Para o bem de todos e felicidade geral da nação, a Polícia Federal deveria
colocar na internet os documentos disponíveis do inquérito que resultou na
devassa dos computadores de Rosemary Noronha, chefe do escritório da
Presidência da República em São Paulo, e na prisão de cinco pessoas, entre as
quais os irmãos Vieira. Rubens, da Agência Nacional de Aviação Civil, e Paulo,
da Agência Nacional de Transportes Aquaviários.
Estava escrito nas estrelas que a doutora Dilma teria uma encrenca com os
amigos aerocratas de Lula. (O marido de Rosemary Noronha é assessor especial da
Infraero, sua filha era assessora de Rubens, ex-ouvidor surdo da Anac,
promovido a diretor de infraestrutura).
A rede denunciada pela PF chegou à sala do segundo homem da Advocacia-Geral
da União e, como joia de sua coroa, ia ao deputado Valdemar Costa Neto, que
acaba de ser condenado a sete anos e dez meses de prisão por suas malfeitorias
no caso do mensalão. Costa Neto sempre deu atenção a aduanas.
Quem se lembra dos vazamentos administrados pela Polícia Federal no episódio
de Carlos Cachoeira sabe que eles podem ser um mal a serviço do bem. Contudo,
quem se recorda da Operação Satiagraha sente um frio na espinha. Entre as
muitas maluquices do episódio, circulou a informação segundo a qual o
financista Naji Nahas tinha informações privilegiadas sobre mudanças na taxa de
juros dos Estados Unidos. Talvez tivesse também uma casa em Marte.
Grampos vazados produzem emoções, e os de Carlos Cachoeira expuseram a
amplitude de suas conexões. Há alguns anos, contudo, vazou uma conversa de
Paulo Maluf com a secretária eletrônica do advogado Marcio Thomaz Bastos. O que
ela provava?
Os vazamentos comprometem o processo judicial. Ora satanizam, ora aliviam o
demonizado depois que se verificam os exageros. Na sexta-feira, a companheira
Rose era acusada de ter recebido R$ 650 mil. Nos dias seguintes esse detalhe
sumiu. Na sexta, ela teria recebido ajuda para uma cirurgia plástica. Na
segunda, teria sido uma propina para operar o ouvido. A existência de 1.169
telefonemas do restaurante de Paulo Vieira para um número do Partido da
República, vazada no sábado, insinua muito, mas pode não provar nada.
Os vazamentos são desnecessários. Há documentos disponíveis e eles podem ser
postos na rede, para conhecimento público.
Ao julgar o mensalão, o Supremo Tribunal Federal deu um exemplo da
capacidade do Estado de punir malfeitores. Quis a sorte que esse sucesso
ocorresse ao mesmo tempo em que naufragava a CPI de Carlinhos Cachoeira,
iniciada depois de uma competente operação da PF. Num caso, deu-se o rigoroso
funcionamento das instituições. No outro, expôs-se a futilidade dos
espetáculos.
A quadrilha que tinha um pé na chefia do escritório de Lula e da doutora
Dilma em São Paulo permitirá o exame das relações criminosas existentes nas
duas agências reguladoras. Puxado, esse fio pode mostrar mais que a própria
investigação do mensalão, pois desta vez não há o atalho da fantasia do Caixa
Dois.
- Erro: Estava errada a informação publicada pelo signatário no domingo,
segundo a qual o senador Antonio Russo estava na bancada que repassou suas
dívidas com a Receita para a Viúva. Ele assumiu em junho de 2011, nada lhe foi
cobrado e, quando isso acontecer, pagará com dinheiro do seu bolso.
Fonte: O Globo
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