Contaminação do presidente, militante da rejeição a precauções contra a doença, é pedagógica
A confirmação de que o presidente Bolsonaro foi infectado pelo coronavírus da Covid-19 tem diversos aspectos, devido ao cargo que ocupa e por ele ser a pessoa que é. O teste positivo feito no Hospital das Forças Armadas em Brasília, segunda-feira, apresenta um lado de lição para quem não se cansou de desdenhar da pandemia, preocupado apenas com seus efeitos no PIB e consequentes prejuízos ao projeto de reeleição em 2022. Essa postura levou ao descaso com os mortos pela doença — que se aproximam dos 70 mil — e familiares. A resposta “e daí?”, dada ao ser perguntado sobre o crescimento do número de óbitos, é a marca deste comportamento reprovável. Espera-se que a Covid-19 de Bolsonaro evolua na sua forma mais benigna e que ele se convença de que o fato de ter sido atleta não serve de blindagem contra vírus e outros patógenos.
O importante está no que tudo isso pode significar de aprendizado para a população. Por ironia, o grande arauto da falta de cuidados com a epidemia, chamada por ele de “gripezinha”, torna-se decisivo argumento de corpo presente a favor das precauções diante do Sars-CoV-2, indicadas por especialistas e ostensivamente descumpridas por ele.
Bolsonaro deveria reconhecer que sua contaminação dá razão a Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde que demitiu quando fazia questão de afrontar as orientações dos especialistas e do próprio Ministério.
Voltado apenas para as questões econômicas e políticas, foi contra a que a população praticasse o imprescindível isolamento social, só possível porque o Supremo garantiu o poder de governadores e prefeitos.
Depois de Mandetta, outro médico, NelsonTeich, pediu demissão do ministério por constatar que não faria o presidente voltar atrás em fixações como no uso da cloroquina contra a Covid-19, reprovada por testes científicos. Desgostoso com médicos, colocou um general de divisão no Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello, especializado em logística.
Irredutível diante da fundamentação lógica da exigência do isolamento social e agora, na fase de saída da quarentena, do fato de ser imprescindível o uso de máscaras, higiene constante e afastamento das pessoas, Bolsonaro, mesmo contaminado, demonstrou ontem que continua preso a convicções irreais, desmentidas constantemente pelos fatos. Inclusive pela própria contaminação.
Ontem, ao confirmar que seu teste dera positivo — melhorou, porque antes se recusava a divulgar os exames, norma para homens públicos em países sérios —, ainda minimizava a Covid. Para ele, uma espécie de “chuva”, que “vai atingir você”.
Informou ainda que no Hospital das Forças Armadas tomou cloroquina, em um merchandising irresponsável do remédio. A lição pessoal que o presidente recebe tem forte conteúdo educativo. Que ajude no convencimento de quem ainda se ilude com a suposta baixa periculosidade do vírus e dá ouvidos a quem não deve.
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