• Ex- presidente afirma que pelo Congresso ‘ nada passa sem força política’
Silvia Amorim- Globo
- SÃO PAULO- O ex- presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que não acredita na aprovação da CPMF pelo Congresso Nacional. Para ele, faltaria à presidente Dilma Rousseff “fibra política” necessária para obter apoio ao pacote de ajuste fiscal apresentado anteontem pela equipe econômica.
— Eu não acredito que vão aprovar. Basta ver as declarações feitas pelos líderes políticos. É muito difícil sair desta situação se não resolver a crise política — afirmou o ex- presidente, que evitou se posicionar a favor ou contra a recriação do “imposto do cheque”, criado durante a sua gestão, alegando que ainda não sabia detalhes da proposta.
O ex- presidente participou ontem de um seminário em seu instituto em São Paulo para discutir as crises política e econômica no país. Estavam na mesa de debate o ex- presidente do Banco Central Armínio Fraga e o cientista político Sérgio Abranches.
Além da CPMF, FH mostrou pouco otimismo com a implantação do pacote de propostas para enfrentar a crise fiscal:
— A última proposta que apresentaram ontem ( anteontem) é muito difícil que o Congresso aprove, e todo mundo sabe que é difícil. Para passar no Congresso, é preciso ter força política. Nada passa sem força política porque fazer reformas é enfrentar interesses enraizados. Para atravessar isso, é preciso ter fibra política e convicção. Ela ( referindo- se às medidas) vai cair daqui a pouco.
O ex- presidente disse que “a solução para o país hoje é muito mais do que apertar o cinto e fazer corte”, referindo- se à instabilidade política. Nesse cenário, considerou difícil a retomada do controle do país por Dilma:
— Pode haver possibilidade da presidente voltar a ter controle da situação? É difícil. Em tese pode, mas é difícil.
“Quem vai dar as cartas?”
Ao GLOBO, ele adotou um tom ainda mais cético. Para ele, a queda do atual governo é uma “questão de tempo”:
— Se ela não der uma virada, é uma questão de tempo. E eu não vejo como ela possa dar uma virada porque ela está perdendo a base do partido dela.
FH também usou a noção de tempo ao se referir às alternativas para a crise política.
— Qualquer processo de solução política não é rápido, é custoso, e hoje nem se sabe quem fará esse jogo. Em política, tem que saber a hora. Tem que saber calar.
Sobre a possibilidade de o PMDB ser a alternativa política em caso de saída de Dilma, FH preferiu um discurso cauteloso.
— Temos que ver o que a LavaJato vai significar nisso tudo. Enquanto isso não ficar mais claro, não há o que fazer. Quem vai dar as cartas no partido ( PMDB)? É uma situação muito difícil.
O ex- presidente tem defendido junto a outros líderes do PSDB que recolham neste momento suas pretensões políticas individuais e busquem unidade. Ontem, ele reforçou o discurso:
— Um quer que a Dilma saia hoje. Outro que tenha nova eleição. Outro que ela fique até 2018. Até entendo que todo político tenha seus interesses pessoais, mas tem hora em que temos que entender que há algo maior em jogo, o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário