- Valor Econômico
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressentiu-se com o silêncio da presidente Dilma Rousseff nas últimas semanas, em que ele sofreu um bombardeio de denúncias, que o apontam como suposto proprietário de um apartamento tríplex no Guarujá, no Condomínio Solaris, e de um sítio em Atibaia (SP). O condomínio foi alvo da Operação Triplo X da Lava-Jato, e o imóvel atribuído a Lula - cuja propriedade o ex-presidente nega - tornou-se alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo. Faz um mês desde que Dilma e Lula estiveram juntos, em reunião no Palácio da Alvorada. No dia seguinte, ele seria ouvido como testemunha na Operação Zelotes.
Na semana passada, aliados de Lula com trânsito no Palácio do Planalto fizeram chegar a Dilma a recomendação de que ela desse um telefonema para o padrinho político. Nas palavras de um interlocutor, Lula está angustiado, mas disposto a resistir. De outro lado, auxiliares da presidente relatam que ela se preocupa com o antecessor, mas ponderam que sua vida também não está fácil. Dilma se preocupa com a recessão econômica, o processo de impeachment, e a epidemia do vírus zika.
Auxiliares presidenciais afirmam, ainda, que entre quatro paredes, nas reuniões privadas do Alvorada, ambos mostram-se solidários um com o outro. Um interlocutor de ambos disse ao Valor que foi Dilma quem aconselhou o antecessor a reforçar sua assessoria jurídica, o que se materializou na contratação do criminalista Nilo Batista, há alguns meses.
O ex-presidente ressente-se, contudo, da falta de um gesto de solidariedade pública, com repercussão política. Gestos de defesa como os que ele fez a ela nos últimos meses, no auge da crise política.
Em novembro, Lula pediu a uma plateia de 300 jovens, em evento da juventude petista, que ajudasse a "companheira Dilma a sair da encalacrada" em que a oposição havia colocado o PT e o governo. Em outubro, no congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, onde dividiu o palco com a presidente, Lula provocou: "A Dilma não ganhou eleição para ficar batendo boca com os perdedores. Se quiserem chorar, vão comprar cebola para descascar". Em agosto, num ato da CUT em Belo Horizonte, Lula avisou: "A gente pode discordar desse governo. Mas ele é nosso governo. E mexeu com ela, mexeu com a gente".
O último encontro entre Dilma e Lula ocorreu no dia 5, no Palácio da Alvorada, e foi breve e contido. Havia um clima de apreensão no ar: no dia seguinte, Lula seria ouvido pela Polícia Federal como testemunha na Operação Zelotes, que investiga a venda de medidas provisórias. Convidado para jantar, Lula retirou-se mais cedo, alegando reunião com advogados.
A reunião anterior também não foi das melhores, e ocorreu em meados de dezembro, num jantar no Alvorada, com a presença dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Lula estava cansado, depois de prestar dois depoimentos. Havia sido ouvido como testemunha na Operação Lava-Jato e em carta rogatória expedida pela Justiça italiana para esclarecer relações com um empresário ligado ao ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi.
Agora a primeira manifestação pública de Lula após a onda de denúncias é aguardada para 19 de fevereiro, quando o Diretório Municipal de São Paulo do PT prepara um desagravo ao líder, no conjunto das comemorações de aniversário do partido. Lula também estaria inclinado a gravar participação no programa partidário, que será veiculado em cadeia de rádio e televisão no fim do mês.
No dia 17, véspera do ato petista, está previsto o depoimento de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, como investigados, no inquérito do Ministério Público paulista que investiga a transferência de prédios inacabados da Bancoop para empreiteiras, inclusive a OAS, envolvida no esquema de corrupção da Petrobras. No dia do depoimento, a CUT, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) preparam um ato em defesa de Lula na frente do Fórum da Barra Funda, onde ele é esperado para depor. Outro discurso de Lula também é aguardado nas comemorações do aniversário do PT, no Rio de Janeiro, nos dias 26 e 27.
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