domingo, 4 de maio de 2014

Copa põe a eleição na marca do pênalti

• Enquanto o Planalto aposta as fichas na Seleção, políticos e analistas fazem projeções sobre a influência do Mundial na disputa presidencial de outubro

Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro e Marcos Paulo Lima - Correio Braziliense

Daqui a 39 dias, em São Paulo, quando a presidente Dilma Rousseff declarar oficialmente aberta a Copa do Mundo de 2014, ela também estará dando o pontapé inicial na nova fase da partida que disputará em outubro. A petista será candidata à reeleição e, no outro lado do gramado eleitoral, terá como principais adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). O Mundial ocorrerá em pleno período das convenções partidárias, que definirão oficialmente as candidaturas e as alianças. E o governo aposta que, se Neymar e companhia ganharem o hexacampeonato, uma onda de otimismo tomará conta do país. Se perderem, contudo, um tsunami de problemas represados poderá vir à tona. Os dois cenários, projeta o Planalto, têm capacidade para influenciar o humor das urnas.

Dilma sonha em estar no seleto quadro de governantes que foram anfitriões da Copa do Mundo e conseguiram ver o próprio país levantar o caneco. Para evitar a repetição das contrangedoras vaias ouvidas na abertura da Copa das Confederações, em junho do ano passado, a presidente decidiu não fazer discurso no jogo inaugural da Copa, limitando-se a um protocolar "declaro aberto os jogos". Poucos tiveram esse privilégio (veja quadro acima). A correlação direta com as eleições é mais rara ainda. Das seis vezes em que isso aconteceu, em pelo menos duas delas os comandantes da nação eram ditadores: Benito Mussolini, em 1934, na Itália; e Jorge Rafael Videla, na Argentina, em 1978.

Para Leonardo Barreto, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), neste momento, só é possível especular sobre os resultados concretos da relação entre a bola e as urnas, especialmente porque estaremos diante de um fenômeno com poucos precedentes: "Em outros momentos nos quais o Brasil foi campeão, a Seleção conquistou o caneco fora do país", lembrou ele, citando os torneios sediados na Suécia (1958), no Chile (1962), no México (1970), nos Estados Unidos (1994) e no Japão/Coreia do Sul (2002).

Mesmo assim, em todos eles, não houve uma relação direta entre os dois fatores: o torneio e o voto. O mito de que o êxito da Seleção se transformara em prestígio para o governo ocorreu em 1970, no governo do general Emílio Garrastazu Médici. "Naquele ano, tivemos eleições legislativas e houve um elevado índice de votos brancos e nulos", recorda Barreto. Em 1994, o tetracampeonato brasileiro coincidiu com a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), candidato apoiado pelo então presidente, Itamar Franco. Mas PT e PSDB admitem que, mais do que a vitória do escrete comandado por Romário (hoje deputado federal pelo PSB), o que pesou na eleição foi o Plano Real, que controlou a hiperinflação.

Em 2002, o pentacampeonato no Japão, com dois gols de Ronaldo na final contra a Alemanha, não garantiu a manutenção dos tucanos no poder — o petista Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito naquele ano para o primeiro de seus dois mandatos. O segundo viria em 2006, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela França de Zinédine Zidane. Em 2010, Dilma manteve o PT no poder, mas a Seleção Brasileira teve o passaporte de retorno carimbado pelos holandeses Sneijder e Robben nas quartas de final.

A visão estrangeira
Barreto acredita que a repercussão internacional do evento esportivo terá papel de destaque na imagem que a nação terá de si própria nesse período de exposição sob os holofotes de todo o planeta. "O Brasil ainda é muito atento ao que se fala sobre ele no exterior. Adoramos quando as revistas e os jornais estrangeiros nos elogiam. Por isso, a opinião dos correspondentes internacionais sobre a Copa poderá afetar a nossa autoestima e amplificar os tons de otimismo ou de pessimismo", analisa.

Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), a vitória na Copa não significará que o país deixará de lado a preocupação com a inflação e os movimentos sociais. "Mas pode, sim, mexer com o orgulho nacional e tornar-se um catalisador para Dilma. Foi no governo dela que as arenas em que as seleções jogarão ficaram prontas", afirma.

Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirma que será dissipado o mau humor generalizado em relação aos jogos, algo que não tinha acontecido quando o país fora escolhido para sediar os jogos, em 2007. "Disseram que as coisas não andariam, que os estádios não ficariam prontos nem os aeroportos. Tudo está aí. Acho que faremos uma grande Copa", aposta o petista.

Dilma quer entrar neste time // Relembre casos de chefes de Estado e de governo que viram as respectivas seleções nacionais serem campeãs em casa

1930
Uruguai
Juan Campisteguy
1934
Itália
Benito Mussolini
1966
Inglaterra
Rainha Elizabeth II e Harold Wilson (primeiro-ministro)
1974
Alemanha
Gustav Heinemann (presidente/E) e Helmut Schmidt (primeiro-ministro)
1978
Argentina
Jorge Rafael Videla
1998
França
Jacques Chirac (presidente/E) e Lionel Jospin (primeiro-ministro)

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