Raymundo Costa
BRASÍLIA - A 17 meses da escolha dos candidatos, nas convenções partidárias de junho de 2014, e a 20 da eleição presidencial de 2014, governo e oposição já estão em campanha eleitoral. No momento, o governo está na ofensiva e a oposição, dividida e pega de surpresa, na defensiva.
No discurso feito na noite de anteontem para anunciar a redução da tarifa da energia elétrica para consumidores domésticos e empresas, Dilma aproveitou para mandar um recado claro e direto à base do governo e ao governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que namora eventual candidatura presidencial em 2014: "Eu sou candidata à reeleição e uma candidata energética", contou um auxiliar da presidente. O "energético" é um trocadilho que serve tanto para Campos como para DEM e PSDB, segundo fontes credenciadas.
Nos cálculos de Campos, como se sabe, está uma eventual candidatura presidencial em 2014. E a oposição, especialmente o PSDB, estimula a ideia de que pode ocorrer um racionamento de energia elétrica, por causa da má administração do governo no setor. Dilma considera "terrorista" e "irresponsável" o discurso do PSDB e do DEM. Por isso decidiu "passar a peixeira no chão", ou seja, fazer um risco que, sempre que for ultrapassado, terá uma resposta à altura da presidente.
No pronunciamento de oito minutos, Dilma esboçou um discurso de campanha: "Eu sou a presidente que corta juros, reduz tarifas e protege as pessoas". O Palácio do Planalto alega que não só ela está viajando pelo país, como também os governadores aos municípios, inclusive os tucanos, candidatos à reeleição.
O Palácio do Planalto também informa que a presidente tem sido comedida no uso de rede nacional de rádio e televisão. Ano passado, a rede teria sido acionada no Dia das Mães, no 7 de Setembro e no Natal. No Dia da Independência, Dilma prometeu reduzir a tarifa da energia elétrica. No Natal, prestou contas: a promessa já era lei.
Foram três datas em que tradicionalmente o presidente costuma se manifestar. Não foi bem o contexto de anteontem, quando a presidente anunciou que a redução se daria já a partir do dia seguinte. Dilma falou durante oito minutos e não teve a menor preocupação em amenizar nas tintas eleitorais do discurso.
A presidente fez questão de levar os tucanos, que vinham num crescente de críticas aos miniapagões recentes, para o canto do ringue, ao prenunciar que eles acabariam concordando com os termos da renovação das concessões das usinas de energia elétrica. "Espero que venham a concordar com o que eu estou dizendo", afirmou.
Na realidade, a presidente renovou as concessões e decidiu sobre a redução de tarifas sem ouvir grande parte dos atingidos pelas mudanças, como governadores de Estado, da situação e da oposição, e entidades do setor como Furnas Centrais Elétricas.
Ao voltar das férias, Dilma Rousseff imprimiu um ritmo frenético a ações de governo com forte apelo midiático. Não foi uma ofensiva gratuita, mas de muito cálculo político. Ela ainda estava descansando em uma praia da Bahia, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT definiam a estratégia para 2013.
Lula, especialmente, defendeu que Dilma deveria sair mais de Brasília e procurar o contato popular. Outros setores do PT defendiam que ela deveria se dedicar mais aos assuntos de governo, especialmente à questão do crescimento e à perspectiva de aumento da inflação. Dilma entrou com os dois pés - um na política e o outro na economia.
De saída, chamou ao Palácio do Planalto uma dezena dos maiores empresários do país para tratar da retomada do investimento. Desta vez, teve encontros individuais, de maior apelo midiático e de satisfação da vaidade dos empresários, apesar da representantes significativos do PIB nacional.
No fim de semana viajou a Teresina para a entrega de casas populares. Hoje cumpre agenda com o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo. Na próxima semana vai a Sergipe. Depois, à Paraíba.
Fonte: Valor Econômico
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