Folha de S. Paulo
Republicano anuncia medida que pode atingir
Moraes, mas esquerda tem oportunidade inédita para surfar no tema
Bolsonaristas comemoram o anúncio do governo
Trump de restringir o acesso aos Estados
Unidos a
quem "censurar" americanos, o que deve atingir o ministro Alexandre
de Moraes, do STF (Supremo
Tribunal Federal).
A medida expõe mais uma vez como a direita se
apropriou nos últimos anos da bandeira da liberdade de expressão. Mas ações
recentes do republicano nos EUA têm colocado em xeque a credibilidade dessa
narrativa e a possibilidade de direitistas em todo o mundo se apropriarem dela.
Em menos de cinco meses, o governo Trump barrou agência de notícias na Casa Branca, promoveu prisões com ameaça de deportação de estudantes que apoiam a causa palestina, cortou financiamento de universidades não alinhadas com sua visão de mundo e anunciou que fará uma checagem das redes sociais de candidatos ao visto estudantil.
As medidas têm sido fortemente criticadas por
confrontarem a Primeira Emenda, que oferece nos EUA uma proteção
muito mais ampla à liberdade de expressão do que a Constituição
brasileira —no caso americano, mesmo discursos discriminatórios são tolerados
desde que não configurem ameaça iminente.
É claro que medidas do STF adotadas nos
últimos anos com apoio do autodenominado campo progressista, como bloqueio de
plataformas e de perfis em redes sociais, ainda dão combustível à visão da
corte como censora.
Mas as ações do republicano em seu segundo
mandato concedem uma oportunidade rara para a esquerda reagir no front da
liberdade de expressão.
Diante do domínio da extrema direita nas
redes, seus adversários foram confinados ao papel de defensores da regulação
das plataformas, que logo foi tachada pelos críticos de censura.
Não ajudou o campo político do presidente
Lula o apoio a ditaduras de esquerda que perseguem opositores nem,
principalmente nos meios universitários, a mobilização de conceitos como
"lugar de fala" e a realização de protestos que impediram ou tumultuaram
discursos fora do que se considera o consenso progressista.
Pouco adiantava dizer que era o bolsonarismo
quem violava a liberdade de expressão ao atacar sistematicamente jornalistas,
colocar dados públicos em sigilo indefinido e pôr em risco até a possibilidade
de os cidadãos expressarem sua vontade pelo voto, como se viu pelas
investigações sobre a trama golpista.
Relatório da organização Artigo 19 até
colocou o Brasil como país
com maior maior avanço global em liberdade de expressão após a saída
de Jair Bolsonaro (PL) da Presidência da República.
Mas o bombardeio de discursos nas redes, a
suspensão de perfis com justificativas por
vezes questionáveis e imagens de tumultos e palestras sendo interrompidas
por grupos de esquerda em universidades deram combustível à narrativa
bolsonarista de protetora da livre circulação de ideias.
Agora é o governo Trump, aliado de primeira
hora dos Bolsonaros, quem retalia jornalistas que não seguem suas diretrizes e
produz imagens de estudantes com opiniões divergentes, ou nem isso, detidos
perto de campus universitários. A ver quem na política, se é que alguém,
ainda conseguirá se colocar como baluarte da liberdade de expressão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário