- Folha de S. Paulo
Paralisia, lerdeza e indefinição são as três tristes graças do Brasil neste recomeço provisório do ano.
Afora explosões maiores de casos de corrupção, a política começa o ano em ritmo de deixa como está para ver como é que fica. Bancos, construção civil e indústria a princípio dão o ano quase tão perdido quanto 2015. O governo não apresentou planos e meios de contenção da baixa econômica.
Eduardo Cunha promete emperrar a Câmara pelo menos até que o Supremo esclareça sua decisão sobre o trâmite do impeachment. Depois disso, o grau de tumulto dependerá do aperto do garrote em seu pescoço envolvido por voltas e voltas de cordas de contas suíças. Seus dedaços recentes no PMDB e manifestações de apoio de sua coalizão mostram que Cunha ainda tem bastante poder de causar estragos.
A destituição da presidente ficou ainda mais fria, embora ainda não morta, com o rearranjo dos PMDBs, aquelas formas gelatinosas que vão se transmudando em oposição e situação de acordo com as conveniências do clima.
Michel Temer e Renan Calheiros trocam manifestações públicas e polidas de desapreço mútuo. Reconhecem que não têm poder bastante para embarcar a maioria do partido nesta ou naquela canoa. Torna-se mais improvável também que o PMDB desembarque do governo, na Convenção do partido.
Ainda assim, a conversa a respeito de impeachment e as possibilidades de novas das tão frequentes reviravoltas do caso devem manter alguma indefinição até pelo menos abril. Isto é, até que se assente um pouco mais o panorama político, é pouco provável que os ditos "agentes econômicos", em especial aqueles no centro das decisões mais relevantes, reconsiderem seus planos do que fazer a respeito de dinheiro grosso.
Além do mais, quanto à política, vão demorar os testes da temperatura entre os parlamentares. No recesso, deputados e senadores estiveram junto das "bases". Isto é, líderes regionais, cabos eleitorais, empresários, financiadores e, até mesmo, eleitores.
Os parlamentares devem estar matutando no que ouviram, nas chances de seu grupo político na eleição municipal e, dado o adiantamento do calendário eleitoral, por causa da crise, até no que vão fazer a respeito de 2018.
Agora, vão confrontar o que colheram de informação "nas bases" com as ofertas e análises que vão ouvir "na cúpula", em Brasília.
O assentamento de opiniões talvez seja um pouco mais complicado porque, agora, é possível que os governadores entrem um pouco mais na conversa. Muitos Estados estão quebrados ou em penúria. Estão negociando favores com o governo federal. Podem querem envolver parlamentares nas conversas e negociações.
Não é apenas na política, muito claro e óbvio, que definições ainda vão demorar.
Para começar, não se sabe o tamanho do problema fiscal neste ano. Isto é, qual será o tamanho do tombo da arrecadação federal de impostos. Assim, não se sabe quão mais reduzido será o poder de fogo do governo, em termos de concessões a Estados, gastos com obras e em programas sociais, para ficar no básico. Um desastre fiscal maior pode aprofundar a crise.
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