Chefe do esquema
desmontado pela PF é filiado ao PT; mais quatro são demitidos
Ex-advogado-geral
adjunto José Weber Alves teve seu patrimônio considerado desproporcional à sua
renda em sindicância feita pela CGU em 2008
Indiciado pela PF e
demitido pela presidente Dilma, José Weber é alvo de investigações há dez anos,
quando teve sua atuação como procurador do INSS posta sub suspeita. Paulo Vieira,
ex-diretor da Agência Nacional de Águas, apontado pela PF como chefe da
quadrilha, é filiado ao PT desde 2003 e foi candidato a vereador. Ontem, foram
demitidos servidores da Agência de Transportes Aquaviários e o inventariante da
Rede Ferroviária.
Investigado há dez
anos
José Weber, ex-número dois da AGU, teve patrimônio considerado
desproporcional pela CGU
Roberto Maltchik, Vinicius Sassine
RIO E BRASÍLIA - Indiciado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro,
sob suspeita de favorecer o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) com parecer
para legalizar a permanência do político na Ilha das Cabras, em Ilhabela (SP),
o ex-advogado-geral adjunto da União José Weber Holanda Alves teve seu
patrimônio considerado desproporcional à sua renda em sindicância feita pela
Controladoria Geral da União (CGU) em 2008. Ele foi relacionado em
investigações feitas no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos últimos
dez anos.
A sindicância sobre os bens de Weber, que era o número dois da Advocacia
Geral da União (AGU) até a deflagração da operação da PF, ocorreu em março de
2008, e teve de ser arquivada antes de sua conclusão, uma vez que a Justiça não
concedeu à CGU autorização para a quebra do sigilo bancário do servidor.
Levantamento identifica muitos imóveis
A sindicância foi feita após o nome de Weber aparecer numa série de
suspeitas levantadas dentro do INSS, órgão em que atuava como procurador. Como
a CGU não pode punir, foram encaminhadas informações à AGU para que Weber fosse
investigado. Só a AGU pode investigar a conduta de procuradores da União. O
levantamento identificou, entre os bens, quantidade expressiva de imóveis.
Para deflagrar uma sindicância patrimonial, o órgão do governo trabalha a
partir de denúncias ou de informações repassadas pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda com a
responsabilidade de combater o crime de lavagem de dinheiro.
Entre as denúncias que passaram a ser apuradas pela CGU e que resultaram na
abertura de procedimentos administrativos disciplinares, há relatos de
irregularidades cometidas de 1998 em diante. Naquele ano, Weber era
procurador-geral do INSS.
Contratos do INSS são investigados
A estratégia do procurador para barrar as investigações pela CGU foi
recorrer à Justiça. Em pelo menos duas ocasiões, ele obteve da Justiça Federal
em Brasília mandados de segurança que determinam a suspensão dos procedimentos
administrativos.
O Executivo investiga Weber por supostas irregularidades em dois contratos
do INSS com a Fundação Universidade de Brasília (FUB), firmados em 1998 por
dispensa de licitação. Seis procedimentos administrativos foram instaurados no
âmbito da CGU para investigar a participação de Weber no episódio, o último em
2009.
Os advogados alegaram na Justiça que os fatos prescreveram e conseguiram
dois mandados de segurança determinando o arquivamento dos autos. Mas a própria
AGU recorreu contra as decisões no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região
e reiterou que Weber precisa ser investigado. Ainda não houve uma decisão.
"O prazo prescricional deve ser contado só a partir de 2009. As
responsabilidades (de Weber) são caracterizadoras de infração
administrativa", afirma o advogado da União Rodrigo de Freitas Lopes, num
parecer que pede a suspensão de um dos mandados de segurança.
A manifestação do advogado da União é de 21 de outubro de 2011. Weber já era
o número dois da AGU e braço-direito do ministro-chefe da AGU, Luís Inácio
Adams. Enquanto o procurador buscava a Justiça para barrar investigações
administrativas, Adams conferia mais poder ao subordinado e o nomeava para
diversas funções, inclusive para representá-lo no Conselho Superior da AGU.
Apurações feitas pelo governo mostram que o nome de Weber é citado em pelo
menos cinco casos nos quais foram identificadas suspeitas de irregularidades no
âmbito do INSS. Em 2003, por exemplo, uma auditoria identificou supostas
irregularidades na suspensão indevida de execuções fiscais de débitos
previdenciários da Universidade Católica de Salvador. O cálculo da cobrança
cancelada indevidamente alcançaria R$ 70 milhões.
Débitos indevidamente cancelados
O relatório apontou que os débitos foram indevidamente cancelados, em
decisão com o aval de Weber. O cancelamento dos débitos foi anulado, mas a
cobrança da universidade não foi restabelecida. A auditoria identificou que no
período de atuação de Weber no INSS havia processos de cobrança de R$ 97
milhões parados há mais de um ano.
A CGU constatou que Weber deixou de executar ações de cobrança de créditos
líquidos que estavam extintos, mas que poderiam ser cobrados após registro de
novo número de crédito. Em razão dessas suspeitas, a CGU encaminhou a auditoria
à Procuradoria Geral Federal, para apurar o suposto envolvimento de Weber nas
irregularidades.
Em outro caso, envolvendo a empresa Miramar Empreendimentos Imobiliários
Ltda., em Santos, a CGU apontou prejuízo na permuta de imóvel do instituto com
a empresa, em operação cujo parecer foi aprovado por Weber. A apuração mostrou
que a empresa ofereceu uma promessa de construção de imóvel e terrenos
"que julgava convenientes". A Miramar não detinha, diz o relatório,
nem terrenos nem imóveis. A auditoria apontou o descumprimento de norma interna
do INSS para a realização de permuta de imóveis. O caso gerou processo administrativo
contra servidores do instituto. No caso dos procuradores envolvidos, Weber
entre eles, os documentos foram encaminhados à PGF para a possível instauração
de procedimento disciplinar.
Procurado, Weber não retornou as ligações.
Fonte: O Globo
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