Ildo Sauer, professor e Diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP vê dificuldades na implementação, e problemas estruturais na medida
Henrique Gomes Batista
Como o senhor avalia o pacote energético anunciado pelo governo?
O governo não disse que o país tem um modelo energético ruim, que é caro apesar da qualidade dos ativos naturais, humanos e tecnológicos que possuímos. Dizer que o sistema elétrico é seguro é uma falácia, tivemos seis apagões e "apaguinhos" nos últimos dois meses. E anunciar que não há risco de desabastecimento é algo absurdo, sempre há esse risco. Ou é uma inverdade técnica ou a presidente Dilma anunciou as medidas da sala de São Pedro.
As medidas surtirão efeito no preço da energia?
Quero ver como será a operacionalização disso. Temos que refazer contratos, tabelas, planilhas, assinaturas com 63 distribuidoras diferentes. Não imagino isso em um dia. A redução da tarifa em um dia só seria possível com um milagre de gestão, o que não é a marca deste governo e da agência reguladora do setor.
Mas o que o senhor achou das medidas?
Tenho um amigo dono de uma mansão que paga R$ 4,5 mil de luz por mês e que pode ter uma redução de R$ 900 mensais. Seu empregado, que ganha pouco mais de um salário mínimo, gasta hoje R$ 60 por mês com luz e terá um desconto de R$ 12. Discordo deste desconto linear, feito com o dinheiro público. Esse recurso do Tesouro deveria ir para políticas industriais, para ampliar nossa competitividade.
E como o senhor avalia o setor?
O governo não admite, mas o modelo está errado. Não é normal usar termelétricas de forma regular, constante. Elas devem estar lá, mas como um seguro. O planejamento, feito por Dilma enquanto era ministra, foi falho.
Fonte: O Globo
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