O Estado de S. Paulo
Na Cúpula da Amazônia que culminou
terça-feira com a assinatura da Declaração de Belém pelos chefes de Estado de 8
países, o mais importante não são avaliações do tipo “copo meio cheio meio
vazio” sobre a qualidade das decisões tomadas, mas o fato de que o Brasil, e
não só o governo Lula, não sabe bem o que quer em matéria de política
ambiental.
O governo está dividido sobre explorar ou
não explorar petróleo na Margem Equatorial. Está dividido até mesmo sobre
perfurar um poço a mais de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas apenas para
saber o que tem e poder decidir, com conhecimento de causa, se convém ou não
explorar produtos fósseis por lá.
Nem sempre um país tem decisão sobre tudo o que abrange a questão ambiental, que é bem mais ampla do que a da transição energética. Muitas vezes é necessária convergência política prévia para determinadas decisões. Mas, neste momento em que o planeta está queimando, é preciso sentido de urgência.
A falta de decisões tende a emperrar tudo e
a tornar o Brasil refém das decisões – ou omissões – de outros governos e de
empresas de todo tipo cujas atividades têm impacto ambiental.
Um exemplo: enquanto cada vez mais países
de blocos econômicos já definiram prazos para o fim das vendas de veículos a
combustíveis fósseis, o Brasil patina nessa área. Não sabe se vai continuar
bancando veículos a álcool, que só servem para rodar por aqui e não podem ser
exportados, ou se convém estimular decisivamente o carro elétrico.
Ainda nesse campo, o Brasil tem grande
potencial para a produção de lítio. E, mais uma vez, não há empenho para
determinar se o País deve ou não investir no desenvolvimento de baterias elétricas.
Enquanto espera, as multinacionais do setor automotivo vão adotando suas
próprias políticas que, em última instância, são determinadas pelos interesses
diretos de suas matrizes.
Outro tema é o desmatamento. Se é para
adotar o projeto do presidente Lula de desmatamento zero na Amazônia até 2030,
não há que esperar pela decisão dos outros. É criar as condições para que as
coisas funcionem como planejado.
Já há mais do que um simples consenso de
que o hidrogênio verde terá importante papel como fonte global de energia, da
qual o Brasil tem enorme potencial. Trilhões em investimentos estarão
disponíveis, desde que o País defina as regras do jogo para o desenvolvimento
desse mercado interno e avance na produção de energia limpa, sobretudo solar e
eólica em alto-mar, necessária para acionar usinas de eletrólise.
Se o governo Lula quer ter protagonismo
ambiental, não leva a nada seguir criticando aqui e lá fora políticas
ambientais protecionistas de países concorrentes que em outros tempos fizeram
do mar e do ar o ralo do mundo. Precisa saber o que quer e agir coerentemente
com a decisão que vier a ser tomada.
Um velho ditado talvez expresse melhor essa
condição: marinheiro nenhum deve lamentar o vento contra se não sabe para onde
quer navegar.
Um comentário:
Muito bom!
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