- Folha de S. Paulo
O governo Dilma enxerga a economia de forma singular, diferente do modo como os demais mortais percebem a realidade.
O ministro Aloizio Mercadante, por exemplo, acredita que o caos será instalado no país caso deputados e senadores não aprovem a nova jabuticaba criada pela equipe econômica.
Nas palavras do chefe da Casa Civil, se o Congresso não autorizar a manobra proposta para driblar a obrigação legal de economizar parte do orçamento do ano para abater juros da dívida pública, o que restará ao governo será parar os investimentos e entregar a poupança devida, ao custo de recessão e desemprego.
O raciocínio não faz sentido. Mudando ou não a lei --apresentada pelo próprio governo Dilma e aprovada pelo Congresso comandado pela base aliada da petista-- nada será entregue porque nada foi economizado até agora. Na verdade, gastou-se mais do que se imaginava, e devia, e as contas estão no vermelho.
Não há tempo hábil, nem condições práticas, para o Planalto juntar até dezembro os mais de R$ 100 bilhões que deveriam ter sido economizados neste ano. O dinheiro já saiu dos cofres ou deixou de entrar.
O cenário caótico traçado por Mercadante só se concretizaria se o governo federal pedisse o dinheiro investido de volta --algo na casa de R$ 52 bilhões-- e cobrasse, de forma retroativa, os descontos de impostos concedidos para diversos setores, que representaram até o mês passado um desfalque de R$ 78 bilhões aos cofres do Tesouro Nacional.
Não é preciso fazer muito esforço para perceber que isso não vai acontecer. Nem agora, nem nunca.
Não foi por falta de aviso que o governo chegou à encruzilhada fiscal que se encontra. Desde o início do ano era possível perceber que a economia proposta não seria alcançada. O otimismo exacerbado fez com que as estimativas de receita fossem infladas e as despesas demasiadamente desidratadas. Trocar o oba-oba pelo caos não mudará essa realidade.
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