Valor Econômico
AL e Caribe estão mais bem posicionados
para apoiar o planeta na missão de evitar uma catástrofe ambiental
A mais importante fonte de atividade
econômica das próximas décadas será a economia do baixo carbono. Afinal,
teremos que praticamente reinventar em bases verdes quase tudo o que produzimos
e consumimos e o como consumimos. Esta espetacular transformação resulta da
necessidade e não de opção, mas estamos demasiado atrasados e corremos contra o
relógio para evitar uma catástrofe ambiental.
Em curto prazo, teremos que encontrar os meios para acelerar a transição para essa nova geração de produtos e serviços verdes, o que vai requerer condições de produção distintas das que temos hoje. Para isto, serão necessários muita energia verde, muita água e muitos minerais da economia do baixo carbono.
A América Latina e o Caribe (ALC) é a
região mais bem posicionada para apoiar o planeta nesta missão, já que vários
países já contam com matrizes energéticas bastante verdes, têm muitas das
maiores reservas de água doce e muitas das maiores reservas de minerais da nova
economia, como o lítio, níquel, cobre, grafite, terras raras e minério de ferro
de alto teor. A região ainda dispõe de outras condições de grande interesse
mundial, como a maior floresta tropical, vários dos mais importantes biomas, a
mais rica biodiversidade e enorme potencial para sediar grandes mercados
globais de créditos de carbono e de bioeconomia.
Mas os atrativos da região não param ali. A
ALC tem população jovem, muitos novos investimentos em energias renováveis,
imenso e crescente protagonismo no fornecimento global de alimentos, um rico
ecossistema de capital empreendedor e o powershoring para atender às crescentes
necessidades das empresas para esverdearem a produção. Ao não estar envolvida
em guerras e outros temas geopolíticos e ter boas relações comerciais com EUA,
Europa e Ásia, empresas operando na ALC não estão submetidas aos mesmos regimes
de intervenções, controles, proibições, discriminações e protecionismo, fatores
que têm trazido incertezas e instabilidades para os negócios em outras regiões.
A ALC também está se reposicionando em
temas de política econômica. A modo de exemplo, considere a inflação e a
política monetária, que hoje é referência de prudência e já não mais de falhas
de política. Bancos centrais independentes e ações decisivas têm contido a
inflação e, mesmo com mudanças de orientação política em eleições, os novos
governantes têm preservado políticas econômicas criteriosas.
Assim que não seria exagero considerar que
a economia da ALC já está relativamente mais bem posicionada na economia global
e, não por acaso, várias das suas moedas têm se fortalecido. É certo que a
melhoria na situação de alguns países da região resulta, em parte, de fatores
fora do controle de governos locais, como a guerra da Ucrânia e o levantamento
de restrições pós-pandemia na China, que aumentaram a demanda por produtos
alimentares e minerais.
Mas a estrutura única de oferta verde da
região combinada com mudanças na estrutura de demanda decorrentes de
compromissos ambientais, novas normativas, mudanças nas preferências dos
consumidores, maior responsabilidade social corporativa e novas tecnologias e
modelos de negócio estão conformando um desenvolvimento benigno que, muito
provavelmente, elevará os preços relativos de várias das commodities da região
e impulsionará o crescimento do PIB ao longo das próximas décadas, com impactos
potencialmente profundos nos termos de troca e nas balanças de pagamentos.
Essas características colocam a ALC numa
posição privilegiada para participar da economia mundial desde as novas cadeias
globais de valor (NCGV), que têm na resiliência e na sustentabilidade o seu fio
condutor, e já não focam apenas na eficiência. O powershoring e outras
vantagens comparativas e competitivas colocarão a região numa posição central
nas NCGV, em especial em setores intensivos em energia e em setores intensivos
em água, bioeconomia, minerais críticos, grãos e proteínas.
Empresas e mercados da região também são
outro atrativo para investidores. Muito embora muitas empresas persigam
políticas de menor alavancagem que as suas contrapartes, tenham balanços
relativamente mais prudentes, apresentem menores taxas históricas de
inadimplência e tenham enorme potencial de crescimento doméstico e regional, as
agências de risco limitam, muitas vezes injustamente, as classificações de
risco corporativo ao teto do risco soberano. Mas essa condição de subavaliação
já desperta atenção e cada vez mais investidores consideram países da região
como sítios especialmente atraentes para estratégias de M&A.
Ainda que muitas condições conspirem em
favor da região, nada disto garantirá êxito. Para converter todo esse imenso
potencial em resultados concretos, será preciso abraçar o crescimento
sustentável e sustentado como pilares da política econômica, implementar
políticas consistentes e coerentes, estabelecer e fortalecer marcos
institucionais e regulatórios, aumentar a previsibilidade jurídica, formar e
capacitar capital humano, investir em P&D, aumentar investimentos em
infraestrutura e em tecnologias digitais e encontrar fontes seguras e baratas
de financiamento de longo prazo.
Algumas economias da ALC deverão crescer já
nos próximos anos mais do que os especialistas previam. O Brasil, que é maior
economia regional, está levando adiante importantes reformas econômicas que
deverão dar ainda maior respaldo para o crescimento do país e da região. Os
mercados de capitais e a bolsa de valores já acusam resultados e a
classificação de risco e o custo do capital já apontam melhoras.
No ano passado, o Brasil recebeu US$ 92
bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), tornando-se o quinto destino
de investimentos do mundo; o México igualmente saiu bem na foto, tudo isto
apesar de os fluxos globais de IED terem caído em comparação com 2021. De fato,
surveys com CEOs e gestores de fundos globais estão olhando a ALC com crescente
otimismo e espera-se que o IED rompa novos recordes nos próximos anos. O setor
de petróleo e gás poderá ter importante papel a cumprir na transição
enquadrando-se nos marcos e compromissos ambientais e financiando a agenda
acima. Afinal, a região não pode se dar ao luxo de renunciar a esta enorme
fonte doméstica de financiamento.
Ao que parece, a ALC está especialmente
bem-posicionada para atacar as suas velhas chagas - a pobreza e a desigualdade,
ajudar o planeta a enfrentar muitos dos seus maiores desafios e gerar bons
resultados para os investidores. Assim que é quase inevitável pensar que o
êxito da ALC será o êxito de todos nós.
*Jorge Arbache é vice-presidente de setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF)
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