- O Estado de S. Paulo
No dicionário da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, "ir pra cima" e "fazer o diabo" são sinônimos , e refletem o temor que tomou conta do PT desde que a queda da candidata oficial nas pesquisas se mostrou uma tendência consistente.
O partido começou a enxergar riscos no projeto de reeleição da presidente, há algum tempo considerada tão certa que era discutida apenas se ocorreria no primeiro ou no segundo turno.
Fiel à filosofia que anunciou para a sua campanha, de que "em eleição se faz o diabo", a presidente ocupou a rede de televisão, de caráter institucional, no Dia do Trabalhador, para um escancarado ato eleitoral de lançamento de um pacote de bondades que selou o desprezo do governo por uma política fiscal séria e aumentou a conta dos ajustes para 2015.
Lula, por sua vez, acrescentou à já desgastada cantilena contra a imprensa, duras críticas ao empresariado nacional, ao qual "acusa" de ganhar dinheiro - não fosse outro o objetivo da atividade econômica. O "delito" do lucro já estava na raiz dos problemas de Dilma com os investidores e agora ganhou o coro de seu padrinho político.
Na vida real, os problemas se acumulam desde o escândalo que se abateu sobre a Petrobrás com a investigação da Polícia Federal que revelou desvios de recursos por um ex-diretor da empresa, Paulo Roberto Costa, em dupla com o doleiro Alberto Youssef, que ganhou o desenho de duto financiador de campanhas eleitorais.
A candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo, uma operação casada com a de reeleição de Dilma, foi inegavelmente abalada pela revelação de que a versão do ex-ministro da Saúde para o contrato milionário entre o laboratório de fachada do doleiro Youssef e o ministério, não tinha amparo na realidade.
Uma foto publicada (O Globo, 02/05/2014) desmentiu Padilha: lá estava ele, na solenidade de assinatura do contrato que dissera desconhecer, ao negar a influência do deputado André Vargas na operação em favor do doleiro.
Pior: junto com a foto um parecer técnico do ministério contra os termos financeiros do contrato, alertando para superfaturamento no preço unitário do comprimido do remédio objeto da parceria, usando-se como parâmetro os valores da mesma medicação em outros estados.
A semana fechou com as ruas materializando a insatisfação das pesquisas: representantes de partido e governo vaiados por sindicalistas, braço histórico do PT.
O conjunto dos fatos demonstra que o diagnóstico de Lula ("o eleitor não é bobo") não tem mão única: neste momento, aplica-se sobretudo ao governo.
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