Folha de S. Paulo
Senadores usam a força para tentar calar a
ministra
O que os senadores fizeram contra Marina Silva na
terça-feira (27) tem nome e sobrenome: violência política de gênero. No país
que em 2024 registrou 1.459 vítimas de feminicídio, o maior índice da série
histórica, o senador tucano Plínio Valério (AM) pensou ser boa ideia se negar a
se desculpar por ter desejado, em março, enforcar a ministra.
O presidente da Comissão de Infraestrutura, o bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO), afirmou que a ministra deveria pôr-se no seu lugar. Se o Brasil fosse sério, ambos já teriam sido repreendidos por quebra de decoro pela presidência da casa legislativa a que pertencem. A realidade, no entanto, é que casos similares acumulam notas de repúdio e nenhuma ação.
A boçalidade da masculinidade frágil dos
senadores não tolera escutar uma mulher negra, ambientalista e progressista em
posição de poder por mais de uma hora sem querer calá-la à força.
Senadores trataram a ministra Marina Silva
como a elite brasileira trata aqueles que considera, pela cor ou pela origem,
seus serviçais. Senadores violentaram Marina Silva por meio da humilhação
racista e misógina explícita com a mesma indignidade com que o Senado tem
violentado as leis ambientais e direitos de povos indígenas no país: humilhar
Marina Silva busca encobrir a boiada em curso e, ao mesmo tempo, enfraquecer a
ministra.
A violência política contra Marina Silva só
foi possível dada a falta de apoio político do governo Lula, o qual ainda não
possui uma agenda ambiental clara.
O governo Lula não orientou os partidos da
base governista a votar contra a proposta de licença ambiental especial (LAE),
que, na prática, permite empreendimentos "estratégicos" que causem
dano ao meio ambiente e ainda conta com apoio do atual ministro da Agricultura,
Carlos Fávaro. Trata-se da quinta derrota de Marina no Congresso, com aval ou
omissão do governo federal.
O Senado precisa decidir se quer que a imagem
do país do futuro sejam ministras achincalhadas em praça pública e o meio
ambiente violentado por leis feitas em benefício próprio dos senadores.
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