sexta-feira, 28 de novembro de 2025

A corrupção, como a história, se repete, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

É inacreditável como os escândalos brasileiros, inevitavelmente, envolvem bilhões, homens marombados, namoradas maravilhosas, jatos, lanchas, mansões ou apartamentos espetaculares em Miami e Nova York e... promiscuidade com os poderes federais e estaduais, partidos e políticos, eventos, comemorações, viagens. E como seus “negócios” demoram a ser desbaratados!

Daniel Vorcaro, 42 anos, e Augusto Lima, 46, do Banco Master, estão neste caso e agora chega ao time o advogado e empresário Ricardo Andrade Magro, do Grupo Refit, que já passou dos 60, mas desbravou bem antes os mesmos caminhos, que trilha com desenvoltura há anos. Vidão. À custa de quê?

Como sempre, tudo acaba no Rio, onde o Master deu mais um tombo no fundo de pensão dos funcionários (Rioprevidência) e o Refit é o segundo maior sonegador de impostos. Mas os escândalos se estendem ao BRB, banco público do DF, a São Paulo, à União e são calculados em bilhões de reais.

É possível tudo isso sem uma “forcinha política”? Magro, aliás, foi advogado do expresidente da Câmara Eduardo Cunha, cassado e preso por corrupção. O PP, que chegou à Casa Civil, “coração” do governo Bolsonaro, está em todas. Todos os governos, inclusive o de Lula, controlavam o INSS e não viram os roubos de aposentados e pensionistas.

O roteiro, os personagens e os valores de Master e Refit remetem aos dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS/J&F, que tinham 44 e 46 anos, uma trajetória meteórica no mundo dos negócios. Flagrados em suas relações nada republicanas com os diferentes segmentos políticos, fizeram um acordo de leniência para lá de camarada e se mandaram para os EUA com seus jatos e iates.

Antes, porém, gravaram o então presidente Michel Temer e o deputado Aécio Neves, aniquilaram o centro e abriram caminho para o golpista Jair Bolsonaro enfrentar Fernando Haddad, com Lula preso e o PT desabando sob o peso de mensalão e Lava Jato.

Onde estão os irmãos Batista hoje? Muito bem, com empresas de vento em popa, cruzando continentes, enquanto Brasília se esforça para “flexibilizar” o acordo de leniência, já tão “flexibilizado”, e reduzir as multas.

E onde é como estarão Vorcaro, Augusto Lima e Magro daqui a oito anos, neste país de corrupção pesada e penas que se convertem em leves?

O que acontecerá com eles, governos, partidos, políticos, bancos públicos, fundos de pensão, gestores do INSS, entidades fantasmas e toda a teia de corrupção? E quem vai pagar esses prejuízos que e se baseiam em impunidade?

O Congresso é que não, está muito ocupado em disfarçar os laços com Master e BRB e em barrar o projeto para punir os chamados “devedores contumazes”, como a Refit. Por fim, e o PCC e o CV com tudo isso?

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