidente para disputarem a sucessão. O recado
velado teve como alvos os governadores Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Romeu
Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, além de
Tarcisio.
“Tentei, até agora, ser a pessoa mais
paciente possível diante desses chamados governadores democráticos”, publicou
Carlos. “Todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e
não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater (..) Querem apenas
herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e
patética”, disparou. Eduardo compartilhou.
A segunda variável que pode influenciar a
decisão de Tarcísio sobre concorrer ao Planalto é a conjuntura econômica. Um
aliado do governador ponderou à coluna que o esperado alívio em índices
macroeconômicos em 2026, como a queda dos juros e da inflação, pode favorecer a
reeleição de Lula. Segundo o boletim Focus, a inflação projetada para 2026 é de
4,40%, com Selic na casa de 12,5%.
Em paralelo, o governo espera que a partir de
janeiro, cerca de 10 milhões de brasileiros sejam beneficiados com a ampliação
da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Com a
bondade, o governo estima que 65% dos declarantes do IR pessoa física, uma
massa de 26 milhões de pessoas, estarão livres do tributo, e com mais dinheiro
no bolso.
A nova pesquisa Quaest, divulgada nessa
semana, mostrou que Lula ganhou fôlego eleitoral, ao se descolar de adversários
no segundo turno. O petista agora aparece com vantagem de 8 pontos sobre
Tarcísio. Na pesquisa anterior, em julho, o cenário era de empate técnico. A
rejeição ao petista caiu de 57% em maio para 51% em agosto, enquanto a do
governador paulista cresceu 6 pontos, para 39%. A desaprovação ao governo
continua maior, mas a diferença caiu para 5 pontos percentuais, sendo que foi
de 17 pontos em maio.
Entre aliados de Lula, uma preocupação,
entretanto, é a desconexão entre os indicadores favoráveis da economia e a
percepção dos brasileiros. A taxa de desocupação é uma das menores da série
histórica, em 6,2%. No entanto, para 55% dos entrevistados da Quaest, está mais
difícil arrumar emprego.
Uma fonte que transita na cúpula do governo
ponderou que a economia não é a única variável que favorecerá a recuperação da
popularidade de Lula. Observa que mesmo com índices positivos, o humor dos
brasileiros estava péssimo, e agora “está somente ruim”.
Outra avaliação é de que antes do tarifaço de
Donald Trump, que deu impulso a Lula, a recuperação da popularidade do petista
começou com a campanha nas redes por justiça tributária, pela maior taxação dos
“BBB”, “bancos, bets e bilionários”. “A ideia de justiça social pegou”, afirmou
a fonte. Ao mesmo tempo, comemora que a “lavação de roupa suja” entre os
Bolsonaros colocou em xeque a imagem da “família tradicional” que o
ex-presidente sempre cultivou.
Essa fonte alerta que duas questões exigirão
atenção máxima dos governistas: o risco de vitimização de Bolsonaro, sobretudo
quando advier a provável condenação no julgamento do Supremo Tribunal Federal
(STF), e a CPMI do INSS, da qual a oposição assumiu o controle.
O futuro é incerto, e nem Hitler, que tentou,
conseguiu decifrá-lo. Ao perguntar a Frau Heelst, que atendia o “fuhrer”, se
haveria guerra, Guimarães Rosa ouviu: “De modo nenhum, sossegado esteja”. Doze
dias depois o conflito eclodiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário