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A República pode entrar em quarentena
Faz sentido falar na suposta versão de Bolsonaro paz e amor se ele insiste no propósito de expor a maior quantidade possível de brasileiros à morte e à contaminação pelo coronavírus? Quem sabe como ele reagiria se descobrisse ser mais uma vítima da doença? Mudaria de posição? Ou continuaria da mesma forma?
Bolsonaro foi dormir febril e um pouco ofegante, segundo um ministro que esteve com ele no Palácio do Planalto. À sua chegada ao Palácio da Alvorada, desceu do carro para cumprimentar um bando pequeno de devotos. Usava máscara. E parecia um tanto cansado de encenar o mesmo número duas vezes por dia.
É fato que o cercadinho onde os devotos costumam se reunir deixou de ser o mesmo de há duas semanas. Pouca gente tem aparecido. O entusiasmo arrefeceu. Isso se reflete também na Vila Planalto, encravada entre os dois palácios. Hotéis e pousadas que abrigavam bolsonaristas em trânsito estão às moscas.
Um dos devotos queixou-se a Bolsonaro de um problema da administração pública de Brasília. Bolsonaro respondeu: “Isso não é comigo, é com o governador”. Outro sugeriu uma reza coletiva capaz de curar todos os males – Bolsonaro esquivou-se. Disse que era refém da vontade dos seus agentes de segurança. Nunca foi.
Bolsonaro já estava sob o efeito de cloroquina que tomou depois de ter feito mais um exame para saber do que padece. De março para cá, é o quarto exame. A República, ansiosa, aguarda o resultado que deverá ser divulgado nesta manhã. Se o vírus pegou Bolsonaro, o Planalto e o Alvorada entrarão em quarentena.
Mas não só. E a embaixada americana onde Bolsonaro almoçou no último sábado? O embaixador Todd Chapman, famoso pelo chapéu de vaqueiro que usa até para conceder entrevistas, abraçou e foi abraçado por Bolsonaro. Um dia antes, um grupo de empresários paulistas almoçou com Bolsonaro e apertou suas mãos.
O mais recente ato de Bolsonaro diretamente ligado ao combate à pandemia foi o de vetar o uso obrigatório de máscaras em presídios. Pouco lhe importa que 5.022 presos, até ontem, tenham contraído a doença, e que 63 morreram. Nem que apenas um terço dos agentes penitenciários tenha recebido máscaras e luvas.
Com as visitas aos presos suspensas, os agentes se tornaram os maiores propagadores do vírus porque somente eles entram e saem das penitenciárias. Podem contaminar os presos, ou contaminados por eles, contaminarem seus familiares. E daí? Daí que todos estão sujeitos a morrer um dia, segundo Bolsonaro
O presidente que se vangloria de sua saúde de atleta está posto à prova. Boa sorte!
Um ministro da Educação para Bolsonaro chamar de seu
Militar obediente
Nada está tão ruim que não possa piorar. Depois de Ricardo Vélez que falava português errado, de Abraham Weintraub que escrevia português errado, de Carlos Decotelli que carecia dos títulos exibidos no seu currículo, e do empresário Renato Feder rejeitado duas vezes, o presidente Jair Bolsonaro agora examina o nome do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) para ministro da Educação.
Que credenciais ele tem para administrar um dos maiores orçamentos da República? Bem, foi militar como Bolsonaro, mas ao contrário deste, não foi afastado do Exército. Tem mestrado em operações militares. Formou-se em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e em Ciências Jurídicas pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio.
Mas o que distingue mesmo de outros aspirantes a ministro é que, como líder do governo na Câmara, obedece sem discutir todas as ordens do alto. Quer dizer: as ordens de Bolsonaro ou de quem fale em seu nome. Por sua origem, supõem-se que os militares não o vetariam. Por seu alinhamento com as ideias do presidente, não seria alvo da ira dos bolsonaristas mais radicais.
O major e o ex-capitão almoçaram, ontem, no Palácio do Planalto. Ficaram de se reunir outra vez ainda esta semana. Só vai depender do estado de saúde de Bolsonaro.
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