Os políticos estavam em franca movimentação de tropas para a disputa eleitoral de 2014 quando o povo entrou em cena. As manifestações produziram, entre tantos outros efeitos, a suspensão daqueles ensaios. Agora, as massas refluiram e ficaram nas ruas apenas os grupos radicais e os vândalos. E, com isso, os partidos voltaram a testar suas armas. No Congresso, trocam denúncias, armam CPIs, empinam fatos e factoides. Dizendo querer apenas governar, a presidente Dilma Rousseff retoma a agenda de lançamentos e inaugurações.
As CPIs virão, não exatamente para apurar o que já está sendo investigado, mas para servirem de ribalta. PT e aliados preparam o sinal verde, no Senado, para a instalação de uma CPI mista do cartel dos transportes paulistas sobre trilhos, na era tucana, que na Câmara entraria em uma longa fila. Tucanos e satélites da oposição tentam responder com a CPI da Petrobrás, que o PMDB inventou para pressionar o Governo, e na qual pode agora tornar-se alvo, a partir das denúncias de que um diretor ligado ao partido pilotou ali um caixa dois de campanha. E, no mesmo dia em que o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, reafirma em Brasília que a espionagem universal vai continuar, para segurança dos americanos e de todo o mundo, os senadores resolvem também instalar a CPI da Espionagem. O que vão investigar, ninguém sabe, mas algum barulho se fará.
Apesar dos temas complexos que estão na agenda legislativa, o Senado ontem deu-se ao luxo de dedicar toda a tarde a uma troca de acusações entre os pares. Treze deles se sublevaram, em apoio aos senadores Randolfe Rodrigues e João Capiberipe: acusados de terem participado de um certo “mensalão do Amapá”. Já foram inocentados pela Procuradoria Geral da República mas, no Conselho de Ética da Casa, o processo continua aberto, permitindo que sejam atacados e caluniados no estado. Isso foi contado com discursos exaltados, que produziram réplicas não menos acaloradas.
Os campos opostos trocam chumbo e, ao mesmo tempo, guerrilham internamente. No PSDB, os serristas, que haviam se recolhido, agora ressurgem contestando a escolha praticamente certa do senador Aecio Neves como candidato a presidente. Dificilmente, reverterão o fato consumado pela unidade partidária em torno do ex-governador de Minas. O fogo amigo ajuda o outro lado, que começa a superar o mau momento imposto pelos fatos de junho. Na base governista, enquanto isso, prosseguem os conflitos com o Planalto, em torno do orçamento impositivo e da divisão dos royalties do petróleo.
Estas pequenezas, somadas aos desatinos desnecessários, como o uso de verba oficial para abastecer jatinhos, é que derruba a aprovação do Congresso e o mantém na mira dos protestos. Que arrefeceram mas não sumiram, ainda, da paisagem.
Olhar da Indústria
O pessimismo está passando e a indústria já pensa que o ano terminará melhor do que o esperado. O crescimento do setor pode acabar sendo de mais de 1%, chegando talvez a 1,5%. A avaliação vem do presidente da CNI, Robson Andrade, apontando as razões da mudança de humor no setor: o recuo da inflação trouxe mais segurança, a mudança no âmbio aumentou o conforto e a competitividade de alguns setores, e os editais que o Governo prepara para o segundo semestre geram boas expectativas. Apesar do adiamento do edital do trem bala, Andrade acredita que as concessões de rodovias serão muito bem sucedidas, assim como as dos aeroportos do Galeão e de Confins. Este, ele acha, ficaria mais atraente se o edital deixasse claro que o aeroporto da Pampulha não voltará a operar voos interestaduais. “Estas concessões, se concluídas este ano, terão impacto muito positivo sobre a economia, em 2014”, acredita ele.
De novo em cartaz
O STF retoma hoje o processo do mensalão, com o julgamento dos recursos apresentados pelos réus. Há uma mudança no ambiente do tribunal, e não apenas pela presença dos dois novos ministros, Roberto Barroso e Teori Zavascki. Entre os veteranos, alguns gostariam de rever “excessos” cometidos na fase da dosimetria. E o próprio presidente Joaquim Barbosa emite sinais de que terá, agora, um protagonismo mais moderado. O ministro Gilmar Mendes, pelas declarações de ontem contra os recursos, mantém-se na mesma sintonia da primeira fase.
Cadeira vazia
O procurador-geral da República Roberto Gurgel deixa o cargo amanhã, depois de participar hoje, pela última vez, do julgamento do mensalão, razão maior de seu mandato, na apreciação inicial dos recursos. Será substituído, interinamente, pela procuradora Helenita Acioli, eleita vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público, que lhe garante o posto de substituta oficial. A presidente Dilma parece não ter pressa em indicar o nome do sucessor de Gurgel.
Fonte: Correio Braziliense
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