Folha de S. Paulo
A fim de reescrever a história recente,
Bolsonaro escala um pazuello para o Arquivo Nacional
Jair Bolsonaro acaba de nomear para a direção-geral do Arquivo Nacional um ex-chefe de
segurança do Banco do Brasil, ex-subsecretário de Segurança do Distrito
Federal, premiado pela Confederação Brasileira de Tiro e sócio do Clube Colt
45. Com todo esse cartel, o cidadão parece entender de armas. Mas o Arquivo
Nacional não é um estande de tiro.
Ele foi fundado em 1838, na Regência do marquês de Olinda, com a finalidade de preservar documentos públicos —administrativos, jurídicos, históricos. Entre milhares de itens, contém os arquivos trazidos pela Corte em 1808, uma coleção de fotografias iniciada em 1860, as Constituições do Império, os papéis pessoais do duque de Caxias e de muitos presidentes da República, registros de entrada de imigrantes, processos de tribunais civis e militares e o que mais você pensar. Contém a história do Brasil —daí ter sido, quase sempre, dirigido por historiadores, diplomatas, bibliotecários e, não por acaso, arquivistas.
Mas é apenas coerente que, em vez de um
especialista, Bolsonaro escale um pazuello para a função. Engana-se, porém,
quem acha que Bolsonaro só quer fuzilar a cultura. Ele quer transformá-la,
moldá-la à feição dos seus esgares, daí os pazuellos que ocupam hoje os órgãos
da cultura na área federal. No caso, sua intenção —ou de quem o municia
ideologicamente— é usar o Arquivo Nacional para reescrever a história, fazendo
com que golpe se transforme em revolução, ditadura em regime forte e tortura em
interrogatório.
Como não é possível rasurar os documentos,
a solução é destruí-los. Para isso, Bolsonaro autorizou as repartições federais
a requisitar documentos do Arquivo Nacional e eliminá-los sem qualquer
controle. Melhor ainda se forem os que se referem à ditadura militar,
perigosamente à disposição dos estudiosos.
Parece uma queima de arquivo e, se for, tão
grave quanto aquela em que você está pensando.
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