Folha de S. Paulo
Uma coisa se tornou ridiculamente outra e
vice-versa, e precisamos aprender a conviver com isso
Carmen Veronica, fabulosa vedete do teatro rebolado dos anos 1960, disse tudo: "Naquele tempo se enfiava a bunda dentro do biquíni. Hoje se enfia o biquíni dentro da bunda". A atriz Camila Amado resumiu a nova e difícil situação em sua profissão: "Quando jovem, eu fazia teatro para ganhar dinheiro. Hoje, preciso ganhar dinheiro para fazer teatro". E Tom Jobim assim definiu a diferença entre o Brasil e o Japão: "O Japão é um país paupérrimo com vocação para a riqueza. O Brasil é um país riquíssimo com vocação para a pobreza".
Em Portugal, quando nos pedem alguma coisa,
nosso gentil e obsequioso "Pois não" significa um peremptório
"Não". Já, ao ouvir algo de que duvidamos, nosso irônico "Pois
sim..." significa um afirmativo "Sim". Lá, as calcinhas
femininas são cuecas. As cuecas masculinas também. Por essas e outras se
acredita que somos dois países separados pela mesma língua. E o dramaturgo
Oscar Wilde dizia de seu colega George Bernard Shaw: "Shaw não tem um
inimigo no mundo. Em compensação, nenhum de seus amigos gosta dele".
Ficou famosa a frase de Jean-Luc Godard:
"A fotografia é a verdade, e o cinema é a verdade 24 vezes por
segundo". Mas Godard não contava com a inteligência artificial, que tornou
o cinema a mentira 24 vezes por segundo. E alguém falou outro dia do problema
da segurança em São Paulo: "Latrocínio era roubo seguido de morte. Agora é
morte seguida de roubo".
Um ecologista perguntou: "Pode-se
acreditar que, um dia, o ar já foi limpo e o sexo, sujo?". Claudio Manoel,
cardeal do ex-grupo Casseta&Planeta, definiu a nossa nova situação
institucional: "Antes, os políticos eram eleitos por votos. Hoje, por
devotos".
E quem não se lembra da cantilena de
Bolsonaro, "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos"? Conversa
para trouxas. Com sua campanha para reduzir o Brasil a um puxadinho dos EUA com
Donald Trump como síndico, Bolsonaro não demora a arrancar sua máscara de
religioso e, no desespero, acusar Deus de conluio com Alexandre
de Moraes.
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