País
vive sob o comando de um alucinado
Os
sinais estão espalhados por todos os lados. Só não vê quem não quer. O Brasil
de Jair Bolsonaro desmorona. Todos os erros cometidos ao longo dos dois
primeiros anos de seu mandato começam a ser cobrados. O problema é que a conta
será paga por todos, inclusive por aqueles que têm pavor da figura
presidencial, como você e eu.
Na
terça-feira, o francês Emmanuel Macron expressou um sentimento com que a
maioria dos líderes europeus concorda, o Brasil de Bolsonaro não é um país
confiável. Como não se obtém um compromisso em favor do meio ambiente e da
Amazônia, muito menos medidas nesse sentido, Macron propôs um boicote à soja
brasileira. E sugeriu que se plante soja em solo europeu. Para Macron,
continuar dependendo da soja brasileira seria “endossar o desmatamento da
Amazônia”.
Talvez o presidente francês não ignore que os grandes produtores de soja brasileiros não cortam uma árvore nativa nem acendem um palito de fósforo nas florestas brasileiras há pelo menos 20 anos. Que os incêndios e as derrubadas de matas são feitas hoje em dia por madeireiros, garimpeiros, grileiros e pequenos produtores rurais, muitos deles de assentamentos de sem-terra. Mas há um símbolo nisso que precisa ser mantido.
Macron
ataca esse símbolo, a política governamental brasileira que aceita e incentiva
esses desmatadores, mesmo que sua contribuição para a economia nacional seja
mixuruca perto da riqueza que geram os grandes produtores rurais. Estes, que já
estavam sob enorme pressão graças a nosso bolsonarismo ambiental, agora ouvem
do presidente de um dos dois maiores países agrícolas da Europa que é hora de
reagir contra a soja nacional.
O
relatório anual da Human Rights Watch (HRW), divulgado ontem, também ataca o
frouxo combate do governo brasileiro ao desmatamento e às queimadas. Para os
terraplanistas que cercam ou seguem cegamente sua excelência, a entidade deve
ser ignorada porque é uma “ONG esquerdista”. Sobre Macron, devem fazer
referência a sua mulher, como as que o nosso misógino presidente um dia fez,
por isso ele também não deve ser levado em conta.
Agora,
perguntem aos produtores rurais o que eles acham disso. O Ministério da
Agricultura divulgou uma nota vaga dizendo que Macron estava enganado, que a
soja brasileira é produzida de modo sustentável. Não foi assinada pela ministra
Tereza Cristina e não se referiu ao relatório da HRW.
De
outro lado, a Ford anunciou sua saída do Brasil. As razões devem ser as
alegadas, por reposicionamento global da empresa, pelo movimento do mercado
etc. Mas é evidente que o ambiente de negócios sob Bolsonaro não estimula
qualquer argumento contrário. Macron, que está do outro lado do Atlântico,
percebeu que este não é um país sério. Imagine, então, o que pensam os
dirigentes da montadora que operam aqui dentro.
Se
até o Banco do Brasil, joia do Estado nacional, orgulho provinciano de muitas
gerações de brasileiros, anunciou um plano de demissão voluntária para acertar
suas contas, pense como estão os outros bancos, as outras empresas que operam
em solo pátrio, debaixo da incompetência governamental que conhecemos. Quem
puder pular fora vai pular. Mesmo com algum prejuízo, a contabilidade mais
adiante pode comprovar o acerto da saída.
Além
das muitas deficiências nacionais (falta de infraestrutura, sobretudo
ferroviária, produtividade baixa, barafunda tributária), o país agora vive sob
o comando de um alucinado que só se ocupa de política. Pior, do lado escuro e
sombrio da política. O mesmo relatório da Human Rights Watch acusou
nominalmente Bolsonaro por tentar sabotar as medidas contra a Covid-19. A ONG
afirma ainda que o governo mais espantoso que o país já viu incentiva a
violência policial e desrespeita os direitos das mulheres, dos índios e de
pessoas com deficiência.
O Brasil de Bolsonaro afunda no modo acelerado. Tudo o que ele puder fazer para jogar o país para baixo, vai fazer. A herança que deixará será maldita, essa sim. Para lá de maldita.
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