Chefe do escritório da Presidência também consultou ministério
Maria Lima, Tatiana Farah
BRASÍLIA e SÃO PAULO - No guarda chuva do ex-presidente Lula, a
ex-secretária particular e depois chefe de gabinete do escritório da
Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha se associou a grupos
poderosos no PT e alçou voo incomodando muita gente dentro do governo,
inclusive a presidente Dilma Rousseff. Segundo interlocutores do partido, os
tentáculos da chefe de gabinete da Presidência da República iam além das
agências reguladoras identificadas pela Operação Porto Seguro.
Rosemary teria tentado influenciar em indicações e cargos da cúpula do Banco
do Brasil. No BB, ela teria operado em dobradinha com o ex-vice-presidente da
área de governo Ricardo Oliveira em disputa de indicações para diretorias do
banco com governadores petistas. Rose era muito próxima também do atual
presidente do BB Aldemir Bendine.
Quando Lula resolveu criar o escritório da Presidência, em São Paulo,
Bendine ajudou a providenciar as instalações e o local escolhido foi num andar
do prédio do Banco do Brasil. A relação de Rosemary, Ricardo Oliveira e
Bendine, segundo alguns petistas, começaram a ficar estremecidas no início
deste ano, quando foi deflagrada uma guerra interna no banco, com o vazamento
de dossiês que acabaram resvalando no atual presidente do BB.
Oliveira e Rosemary teriam se aliado para tentar aumentar seus poderes
dentro da instituição. Irritada com o episódio que ameaçava comprometer o
desempenho do banco, a presidente Dilma Rousseff chegou a cogitar, na época,
demitir todos os envolvidos na briga.
Ricardo Oliveira acabou sendo demitido e para o seu lugar foi o ex-senador
César Borges, com o aval do governador Jaques Wagner, numa operação da
presidente Dilma para acomodar o PR do senador Alfredo Nascimento (AM), que
ameaçava romper com o governo.
Numa disputa direta com o governador baiano, ainda na gestão de Ricardo
Oliveira, Rosemary estaria patrocinando a manutenção de José Luiz Salinas na
vice-presidência de Tecnologia da Informação do BB. Mas Jaques Wagner defendia
a indicação de outro baiano, Geraldo Dezena, técnico de carreira do banco.
Rosemary e Oliveira perderam, e Dilma nomeou Dezena. Rose não gostou e, de
acordo com petistas que acompanharam a briga, foi tirar satisfação com o
governador em uma de suas idas ao gabinete da Presidência em São Paulo.
- Quer dizer que o senhor agora joga contra o PT governador? - teria
questionado.
- Você me respeite! - reagiu Wagner, que teria rompido com a secretária
desde então.
Segundo fontes do governo, Dilma já estava incomodada com a desenvoltura de
Rosemary há algum tempo, mas a mantinha no cargo para não melindrar Lula.
O inquérito da PF revela que Rose também se comunicava com diversos
integrantes do governo e pedia favores. Ela também cobra dinheiro de Paulo
Vieira: "o Marcelo não me entregou os recursos combinados", se
queixa, em 28 de março.
Como Paulo Vieira tem interesse em uma rádio, Rose tenta acionar o
secretário-executivo do Ministério das Comunicações Cezar Alvarez: "Hoje
vou tentar falar com o Alvarez sobre a rádio... aguarde...", escreve
Rosemary a Paulo. A rádio em questão é a RMS Ltda, de Capão Bonito (SP),
investigada pela PF.
Ontem, Cezar Alvarez confirmou, por meio da assessoria, que "foi
efetivamente contatado em junho de 2012 por Rosemary Noronha a respeito do
andamento de um processo de alteração das especificações técnicas da rádio
RMS". Segundo Alvarez, a RMS havia proposto uma mudança de endereço de
instalação dos equipamentos e deveria passar por nova avaliação. Alvarez afirma
que a empresa teria de voltar a "entrar na fila, o que foi devidamente
transmitido à Rosemary Noronha".
Fonte: O Globo
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