Apesar das últimas pesquisas, pouco ou quase nada muda no PSDB a entrada em cena do ex-governador José Serra. Inclusive entre os tucanos de São Paulo: o senador Aécio Neves é o candidato do partido a presidente da República. À esta altura do jogo, quando ainda não está claro nem se Marina Silva (Rede Sustentabilidade) será candidata, é improvável que os tucanos abandonem um projeto que está sendo meticulosamente implementado.
O PSDB gira em ritmo mineiro, com Aécio montando uma infraestrutura de campanha, contratando gente, estudando o país e articulando alianças que hoje parecem impossíveis, mas que podem ser viáveis em 2014. O ritmo do mineiro deixa exasperados os tucanos mais nervosos, enquanto outros aproveitam seu fraco desempenho nas pesquisas para questionar a precipitação do PSDB em indicá-lo.
Esse é o caso do senador Álvaro Dias (PR). Aliado histórico de Serra, sempre teve a pretensão, legítima, de ser candidato. No PSDB e no PMDB, seu partido de origem, onde chegou a disputar com Ulysses Guimarães a indicação partidária às eleições de 1989. Outros aliados do ex-governador de São Paulo evitaram manifestações. E no PSDB de São Paulo é mais fácil encontrar alguém que fale do resultado das pesquisas atuais como um "exercício sobre o nada", como diz Alberto Goldman, do que disposto a repensar a candidatura do senador mineiro.
Ritmo mineiro exaspera tucanos, mas Aécio não muda
Além de Goldman, ex-governador, outros nomes vinculados a Serra têm a mesma posição, especialmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Amigo de Serra, nem por isso FHC deixa de ficar impaciente com a insistência de seu ex-ministro em concorrer pela terceira vez.
Pesquisa encomendada pelo PSDB aferiu que Aécio está com algo em torno de 16% do eleitorado paulistano, contra 25% de Dilma e 22% de Marina Silva. "Está bom para a largada", diz o ex-deputado e ex-chefe do programa de governo de Serra, na campanha de 2010, Xico Graziano, hoje instalado no Instituto FHC.
A preocupação atual do PSDB é o que Aécio pode fazer para "vazar" a eventual candidatura da ex-ministra Marina Silva, em crescimento regular e constante desde junho, o mês das grandes manifestações. No cenário mais provável da pesquisa Datafolha divulgada domingo, Dilma tem 35%, Marina 26% e Aécio 13%. Os tucanos agora apostam na propaganda partidária, em setembro, para Aécio dar um salto nas pesquisas de opinião em outubro, já então com um quadro mais bem definido em relação a 2014. O PSDB fez aposta parecida no primeiro semestre, mas a propaganda aecista foi tragada pelas manifestações de junho.
Outubro é o primeiro prazo eleitoral importante a vencer: até o dia 5, um ano antes da eleição, Serra deve decidir se troca o PSDB por outro partido, o PPS, ou se fica e aguarda melhores dias. Sua posição já foi pior, como logo após a derrota para Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Atualmente, pelo menos seu nome voltou a ser pesquisado e aparece um pouco mais bem situado que Aécio, embora o índice de rejeição do senador mineiro seja bem menor.
Tucanos atribuem a grande rejeição de Serra parte à sua personalidade e parte ao fato de ele ter personificado, de uma certa forma, o antilulismo nas últimas eleições. Não foi à toa que Serra começou a campanha de 2010 tentando confundir o eleitor em relação ao apoio de Lula a Dilma. E Lula, como demonstrou o último Datafolha, continua sendo forte cabo eleitoral - entre os eventuais candidatos a 2014, seria o único a vencer a eleição no primeiro turno.
O dia 5 de outubro também é prazo fatal para Marina Silva. Para disputar em 2014, a Rede Sustentabilidade precisa de pelo menos um registro provisório até essa data. Gilberto Kassab, com mais estrutura e o apoio de governadores estaduais somente conseguiu vencer as instâncias burocráticas nos últimos instantes. O que fará Marina, se não conseguir registrar seu partido? A ex-ministra definitivamente entrou no radar do PSDB.
Se Marina for candidata, o PSDB terá de encontrar o discurso para "vazar Marina", como se diz no partido. Se não for, Aécio espera atrair seu apoio, e já há movimentos nessa direção. Evidente que a saída de Serra para concorrer por outro partido é um problema para o PSDB. As mediações até agora tentadas deram em nada. A decisão do ex-governador paulista é imprevisível. Sem uma definição mais precisa do quadro de 2014, Aécio tenta reforçar posições onde o PSDB é frágil, como o Rio, onde espera se beneficiar da disputa PT x PMDB, o Rio Grande do Sul e a Bahia.
Há grande mal-estar, entre os tucanos, em relação à denúncia de que um cartel formado por empresas multinacionais atua nas licitações do metrô de São Paulo, Estado governado pelo PSDB há cerca de 20 anos. Dá-se como certo que pessoas ligadas ao partido serão atingidas, mas que não aparecerá nada em relação ao PSDB ou seus candidatos e principais dirigentes, nesse período. Há reconhecimento de que a sigla terá prejuízo de imagem, mas a promessa é "botar tudo pra fora".
No momento em que esvazia as gavetas antes de passar o cargo, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel pode ter aplicado um golpe mortal numa das mais longevas oligarquias políticas do país, a dos Sarney, no Maranhão. Na última quarta-feira 7, Gurgel pediu ao TSE a cassação do mandato da governadora Roseana Sarney, por abuso do poder econômico nas eleições de 2010. Decisão um tanto tardia, é verdade, mas que deve ter reflexos nas eleições para o governo estadual em 2014.
O clã Sarney rachou. O nome mais bem situado nas pesquisas é o do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), mas o nome abençoado por parte da família é o de um secretário de Estado. Enquanto Roseana é acusada de gastar mais que o governador Sérgio Cabral (RJ) com o uso de helicópteros (R$ 17,8 milhões em 2012), o candidato antiSarney, Flávio Dino (PCdoB), navega por índices superiores aos 51% nas pesquisas de opinião
Fonte: Valor Econômico
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