DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Eleições
Ciente da ligação entre movimentos sociais e governo Lula, PSDB constrói discurso conciliador para evitar problemas no pleito de 2010
Denise Rothenburg
A vinculação de sindicatos e movimentos sociais ao governo do presidente Lula é desde já uma preocupação dos futuros adversários eleitorais, em especial o PSDB. Em dois jantares em Brasília na última quarta-feira, por exemplo, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, forte pré-candidato ao Planalto, lembrou que, do ponto de vista político, houve uma “distensão” no governo Lula, “na medida em que os movimentos sociais e sindicais praticamente se incorporaram ao governo ou foram por ele cooptados”. Falou ainda que diversos financiamentos concedidos pelo governo a muitas entidades e ONGs aprofundaram essa dependência. E fez um alerta: “A reação de todo esse conjunto corporativo a uma enventual derrota eleitoral do candidato ou da candidata do governo pode produzir como efeito um estressamento das relações com um novo governo de oposição”, afirmou Aécio.
Ao lado de outros políticos, como o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), que já declarou apoio à candidatura do mineiro, Aécio falou da necessidade de se aproximar dessas entidades e de manter alguns programas. “Se hoje o PSDB entende que suas linhas básicas de gestão econômica e social foram mantidas, mesmo sentindo que se poderia ir bem mais longe, da mesma forma a linha plástica que distendeu as relações políticas no atual governo deverá ser aprimorada, mas nunca descontinuada”, pregou Aécio. “Não há por que os sindicatos(1) e suas centrais imaginarem que serão percebidos como partidários e assim excluídos. Não temos o direito de correr esse risco”, afirmou.
O governador mineiro propôs que seu partido comece a promover encontros com entidades para esclarecer que o “papel representativo que lhes corresponde — e os espaços de articulação com o poder — não só serão mantidos como aprofundados de forma institucional, republicana e, agora, transparente”. A intenção dele nessa seara tem o mesmo objetivo geral, reiterado em todas as oportunidades: o conceito pós-Lula, de agregar valores e não excluir ninguém.
Exagero
A declaração de Aécio foi lida por alguns sindicalistas, como o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, como correta, no sentido de que hoje, diz ele, o PSDB não tem uma boa relação com os sindicatos. Mas exagerada no que se refere ao temor de uma reação hostil a um futuro presidente de oposição ao PT. “Aécio tem uma relação diferente com as centrais em Minas, é uma relação boa. Mas a cúpula do PSDB nunca se preocupou com isso”, avaliou o pedetista.
No primeiro jantar, o recado foi levado a toda a cúpula do PSDB, que estava presente ao encontro na casa do deputado Eduardo Gomes (TO) para comemorar a filiação da deputada Rita Camata (ES), oficalizada no fim de setembro. No segundo, o recado foi dado à bancada mineira — não só do PSDB, como do DEM, PMDB, PTB, PR, PP, PSB, PSC, e até mesmo do PT — presente à homenagem que o deputado Raphael Guerra (PSDB-MG) ofereceu ao vice-governador de Minas, Antonio Anastasia. Além dos mineiros, compareceram o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), os deputados Nelson Marquezelli (PTB-SP), João Carlos Bacelar (PR-BA) e, ainda, o primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Maia (PT-RS), que brincou: “Vim aqui como espião e vou torcer para que Aécio não seja o candidato”.
Braço político
O PT, em sua fundação, era visto como o braço político do movimento sindical. Ao longo de sua história, o partido jamais deixou que fossem rompidos os laços com diversas entidades, em especial, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Acostumadas a atordoar a vida dos governantes com manifestações e greves, elas nunca abandonaram Lula. No momento mais delicado do governo do petista, durante o escândalo do mensalão, as entidades fizeram uma passeata em favor do presidente da República.
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