Em lugar da incontida verborragia de Lula (exacerbada na fase conclusiva do segundo mandato), o estilo gerencial e sóbrio da nova presidente Dilma Rousseff tem merecido amplo tratamento crítico positivo. O que – de par com sinais de mudança da rígida postura estatizante que teve na Casa Civil, como a recomendação para a abertura da política aeroportuária à iniciativa privada – vem contribuindo para manter de pé, até agora, as boas (embora ainda incertas) perspectivas geradas pelas suas primeiras manifestações sobre a condução da economia, bem como a respeito de temas institucionais e de relações com a sociedade.
Às diversas avaliações favoráveis a tais manifestações somou-se mais uma, bem significativa – a do ex-ministro da Fazenda de FHC, Pedro Malan, em artigo no Estado de S. Paulo, de domingo último, “O correr da vida...”, inicialmente sobre o chamado “discurso da vitória”: “Acho que o discurso deve ser levado a sério. Afinal, não é mais um dos milhares de improvisos do ex-presidente. Dilma apresentou-se não como chefe de facção política (afinal cerca de 50 milhões de pessoas ou nela não votaram, ou votaram em branco, ou anularam seus votos), mas como presidente de todos os brasileiros. E anunciou compromissos firmes com o futuro, alguns dos quais merecem ser lidos, relidos e cobrados, ao longo dos próximos quatro anos”. Na sequência do artigo, Pedro Malan tratou do discurso de posse da nova presidente: “Já faz parte de nossa cultura recente – disse ela - a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda dos trabalhadores. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta prática volte a castigar as famílias mais pobres”. Malan, então, qualificou a referência a “nossa cultura recente” como um reconhecimento implícito ao papel do Real na reestruturação da economia brasileira, o que o presidente Lula, com a invenção da “herança maldita” que teria recebido, sempre escamoteou.
Mas, como advertiu o artigo do ex-ministro da Fazenda, a vida corre..., e a nova presidente, tendo em vista crescentes e preocupantes complicações da economia, precisa passar a traduzir em ações concretas os “compromissos” ou propósitos, genéricos, de defesa e reafirmação dos fundamentos da estabilidade macroeconômica, bastante erodidos nos dois últimos anos do governo anterior, a reclamarem respostas imediatas e uma retomada de reformas essenciais postas no arquivo de 2006 em seguida, após a saída de Antonio Palocci do ministério a Fazenda. Precisa fazer isso, de um lado, num cenário econômico externo agora cheio de incertezas, que dificulta – mas torna ainda mais necessária – a reafirmação de tais fundamentos (inclusive para a melhora da competitividade das exportações da indústria com a queda do enorme custo Brasil, não através do corporativismo protecionista).
De outro lado, isso terá de ser empreendido num contexto político doméstico em que tais respostas serão dificultadas – senão bloqueadas, por forte peso do populismo e do corporativismo sindical na base governista do Congresso. Ao qual se soma outro fator de resistência – o aumento da presença de petistas no Executivo, inclusive de correntes mais esquerdistas do partido. Cabendo assinalar que na disputa de cargos na máquina federal entre o PMDB e o PT este, já favorecido por excessivo predomínio na composição do Ministério, empenha-se em estendê-lo, ampliando ainda mais, ao segundo escalão, manipulando para tanto a componente fisiológica da imagem do concorrente, como se sua própria trajetória nos dois governos Lula não incluísse a prática de sucessivos escândalos de natureza ética, entre eles o maior de todos – o mensalão. Porém, não obstante os ingredientes negativos desse cenário político, a força inicial da presidente Dilma poderá – se ela partir logo e decididamente para os propósitos sérios e reformistas que tem proclamado – viabilizá-los pelo menos em parte. Possibilidade que divide com o ceticismo as expectativas da maioria dos analistas a respeito do seu governo.
Os desafios que Dilma Rousseff tem pela frente foram resumidos por Rubens Ricupero, na Folha de S. Paulo, também no último domingo. Dois trechos do seu artigo, intitulado “Morrer na praia” – “Esse custo (deixado pelo governo Lula) se expressa em quatro números fatídicos: inflação de mais de 6%; dólar a R$ 1,60; déficit em conta corrente de mais de R$ 50 bilhões; superávit primário de menos de 1% do PIB (descontando a contabilidade criativa)” “Dessas ações (que Dilma poderá tomar), que definirão o destino do (novo) governo, a principal se refere não só à melhoria na qualidade dos gastos governamentais, mas à sua efetiva redução: corte não na água (despesas postas no orçamento para serem riscadas) mas para valer”.
É jornalista
Às diversas avaliações favoráveis a tais manifestações somou-se mais uma, bem significativa – a do ex-ministro da Fazenda de FHC, Pedro Malan, em artigo no Estado de S. Paulo, de domingo último, “O correr da vida...”, inicialmente sobre o chamado “discurso da vitória”: “Acho que o discurso deve ser levado a sério. Afinal, não é mais um dos milhares de improvisos do ex-presidente. Dilma apresentou-se não como chefe de facção política (afinal cerca de 50 milhões de pessoas ou nela não votaram, ou votaram em branco, ou anularam seus votos), mas como presidente de todos os brasileiros. E anunciou compromissos firmes com o futuro, alguns dos quais merecem ser lidos, relidos e cobrados, ao longo dos próximos quatro anos”. Na sequência do artigo, Pedro Malan tratou do discurso de posse da nova presidente: “Já faz parte de nossa cultura recente – disse ela - a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda dos trabalhadores. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta prática volte a castigar as famílias mais pobres”. Malan, então, qualificou a referência a “nossa cultura recente” como um reconhecimento implícito ao papel do Real na reestruturação da economia brasileira, o que o presidente Lula, com a invenção da “herança maldita” que teria recebido, sempre escamoteou.
Mas, como advertiu o artigo do ex-ministro da Fazenda, a vida corre..., e a nova presidente, tendo em vista crescentes e preocupantes complicações da economia, precisa passar a traduzir em ações concretas os “compromissos” ou propósitos, genéricos, de defesa e reafirmação dos fundamentos da estabilidade macroeconômica, bastante erodidos nos dois últimos anos do governo anterior, a reclamarem respostas imediatas e uma retomada de reformas essenciais postas no arquivo de 2006 em seguida, após a saída de Antonio Palocci do ministério a Fazenda. Precisa fazer isso, de um lado, num cenário econômico externo agora cheio de incertezas, que dificulta – mas torna ainda mais necessária – a reafirmação de tais fundamentos (inclusive para a melhora da competitividade das exportações da indústria com a queda do enorme custo Brasil, não através do corporativismo protecionista).
De outro lado, isso terá de ser empreendido num contexto político doméstico em que tais respostas serão dificultadas – senão bloqueadas, por forte peso do populismo e do corporativismo sindical na base governista do Congresso. Ao qual se soma outro fator de resistência – o aumento da presença de petistas no Executivo, inclusive de correntes mais esquerdistas do partido. Cabendo assinalar que na disputa de cargos na máquina federal entre o PMDB e o PT este, já favorecido por excessivo predomínio na composição do Ministério, empenha-se em estendê-lo, ampliando ainda mais, ao segundo escalão, manipulando para tanto a componente fisiológica da imagem do concorrente, como se sua própria trajetória nos dois governos Lula não incluísse a prática de sucessivos escândalos de natureza ética, entre eles o maior de todos – o mensalão. Porém, não obstante os ingredientes negativos desse cenário político, a força inicial da presidente Dilma poderá – se ela partir logo e decididamente para os propósitos sérios e reformistas que tem proclamado – viabilizá-los pelo menos em parte. Possibilidade que divide com o ceticismo as expectativas da maioria dos analistas a respeito do seu governo.
Os desafios que Dilma Rousseff tem pela frente foram resumidos por Rubens Ricupero, na Folha de S. Paulo, também no último domingo. Dois trechos do seu artigo, intitulado “Morrer na praia” – “Esse custo (deixado pelo governo Lula) se expressa em quatro números fatídicos: inflação de mais de 6%; dólar a R$ 1,60; déficit em conta corrente de mais de R$ 50 bilhões; superávit primário de menos de 1% do PIB (descontando a contabilidade criativa)” “Dessas ações (que Dilma poderá tomar), que definirão o destino do (novo) governo, a principal se refere não só à melhoria na qualidade dos gastos governamentais, mas à sua efetiva redução: corte não na água (despesas postas no orçamento para serem riscadas) mas para valer”.
É jornalista
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